A caminho da Azinhaga, percorrendo o nosso belo país, descobrimos importante património que contem pedaços da nossa história. A caminho da Azinhaga, terra de José Saramago, no município da Golegã, pudemos conhecer a Quinta da Broa. Admiramos a enorme casa branca e sóbria, a sua história e toda a sua envolvência. Parte dos terrenos desta quinta, situam-se na Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, atravessados pelo rio Almonda, um pequeno afluente da margem esquerda do rio Tejo. O edifício é belo, mas foi o nome de “Quinta da Broa” que despertou a atenção e nos levou a querer saber mais sobre a sua origem. Foi assim que descobrimos uma bela história de humanismo, de compromisso com o bem dos outros e que aqui partilhamos com os nossos leitores.
A quinta de Almonda
A Quinta da Broa tem origem na Quinta do Almonda, propriedade dos Condes da Ribeira Grande. Os Condes da Ribeira Grande eram descendentes de João Gonçalves Zarco, que em 1418 descobriu a ilha de Porto Santo. O título de Conde da Ribeira Grande foi atribuído pela primeira vez, em 1662, a D. Manuel Luiz Baltasar da Câmara, descendente de João Gonçalves Zarco, como uma mercê de D. Afonso VI, e 8º Capitão Donatário de São Miguel. Vieram para Lisboa em 1752 e partiram com a família real para o Brasil.
O Príncipe dos Lavradores de Portugal
Rafael José da Cunha, nasceu em Castelo Branco em 1792, no seio de uma família de agricultores, com estreitas ligações à Casa Real, muito novo ainda percorre a Europa, inteirando-se de grandes inovações no mundo agrícola. Em 1817, fixa-se na Golegã como agricultor, arrenda a Quinta da Broa e, passados dois anos, adquire-a a quinta. Reconhecido como um grande e prospero agricultor, passa a ser conhecido como o “Príncipe dos Lavradores de Portugal”.
Rafael José da Cunha revolucionando a agricultura no vale do Tejo, produzia cereais, vinho e azeite, e foi criador de gado bravo e cavalos. Em 1817 deu início à sua coudelaria, percursora do famoso puro-sangue lusitano.
De Quinta do Almonda a Quinta da Broa -Uma bela história
Rafael José da Cunha, conhecido na região pela sua prosperidade e generosidade, atraía os pobres da região, que afluíam à quinta pedindo esmola. Procurando um compromisso com o cuidado e o bem dos outros, a todos dava um pedaço de pão, broa. Foi a partir daí, que a quinta passou a ser conhecida pelo nome de Quinta da Broa.
Rafael José da Cunha construiu o palácio da Broa, cuja construção terminou em 1862, seis anos antes de morrer tendo sido sepultado na capela da casa. Sem herdeiros diretos, Rafael da Cunha deixou todo os seus bens a sobrinhos e irmãos, cabendo a Quinta da Broa a António José Tavares Barreto e aos seus quatro filhos. Desde 1991 é propriedade de Manuel Tavares Veiga que herdou a quinta da Broa, de suas tias.
Os cómodos da Broa
Logo após passar a Quinta da Broa, ao longo da estrada na direção da Azinhaga, é possível admirar a um antigo conjunto de casas de trabalhadores, que constituíam os “cómodos da Broa”. Atualmente estas casas encontram-se reabilitadas para turismo rural. Os cómodos da Broas inserem-se na Quinta da Piedade, onde se encontra a capela de Nossa Senhora da Piedade, reconstruída em 1710 após o grande terramoto.
A caminho da Azinhaga, terra de José Saramago que muito admiramos, terminamos com um seu poema.
Espaço Curvo e Finito
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José Saramago
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