Este artigo ” A câmara fotográfica de João Paulo Barrinha” complementa a sua entrevista.
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Nas recreações da fotografia à moda antiga, utiliza uma câmara fotográfica de madeira que construiu.
Esta câmara fotográfica funciona com o mesmo processo dos laboratórios de fotografia a preto e branco amadores, que ainda hoje se podem encontrar em qualquer casa particular, já que podem ser montados em qualquer pequena divisão, com reduzidos custos e pouca necessidade de equipamentos específicos.
A única diferença que existe para a prática fotográfica amadora, em câmaras fotográficas de 35 mm, é que, aqui, não estamos a fotografar em rolo de acetato, mas sim, diretamente em papel fotográfico opaco, que no entanto, tem uma emulsão fotográfica em tudo semelhante à dos rolos de fotografia preto e branco, que conhecemos. E como tal, a primeira fotografia que é registada, é igualmente negativa.
Em resumo, este processo caracterizar-se por ser composto por uma emulsão fotográfica, à base de gelatina e sais de prata sobre papel. A gelatina, que serve somente de emulsionante dos sais de prata, é em tudo semelhante à gelatina que usamos nas nossas sobremesas, só que, esta é preparada especificamente para este efeito, e não tem açúcar.
Os sais de prata, são o brometo e iodeto de prata. Por ação da luz, esses sais de prata decompõem-se, formando-se minúsculos grãos de prata metálica, que ficam retidos na gelatina. E são esses minúsculos grãos de prata, escuros, que formam a imagem.
A imagem fotográfica é portanto, feita por escurecimento à luz dos sais de prata, ficando negativa. Ou seja: tudo o que, na realidade é branco (ou claro), na fotografia original fica preto, e vice-versa. E para que se veja uma imagem positiva, há que fazer sempre uma cópia, onde novamente se irão trocar os claros com os escuros, voltando os tons a ficar aproximados ao real. Portanto: para cada fotografia, fazem-se sempre duas: uma negativa (no momento da pose), e outra positiva, cópia feita posteriormente, voltando a fotografar o negativo, que para o efeito, é cocado à frente da objetiva, numa pala de suporte, especialmente dimensionada para o efeito. E é essa segunda imagem, positiva, que é entregue.
Mas neste processo, a imagem não aparece logo, assim que se fotografa. Ela terá que ser ainda revelada. Esses grãos de prata metálica que se formam só por ação da luz que entra na câmara fotográfica no momento do disparo do obturador (ou do click), de tão pequenos e poucos que são, não se vêm logo a olho nu. Para que tal escurecimento seja então visível, o papel fotográfico terá de ser mergulhado num composto químico denominado de “revelador” (à base de Metol e Hidroquinona), que irá ativar essa reação de escurecimento, fazendo acumular outros grãos de prata metálica, à volta dos que já lá estavam por ação da luz.
A imagem fotográfica
A partir desse momento, já se pode ver a imagem. Mas ela desapareceria em pouco tempo, se a expuséssemos à luz branca. Assim sendo, e para que a imagem estabilize, terá ainda que passar por um outro composto químico, denominado de “fixador” (à base de Hipossulfito e Metabissulfito de Sódio), que terá a função de dissolver todos os compostos que não se decompuseram em prata metálica, e logo, não escureceram. E assim também, depois de algum uso, esse banho acaba por ficar rico em prata, que poderá ser reaproveitada.
Tal como referido acima, todo este processo terá de acontecer integralmente às escuras, e neste caso, dentro da caixa da câmara fotográfica, sendo que, os banhos químicos têm de ser constantemente agitados, operação essa que se faz manualmente, com as mãos enfiadas em mangas apropriadamente construídas para evitar as entradas de luz.
Em ambiente de laboratório, podemos também usar uma luz vermelha ou de uma cor amarelada especial, mas porque esse processo fotográfico foi estudado para não reagir a essas cores. E no mesmo laboratório fotográfico, também se costuma usar um terceiro químico, intermédio entre o “revelador” e o “fixador”, que pode ser simplesmente água (por vezes ligeiramente acidulada com ácido acético ou sumo de limão), e que tem como únicas funções, a de fazer parar a revelação e evitar contaminação entre os dois compostos químicos, o que enfraquece a ação do fixador, e pode eventualmente, manchar um pouco a imagem.
De qualquer forma, seja em laboratório ou na rua, no final, as imagens terão de passar sempre por água límpida durante alguns minutos, para que sejam lavadas dos produtos químicos usados no seu processamento. E na rua, essa água costuma estar no balde em baixo da câmara fotográfica.
Leia aqui a entrevista: “À conversa com João Paulo Barrinha“.
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