À conversa com uma Jovem de 25 anos … que se atreveu na concretização de objetivos pessoais.
Inês S., um exemplo de uma jovem que cresceu num ambiente familiar de amor, onde aprendeu a ganhar asas para caminhar na vida, como pessoa independente, completa e comprometida com o que a rodeia.
No conjunto dos estados-membros da união europeia (EU), Portugal é o país onde os jovens, por motivos culturais e muito devido à crise financeira que o país tem atravessado, permanecem em casa de seus pais até uma idade tardia. Aí, têm o conforto de um amor incondicional e a garantia da satisfação das suas necessidades básicas. Esta jovem que vamos apresentar teve, desde cedo, sair do “ninho” e voar com as suas próprias asas que cresceram fortes nos exemplos de vida e nos valores/ensinamentos em que lhe foram transmitidos.
Nós: Inês diz-nos quem és, como te vês e te defines, atualmente?
Inês S.: Sou uma jovem a entrar no mundo adulto, bastante sonhadora e lutadora (mas acho que isso tenho a quem sair). Ainda me estou a descobrir…
Nunca é fácil falar de nós mas como sou uma pessoa que gosta de aceitar desafios, cá vai. Sou uma jovem de 25 anos que gosta da sua independência, daí ter desde muito cedo procurado trabalhar nas áreas que foram surgindo, atualmente trabalho num banco e faço um part-time num bar de um amigo. Sou humanitária, gosto de ajudar e preocupo-me com os outros, sou uma boa ouvinte, gosto de uma boa conversa e de uma boa gargalhada. Não me meto na vida de ninguém por isso não gosto que se metam na minha. Sou teimosa e temperamental, de natureza tímida mas também enérgica. Não gosto de me sentir limitada nem de me sentir solitária, prezo muito a minha liberdade e aprecio ficar algum tempo sozinha para poder restabelecer energias. O que posso dizer mais!? Gosto de gostar, sou sensível, feliz e boa rapariga, mas atenção não gosto que discordem de mim!
Nós: Qual o teu percurso académico? Sentes que fizeste a escolha certa em termos de formação académica ou há ainda algum tema bem diferente que, por paixão, gostarias de aprender?
Inês S.: Sempre gostei de matérias e disciplinas que puxassem pelo meu raciocínio, de ir mais além do que é visível. Abracei a área da economia, apesar de não ser a profissão com a qual mais me identifico (sempre quis a área da medicina), acho que fiz a escolha certa. Sou uma apaixonada em ajudar os outros e de certa forma, hoje que trabalho num banco, tento encontrar um equilíbrio entre a minha profissão e o bem-estar de terceiros.
Nós: Ao longo da tua juventude, para além de estudante, que outras atividades desenvolveste?
Inês S.: Desde muita nova que comecei a trabalhar. Sempre quis ser independente. Trabalhei em diversas áreas, desde da restauração a vigilante aeroportuário. A verdade é que todas as profissões que exerci até hoje me deram diferentes tipos de bagagem para o meu futuro.
Nós: Das atividades que desenvolveste, há alguma que te tenha dado especial prazer ou algum ensinamento para a vida?
Inês S.: De todas as atividades que exerci, a que mais gostei foi, sem dúvida, trabalhar com crianças, ainda que não com o espirito de um emprego/trabalho. Fiz de baby-sitter durante dois anos e ainda hoje acompanho a vida deles. É estimulante vê-las crescer, tornarem-se pequenos adultos. Acompanhar o seu desenvolvimento e zelar pelo seu bem-estar e no final ser reconhecida através de um afeto, é muito bom. O saber lidar com uma criança, nomeadamente, saber gerir comportamentos e as birras próprias de uma criança, estipular regras e fazer cumpri-las, saber respeitar a sua individualidade e ao mesmo tempo criar limites, tornou-me sem dúvida alguma uma pessoa mais responsável, mais disciplinada, mais calma e tolerante mas também mais carinhosa e preparada para assumir a construção da minha vida, do meu futuro.
Nós: Tens alguma história que te vincou particularmente, vivida em criança ou em jovem e que nos queiras contar?
Inês S.: Sim, lembro-me de uma história vivida com a minha avó. Para não fugir à regra… Era uma vez brincava eu no quintal da minha avó com os netos de uma vizinha, meus amigos, quando a avó me chama dizendo que só tinha dois iogurtes e que não chegavam para todos. Avisou-me que quando me chamasse para lanchar eu deveria ir para dentro de casa porque ela não tinha para dar aos outros meninos. Fiquei triste e fingi não ouvir e faltei à chamada. A avó foi então comprar mais e lanchamos todos juntos. Este acontecimento marcou-me porque a avó tinha razões para se zangar comigo e não o fez e mais tarde pacientemente explicou-me a importância da partilha. Era muito pequena mas não esqueço esta avó maravilhosa que me educou e ensinou a amar e a partilhar com o “outro”.
Nós: Estando a viver fora do ambiente familiar, quais as principais dificuldades sentidas? Quais os maiores receios e como os superaste?
Inês S.: Estar só. A principal dificuldade é saber estar sozinha, aprender a conviver comigo num espaço onde ninguém está, apenas eu, saber ultrapassar o silêncio de uma casa que habitualmente não é partilhada a três, exige maturidade emocional para se aceitar esta mudança e ter a atitude certa. Mas hoje em dia, uma chamada ou uma vídeo chamada permite amenizar e apaziguar o nosso espirito e calar o silêncio – uso e abuso da tecnologia para colmatar a saudade.
Nós: Que acontecimento vivido até agora, mais te fez crescer como adulta comprometida com a vida e com a sociedade em que estás inserida?
Inês S.: O meu trabalho é uma aprendizagem diária. Aprendi a escutar os outros, a ser mais recetiva e a saber lidar com algumas contrariedades, a trabalhar em equipa, ser criativa diante dos obstáculos, em suma, sair da minha zona de conforto. Estou comprometida em atingir sempre os melhores resultados para alcançar o sucesso em qualquer área que me envolva e para isso conto com todos os que me rodeiam – amigos, colegas, pais, familiares, porque juntos somos mais fortes. Viver em sociedade é criar essas relações em todas as atividades que realizamos, saber respeitar e aprender a conviver com os demais.
Nós: Quais os valores que te foram transmitidos no seio da tua família que te ajudam a suportar as dificuldades que, naturalmente, vão surgindo no dia-a-dia?
Inês S.: Abraçar a vida com coragem, entusiasmo, verdade, humildade, responsabilidade e autenticidade. Se o sucesso, as realizações e os elogios são importantes não se comparam aos valores da família e da amizade, estes sim são a prioridade. Os meus pais ensinaram-me – tu podes ser sempre melhor, não te contentes com menos do que podes ser. Esta é a minha força, valorizar cada momento da minha vida.
Nós: Citando Heródoto, filósofo grego, “A adversidade tem o efeito de atrair a força e as qualidades de um homem que as teria adormecido na sua ausência.” Para uma jovem em início de carreira é essencial aprender a lidar com as adversidades da vida. Quais os teus maiores medos? Com um obstáculo ultrapassado, confiança fortalecida? É um desafio “agarrar” a adversidade e ter êxito na vida?
Inês S.: Claro que sim, os desafios aguçam-nos a arte e o engenho, “empurram-nos” para a frente, fazem-nos lutar para alcançar os nossos objetivos, a responder de forma positiva, partir à conquista dos nossos desejos, das nossas vontades e sair vitoriosos e no fim fazemos a grande Festa. Saber que somos nós os principais atores da nossa vida, que vencemos mais uma adversidade é sentir orgulho e a felicidade em nós, é o reconhecer que podemos ultrapassar todas as dificuldades, assim o queiramos. A adversidade é uma realidade que acontece na vida de todos nós, somos colocados à prova constantemente mas são oportunidades de crescimento e fortalecimento pessoal que com coragem, confiança, combatividade e muita perseverança nos permite encontrar outros caminhos alternativos e sermos vencedores dentro da adversidade.
Nós: Para a maioria dos jovens, sair de casa dos pais para estudar é a primeira experiência longe da família. Não foi este o teu caso, podes referir o motivo que te levou a passar de uma cidade com quase 509 mil habitantes para outra com cerca de 40 mil?
Inês S.: Foi a aventura, a partida à descoberta de um novo “eu” e o agarrar de uma oportunidade de um emprego com futuro. Abraçar um estágio profissional num banco com boas perspetivas de me integrar nos seus quadros.
Nós: Vivemos num país onde, ainda hoje, os jovens têm alguma dificuldade em se emanciparem financeiramente. Sentes que foi essa necessidade de se afirmar na vida pelos seus próprios meios que te fez sair de casa dos pais? Ou foi uma necessidade de afirmação pessoal?
Inês S.: Ambas. Como já disse anteriormente, sempre quis ser independente, criar autonomia financeira. A oportunidade bateu à porta e, como se costuma dizer, eu agarrei-a com unhas e dentes (abri-lhe a porta e entrei).
Nós: Quais as vantagens e desvantagens de morar sozinha?
Inês S.: Adoro ter o meu espaço, fazer o meu próprio horário, comer quando e onde me apetece, dormir ou não dormir, eis a questão?! Dar jantares, dançar no meio da sala, enfim fazer o que me apetecer. A grande desvantagem são as tarefas domésticas, pois tenho de fazer tudo sozinha o que é bastante aborrecido (ihih) e por vezes, também temos aqueles momentos em que a companhia faz falta, não queremos estar sozinhas, mas estamos e aí o vazio da solidão faz-se sentir.
Nós: Almoçar ou jantar fora de casa, além de ficar caro, não é (tão) saudável. Foi fácil a adaptação, passaste a cozinhar e na dúvida um telefonema à mãe resolvia a situação? Adotas algum estilo de vida saudável, com hábitos alimentares sãos e a prática de exercício físico?
Inês S.: A minha mãe está sempre à distância de um clique. Ligo lhe muitas vezes para perguntar como é que ela faz determinada comida. Mas por mais que eu tente aproximar-me da sua receita, a comida dela sabe sempre muito melhor. Afinal a comida da mãe é sempre a comida da mãe. Mas atenção que o meu pai também é um ótimo cozinheiro J. Eu gosto de cozinhar e por isso tento seguir uma determinada dieta saudável, mas nem sempre é fácil. As tentações estão sempre ali ao lado.
Nós: Gerir uma mesada quando se está em casa dos pais será bem diferente de gerir um orçamento com um vencimento curto para tanta despesa inerente à sua nova condição “alone”. Como administrar, o que tiveste mesmo de aprender para gerir uma casa e um orçamento esticando o dinheiro até ao final do mês?
Inês S.: De facto, é muito diferente. Aprendi a dar muito mais valor ao dinheiro e a admirar a estratégia dos meus pais. Comecei a dar mais importância às promoções no supermercado e no comércio em geral, a dar atenção aos gastos supérfluos, a verificar da necessidade real da compra… Na verdade passei a aplicar alguns dos conhecimentos apreendidos em casa dos meus pais e a não ultrapassar o “orçamento”.
Nós: Apesar de tudo encontraste um bom ambiente e um cheirinho a família (vives próximo de alguns familiares) mas, ainda assim como se gerem as saudades da família e dos amigos?
Inês S.: Sim é verdade, tive algum apoio de familiares, o qual foi, sem dúvida, muito importante num momento, também, muito especial da minha vida – início de uma aventura e de uma nova vida. As saudades apertam sempre – mas quem são os pais que não querem ter uma casa de férias no Algarve?! Essa é a saída que encontrei para estes momentos, manter-me sempre em contacto com a minha família e programar viagens, minha ou deles, para minimizar a saudade. Depois é distrair-me com atividades construtivas, frequentar novos ambientes, conhecer novas pessoas, novas culturas, fazer novos projetos e apreciar os momentos simples da vida.
Nós: O teu testemunho pode ser inspirador para quem está a vivenciar uma experiência idêntica à tua – local novo, casa nova, emprego novo, sozinha em tudo. Pode-nos explicar como foi o teu primeiro dia de apresentação no local de trabalho, sentiste-te pequena e sozinha? Os nervos estavam à flor da pele? Qual o teu estado de espírito? Como geriste as emoções? Sentiste-te vitoriosa?
Inês S.: A agitação começou na noite anterior. De manhã surgiram as borboletas no estômago e os suores frios na coluna. A ansiedade instalou-se mas quando coloquei o pé dentro do banco, um novo “eu” renasceu. Era o meu dia, uma nova etapa iria começar. Nunca estive sozinha, sentia o apoio incondicional dos meus pais. Eles estiveram comigo desde o primeiro fim-de-semana desta aventura por terras algarvias. Apoiaram-me na minha decisão e lá estavam eles á minha espera em casa ao final do dia, com um sorriso nos lábios procurando saber como tinha corrido o meu primeiro dia. A excitação era imensa ao relatar todos os acontecimentos do dia, escutaram-me atentamente e tiveram o dom de me acalmar e dar conselhos para o dia seguinte. Não vou dizer que foi fácil mas foi muito gratificante, senti-me forte e determinada, feliz com a minha decisão e com a opção de entrar no mundo “novo” do trabalho, depois de ter acabado a licenciatura, e a ser recebida de braços abertos pelos novos colegas. E á medida que o tempo foi passando a sentir-me cada vez mais confiante e madura.
Nós: Quais as tuas expetativas pessoais e profissionais? Pensas continuar em Portugal?
Inês S.: A vida é imprevisível e o futuro só a Deus pertence. O meu foco neste momento é aprender e crescer profissionalmente e desenvolver as minhas competências profissionais e pessoais, estabelecer metas e objetivos a curto e a médio prazo.
Nós: Alguma vez pensaste que a experiência de viver sozinha, ao dar-te mais confiança e autonomia, poderá servir de “trampolim” para trabalhar noutro país? Sentes-te preparada para enfrentar a vida sozinha? Esta poderá ser uma forma de aprendizagem, de superar os medos, ultrapassar obstáculos e desenvolver competências?
Inês S.: Sem dúvida que sim. São experiências únicas que nos fortalecem, nos tornam adultos e nos preparam para a vida. É através destas experiências marcantes e gratificantes que partimos à descoberta do nosso propósito de vida. Mas uma coisa é certa: o caminho faz-se caminhando, e eu sigo… até onde as “pernas” me levarem e os sonhos me inspirarem.
Hucilluc pergunta e a reposta solta-se!
(pergunta de resposta rápida)
- Viver sozinho é uma escolha, uma descoberta ou uma libertação? Eu diria, a junção das três.
- A disciplina em que adormecia sempre … geografia
- Onde preferes fazer exercício, no ginásio ou ao ar livre? Ar livre
- Algo melhor do que chocolate é … tâmara seca
- Preferes acordar cedo ou tarde … cedo, aproveitar bem os dias
- Uso o espelho para … ver-me, olhar-me nos olhos
- Era capaz de passar horas e horas … em frente ao mar
- Se pudesse ser invisível ou voar por um dia escolheria … voar
- As segundas-feiras deixam-me … mal-humorada
- Quando penso em férias, a primeira coisa que me vem a cabeça é … é praia
- Algo que me motiva … ser rica (uma mulher rica e uma rica mulher)
- Mereço o prémio de … persistência e dedicação
- Se criasse um grupo musical, chamava-se … hipnosis (para ficarem todos hipnotizados com a minha música)
- O desporto que escolheria para ser um atleta profissional é … natação
- Os emojis que melhor me descrevem são … a rir
- Se tivesse uma animal de estimação exótico, seria … arara
- Gostava de reencarnar como … um pássaro
- Se fosse um palhaço chamava-me… hipnos (para me hipnotizar com boa disposição e fazer rir os outros)
- Depois de um dia duro, a melhor forma de relaxar é … ir exercitar o corpo
- Um dos meus tesouros mais valiosos é … o meu cabelo
- Adoraria saber ler pensamentos para poder … rir-me
- Volta não volta estou sempre a sonhar que … que estou noutro planeta
- A última selfie que tirei foi … com a minha mãe, no meu dia de aniversário
- Se pudesse ser uma celebridade por um dia, seria … Bill Gates (Por ser um homem inteligente e visionário que com apenas 19 anos fundou a Microsoft, pelas suas atividades filantrópicas – criou uma fundação que pesquisa sobre AIDS, entre outros, por ser um dos homens mais ricos do mundo mas que ainda assim é um homem de causas e faz doações multibilionárias)
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