#4 – Agenda de namoro – O programador E-dating

A nossa Rosa-dos-Ventos….  simboliza os bons ventos do amor.

Não … não, não é o que hipoteticamente poderão estar a pensar! Não é nenhuma agenda a registar o nome dos namorados ou as respetivas datas de aniversários, ou ainda outro tipo de informações. A explicação dá-se mais à frente!

Depois do almoço, ficámos todos a descansar, a relaxar em amena cavaqueira enquanto se bebia um café e as crianças desentorpeciam as pernas, em modo corrida brincavam à “apanhada”. O tema era divórcio. A minha cunhada Aurora apesar de estar a viver uma separação amigável não deixa de sentir o fracasso, não é fácil desconstruir uma vida que se pensava que era para a vida. Um divórcio é doloroso, sobrevive-se mas como encarar a vida após divórcio, para mais com um filho, como lidar com as frustrações e os sentimentos, os nossos e os dos filhos – é o refazer de uma vida.

E conversamos, conversamos … e fui expondo em jeito de experiência vivida.

Desde muito nova que escrevia as minhas emoções e os meus pensamentos num diário secreto, era um momento único só meu, livre para escrever sobre mim. Quando comecei a namorar a sério, criei aquilo a que chamei uma “agenda de namoro”, como se fosse um diário de namoro, que mais tarde, “beeem” mais, já casada, evoluiria para “E-dating”, uma agenda em formato digital, que podia ser consultada, por ambos através do computador ou noutro dispositivo. Tinha como objetivo não deixar “cair” o namoro, alimentar o amor e não deixar a rotina conquistar espaço. Era o nosso programador para “to go out together”.

Uma primeira tentativa resultou em falhanço absoluto. Registava os eventos que achava interessantes, filmes em estreia, concertos, e bastante mais mas raramente conseguia os meus intentos. Muitas vezes porque o dito namorado não lhe apetecia ou não se mostrava disponível, ou tínhamos brigado ou porque a pequena mesada que nos cabia em sorte já tinha sido gasta, enfim, lentamente a agenda foi “morrendo”, “verdura” própria da juventude.

Cresci, casei e para não fugir à regra decidimos aumentar a família e ter filhos. A ocasião demorou mas chegou – estava grávida. A nossa felicidade era contagiante, anunciamos aos nossos familiares, amigos e colegas de trabalho, como se não houvesse amanhã.

E continuei contando … em jeito de história mas real.

Grávida já de cerca de seis meses íamos felizes a conversar entre nós a caminho de casa, depois de uma ecografia observada. De repente, o meu marido soltou a seguinte afirmação – “Espero que com o nascimento da nossa filha a relação entre nós não se altere, que a nossa individualidade enquanto casal seja preservada”.

Interessante mas estranha, pensei e disse: “Porquê? Estás a perfilhar que um filho não deve ser colocado em primeiro lugar? Discutimos o assunto…, sim passam a ser uma das nossas prioridades, na verdade todos os pais querem o melhor para os seus filhos, obviamente! Mas para nos afirmarmos como bons pais temos de construir uma base sólida e, é exatamente no bom relacionamento entre marido e esposa que está a base da família. O mundo da criança cresce nesta base, logo não temos de escolher entre ser bom pai/mãe e bom marido/esposa. Todos têm o seu lugar, direito à sua individualidade no grupo da família.

Eduardo Sá no seu livro “Quem nunca morreu de amor”, uma das minhas leituras de momento, diz que “Os pais são sempre excelentes pessoas, mas excelentes pessoas mal-amadas são sempre piores pais.”

A determinada altura da conversa, todos concordaram que muitos dos problemas que os casais enfrentavam era exatamente não terem arranjado tempo para namorar – é aquilo a que muitos chamam “crise pós-filhos”. Uns mantém um casamento de “fachada” com medo que mais ninguém se apresente ou enquanto o amor suavemente e lentamente desaparece, vivem um divórcio a prestações, como se de uma amizade colorida se tratasse e outros ainda porque simplesmente acreditam no amor e Querem Amar, encontrar alguém que os “adivinhe” por dentro.

E foi a partir daqui que o “E-dating” voltou a entrar na conversa.

Nos primeiros meses a nossa filha era a grande prioridade, depois paulatinamente reconquistamos os nossos papéis de homem/mulher, enquanto exercíamos o poder paternal.

A nossa filha vai fazer 8 anos e continuamos em modo de aprendizagem, a tendência é para nos deixarmos ir ao sabor dos acontecimentos e nem nos apercebemos do risco para a relação do casal. No final de cada dia o cansaço impera, a correria do dia com as tarefas, as atividades, os jantares para fazer, os banhos, trabalhos de casa para orientar, muitas vezes do tipo “XXXL”, não deixam tempo para nada. O casal precisa de reservar um tempinho para conversar sobre o “mundinho de cada um”, sentir a relação – “o nós”, o casal marido e esposa, não deixou de ser homem e mulher. É necessário aqui e ali arranjar tempo e combinar programas sozinhos ou com casais de amigos. Ou como esta viagem repentina sobre rodas que estamos a fazer. Matamos a rotina antes que ela faça estragos.

Com a ajuda do nosso “E-dating” reeditado, conseguimos fazer algumas “saídas”, idas ao cinema, jantar fora sozinhos ou com amigos. Cada um regista, insere eventos na agenda e elenca as prioridades, nem sempre é possível mas compromisso é para cumprir, salvo em casos extremos. É o nosso programador de serviço. Ajuda-nos a gerir a nossa relação amorosa, não como uma atividade curricular, não como uma obrigação, mas sim como um caminho a seguir – é a nossa rosa-dos-ventos, desenhada por nós e que simboliza os bons ventos do amor.

A vida do casal nunca mais será a mesma, até porque a família passou de dois para três elementos, namorar casados e com um filho entre nós, não é fácil e dá trabalho. Mas com sabedoria e amor é possível reinventar a vida do casal nesta nova família. Se pudermos não perder o amor tanto melhor, mas se não for possível terá de se ir à procura do amor noutro lugar, com coragem – viver sem amor não é viver.

A minha cunhada abraçou-me chorosa disse: Obrigada, pela partilha. Vou ficar com esta mensagem no meu coração.

Entretanto, os miúdos chegaram e perguntaram: Afinal quando vamos embora? Não chega de conversa?

E lá fomos nós à descoberta … de mais uma aventura entre família e amigos.

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