O conceito de Branding, por Inês Lopes.
Dando Voz a Jovens, entrevistamos Inês Lopes que, a propósito do conceito de Branding, nos relembra a necessidade de tomarmos consciência das nossas decisões diárias.
“Os humanos têm o desejo de sentirem que pertencem a um grupo, daí seguirem uma certa religião ou crença. No limite, poderá dizer se que branding é a nova religião dos dias de hoje. Não só as marcas, mas também o consumidor é rei, é importante não esquecer que todas as nossas decisões influenciam, mesmo que indiretamente, a forma como o mudo gira.”
Portefólio: Inês Costa Lopes
Nós: Inês, atualmente e, em termos pessoais, como te defines?
Inês L.: Confusa, hahah !!!. É difícil definir-me especialmente porque ainda estou em fase de transição de vida. Estou a iniciar-me no mundo do trabalho. Por outro lado, acho que é também, limitativos termos apenas um “rótulo” como a “mãe”, a “estudante”, a “estagiária”, etc. Tento todos os dias ser a minha melhor versão, dar valor ao que tenho e tento esperar confiante, pelo o que ainda vai acontecer.
Nós: sabemos que, há alguns anos, concluíste em Portugal uma licenciatura em Gestão. No entanto, sabemos que enveredaste por uma área diferente fazendo, fora do país, uma licenciatura em “Fashion Branding”. Sentiste que era essa a tua vocação? Porque escolheste a área de Fashion Branding e quando surgiu essa vontade?
Inês L.: Quando acabei o secundário não fazia ideia do que queria e escolhi gestão porque basicamente dá os fundamentos para tudo. Enquanto fazia a licenciatura apercebi me que não queria passar o resto da minha vida a trabalhar num banco ou numa consultadoria.
Como surgiu a moda? não sei muito bem… acho que esteve lá sempre. No entanto, só tive coragem de tomar a decisão de que era o que queria passado algum tempo.
Nós: Sucintamente, o que é Fashion branding? Em que áreas de atividade económica se aplica o conceito e a prática?
Inês L.: Podemos começar pelo conceito de branding. Branding significa muito simplesmente, dar uma personalidade a uma marca. Nos anos 50 ou 60 a maneira como se publicitava um artigo era bastante linear: produto – anuncio na TV ou jornal – consumidor. Nos dias de hoje, com os canais disponíveis de informação e a imensa oferta de produtos, e muito mais difícil chegar ao consumidor desejado. Ter um bom produto não chega é preciso que quem compra tenha um beneficio emocional. Os humanos têm o desejo de sentirem que pertencem a um grupo, daí seguirem uma certa religião ou crença. No limite, poderá dizer-se que branding é a nova religião dos dias de hoje. Marcas com bastante influência têm o poder de mudar o mundo, este novo poder era algo que não existia há uns anos. Não só as marcas, mas também o consumidor é rei, é importante não esquecer que todas as nossas decisões influenciam, mesmo que indiretamente, a forma como o mudo gira. Comprar uma t-shirt a 5 euros na Primark não é simplesmente uma “boa” compra, porque por detrás dessa t- shirt estão milhares de pessoas e crianças a trabalhar em condições precárias, sem falar do volume de roupa que esta ou outras marcas parecidas, produzem.
Tudo isto contribui para um mundo poluído e injusto!
O ridículo da situação a que temos de estar atentos quando fazemos compras é que, nós os europeus ou americanos podemos ter uma t-shirt a 5 euros e depois gastamos 20 euros em cenouras orgânicas.
Resumindo fashion branding é tudo o que falei, mas em específico na indústria da moda.
Nós: Porque escolheste Amsterdão para concretizar essa licenciatura? Foi fruto do acaso ou havia algum conhecimento prévio que te fez decidir por esse país?
Inês L.: Foi um pouco fruto do acaso, na altura pesquisei diferentes hipóteses e a escola em Amesterdão foi a que mais me entusiasmou. Candidatei-me a Amesterdão e a um mestrado em Paris, mas no final fui a minha “gut feeling” e não me arrependo nada! É importante seguir o nosso instinto, normalmente é sempre a escolha mais acertada.
Nós: Face à tua experiência, frequentando estabelecimentos de ensino superior em Portugal e na Holanda quais as diferenças mais significativas que notaste na forma de ensino?
Inês L.: É muito difícil de comparar porque eu fiz estudos completamente diferentes. Em Gestão era tudo muito teórico e seguia uma estrutura de ensino, que a maior parte das faculdades fazem, meses de aulas e depois duas semanas de exames. Durante este período os estudantes tentam “empinar” todo o conhecimento transmitido ao logo do semestre com o objetivo de passarem nos exames. Fashion branding é um curso muito mais prático com aplicação direta nas nossas ações diárias, baseado fundamentalmente em projetos e, não tanto em exames ou em componentes teóricas. A maior diferença que senti foi talvez na dedicação e empenho, tanto dos professores como alunos, ao programa curricular. É uma escola bastante intensa onde tanto os professores como os alunos exigem muito deles próprios, o que cria bons profissionais, mas trás uma carga psicológica de stress para os alunos e por vezes isso pode não ser bom. Em Portugal achei que, a onda em geral, é mais descontraída. Mas esta é só a minha experiência, por isso não posso falar de forma generalizada para comparar os dois ensinos.
Nós: Realizaste algum estágio profissional enquanto estudante? Onde, como se concretizou e o que teve de mais significativo na aprendizagem das matérias escolares e da vida?
Inês L.: Sim, fiz um estágio em Londres durante 6 meses. É sempre bom ter um “reality check” enquanto estamos a estudar, o ‘mundo real’ é completamente diferente do mundo de estudante. Enquanto estudante temos uma liberdade de poder concretizar praticamente todas as ideias. Enquanto profissional temos que no sujeitar ao que o cliente impõe e muitas vezes a criatividade pessoal tem um peso menor. Depois do estágio dei muito mais valor a minha liberdade criativa e senti-me mais confiante com o meu trabalho pois durante o estágio desenvolvi as minhas “skills”.
Nós: A globalização das sociedades modernas transformou Amsterdão numa cidade multicultural. Essa diversidade de culturas faz-se sentir na faculdade e na vida diária?
Inês L.: Sim, claro que sim! E talvez a única cidade europeia em que se pode ter uma vida social e profissional ativa sem se ter que se falar a língua do país. Mesmo havendo muitas culturas diferentes em Amesterdão, os “quirks” dos holandeses mantêm-se, como jantar as 5 ou comer pão com manteiga e chocolate ao pequeno almoço. De qualquer forma, nunca me senti à parte ou pouco integrada na faculdade e na sociedade. Posso dizer que Amesterdão é a minha segunda casa.
Nós: O que há de mais interessante para, quem gosta de viajar e conhecer outras paragens, visitar/conhecer nessa cidade?
Inês L.: Depende do tipo de turista, há quem venha a Amesterdão para ver a “red light” e ir às “coffee shops” pois são dois motivos muito peculiares desta cidade. Há quem venha pela oferta cultural muito diversificada de museus e aproveitar os acolhedores restaurantes e bares. Se gosta de festivais venha com o propósito para um festival especifico pois ocorrem vários ao longo do ano. De qualquer forma, o património edificado, os canais, a paisagem e as tulipas são motivos mais que suficientes para uma visita à cidade. Antes de vir, treine as suas competências de ciclista pois a bicicleta é o principal meio de transporte dentro da cidade. No entanto, tem vários transportes disponíveis como os elétricos e o metro. Para percursos fora da cidade o melhor é ir até à Estação Central e utilizar o comboio. Nos arredores de Amesterdão há pequenas aldeias muito típicas que valem a visita. Também é muito agradável um passeio de barco pelos canais de Amesterdão.
Nós: É necessária alguma coragem para, ainda muito jovem, sair do país e do ambiente familiar, deixando para trás um espaço onde tudo é conhecido e de certo modo fiável e amigável, para partir rumo ao desconhecido. Quais os principais receios que sentiste?
Inês L.: Para ser sincera, o meu maior medo era começar a estudar e aperceber-me que não era essa a minha vocação e que não iria ser uma boa estudante e profissional em “fashion branding”. Mas depois dos primeiros seis meses soube que era o que eu queria e não tive mais nenhum receio. Evidentemente que estar um longo período fora do meu ambiente conhecido e sem os meus amigos por perto, me custou bastante principalmente nos primeiros meses. Como no primeiro ano quando cheguei a Amesterdão, fiquei instalada numa residencial de estudantes e havia mais pessoas em condições idênticas, acabou por ser mais fácil pois com convívio diário e com a ajuda mútua, ficou mais fácil a integração.
Nós: Sentiste que em casa, os pais te apoiaram na decisão de partir?
Inês L.: Sim, apoiaram a minha decisão. Principalmente a ajuda financeira 🙂 Sem esse apoio não teria conseguido permanecer em Amesterdão pois, embora seja relativamente fácil encontrar um trabalho, o nível de vida é elevado principalmente o aluguer de casa e os transportes.
Nós: Tens alguma personagem histórica/pública dos dias atuais ou do passado que te inspirem na vida?
Inês L.: Hum! Sim, algumas por vezes não são as pessoas em si, mas o que fizeram ou o que fazem que, no fundo, acaba por refletir a forma de ser da pessoa. Gosto bastante de cinema e um dos meus diretores preferidos é o David Lynch. Ele é multifacetado é um diretor, roteirista, produtor, artista visual, músico e também ator. É uma pessoa intrigante, pode até ser considerado por algumas pessoas um pouco perturbador, mas gosto muito dos seus filmes surrealistas e dos programas de TV Shows, com um estilo muito próprio.
Em geral aprecio pessoas que fazem aquilo que gostam e que têm entusiasmo, são sempre inspiradoras.
Nós: Como foram vividos os primeiros meses fora do país? Quais as principais dificuldades para adaptação a um novo ambiente, uma nova sociedade com costumes muito diferentes?
Inês L.: Talvez o mais difícil tenha sido habituar-me a andar de bicicleta para todo o lado. Demorou um algum tempo até conseguir usar só a bicicleta como meio de transporte e houve algumas quedas pelo meio 🙂.
Nós: O que te faz sentir mais saudades de “casa”?
Inês L.: A família e o cão! Depois vêm também, as saudades da comida dos amigos e do sol.
Nós: Terminada esta formação na área de Fashion branding sentes que concretizaste um sonho que a pouco e pouco ganhou forma? Quais os desafios que queres enfrentar daqui em diante?
Inês L.: O maior desafio que tenho é encontrar um trabalho que me entusiasme, me permita aplicar e desenvolver a minha criatividade e me concretize profissionalmente.
Nós: Gostavas de regressar a Portugal para viver e desenvolver a tua atividade profissional ou consideras que ainda não estão reunidas as condições para que isso ocorra?
Inês L.: Acho que é difícil, mas nunca se sabe. Está nos meus planos mais futuros.
Nós: Mesmo tendo ainda, um longo caminho profissional pela frente, queres deixar uma galeria de imagens de alguns trabalhos que tenhas realizado e que tenham valor para si?
Inês L.: Fica aqui o link para o meu portfólio: InesCostaLopes
Perguntas individuais de pura curiosidade
- A minha rotina preferida é … tomar o mesmo pequeno almoço, todos os dias.
- Uso o computador para … tudo
- Uso o espelho para … ter a certeza que não tenho restos de comida nos dentes e a minha cara esta aceitável para poder ir à rua
- Uma das melhores coisas da minha vida é … chegar a casa depois de uma viagem a acampar ou backpacking e poder tomar banho durante meia hora e dormir em lençóis lavados
- Entre sair à noite e ir ao cinema, prefiro … ir ao cinema
- O meu amuleto da sorte é … eu própria?!
- Um filme de terror que voltaria a ver … The shinning so good!!!
- A minha peça de roupa mais antiga é … todas as que estão na arrecadação de casa e já não uso
- A minha peça de roupa preferida é … varia de tempos a tempos, neste momento é uma camisa cor-de-rosa da Champion e os meus ténis pretos
- A minha cor de roupa preferida é … preto?!
- Algo melhor do que chocolate é … batatas fritas
- Adoro ver vídeos de …. Pequenos documentários no youtube
- Preferes acordar cedo ou tarde … tento acordar cedo
- A melhor coisa sobre a família é … a segurança
- Era capaz de passar horas e horas a … comer gelado e a ver filmes
- A melhor coisa que aconteceu esta semana foi… ir ao spa
- O meu hobby preferido é… hum! vários, entre estar com os amigos, cinema e cozinhar
- Um local inesperado onde passei a noite foi … a dormir num carro sem gasolina numa terriola em Espanha
- Se pudesse ser invisível ou voar por um dia, escolheria … invisível
- Quando penso em férias, a primeira coisa que me vem à cabeça é … praia
- Preferes um visual ao natural ou sofisticado … natural sofisticado
- Tenho pavor de … abelhas
- O local mais longínquo até onde viajei foi … Vietnam?!
- As minhas maiores paixões na vida são … tudo o que me faz feliz
- Um dos meus tesouros mais valiosos é … a minha mãe
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