“criadora de uma metodologia, a MHM – MORE Humanistic Methodology, que é composta de conceitos, técnicas e estruturas de trabalho centrada na transformação e desenvolvimento do ser humano…”
Qual o seu entendimento sobre o coaching? Como explicar o que é o coaching?
Coaching é uma abordagem de trabalho em que o coach conduz um cliente, denominado coachee, ao atingimento do seu objetivo pessoal ou profissional específico. Desta forma, o coach através do trabalho com a linguagem e perguntas, por exemplo, conduz o cliente a ultrapassar o que o limita, em termos comportamentais e de competências, para que ele atinja o seu objetivo desejado.
É uma criadora de assuntos centrados no ser humano. Pode-nos explicar o que significa?
Eu não diria que sou uma criadora de assuntos centrados no ser humano, mas antes, a criadora de uma metodologia, a MHM – MORE Humanistic Methodology, que é composta de conceitos, técnicas e estruturas de trabalho centrada na transformação e desenvolvimento do ser humano, a qual é usada na psicoterapia e no coaching, por exemplo.
Quais os ingredientes para o seu trabalho com os outros?
“Estar verdadeiramente para, com e pelo outro, acreditar que cada um de nós pode transformar-se e transformar o que não funciona e limita-nos na nossa evolução humana, e o profundo entendimento da natureza humana, que é um feedback que recebo constantemente, que vêm com anos de prática de trabalho, análise e desenvolvimento da metodologia.
Karina Kimmig, pode-nos explicar a metodologia utilizada no seu trabalho de coaching?
A MHM – MORE Humanistic Methodology contribui para o coaching e os profissionais de coaching em dois aspetos principais:
1 – Distinto do coaching, o cliente não é visto como um meio que existe para atingir-se objetivos. Mas antes, ao elevar o seu patamar de consciência pessoal, os objetivos passam a ser o resultado de uma mudança efetiva interior, a qual influência e alavanca todas as áreas de vida do cliente. Isso porque temos a experiência concreta que as pessoas pensam que “querem algo”, mas quando aprofundamos esse “querer”, ele é apenas uma fachada de um assunto, muito maior ou profundo, a ser trabalhado.
2 – O cliente tem resultados permanentes no seu processo de transformação. Muitos clientes fazem sessões de coaching e aquilo que supostamente foi trabalhado e que se pensa que foi resolvido, volta a emergir. Exemplo, imagine que procura um coach para conquistar o seu objetivo de ter uma dieta e manter-se na concretização disso. No processo de coaching irá estabelecer esse objetivo, terá tarefas e estabelecerá novas rotinas para moldar o seu comportamento, a ponto de substituir um velho comportamento ao novo. Na perspetiva da MORE Humanistic Methodology isso não funciona. Basta algo ocorrer no futuro, como agora com o COVID-19 e as restrições, que retorna ao hábito passado, pois como digo, a raiz do problema não foi mudada. E para mudá-la, é necessário um trabalho com várias dimensões como a emocional, estruturas de pensamento, vieses cognitivos, entre muitas outras.
Prefere um trabalho individual ou um trabalho coletivo com uma organização? Porquê?
“O que eu prefiro é conduzir pessoas para um movimento social maior.
Cada pessoa que desperte do seu sono profundo, como a bela adormecida que precisa do beijo do príncipe para despertar, que é o desenvolvimento da consciência, de uma consciência de si, e transforme-se, contribui para que evoluamos coletivamente. Mas essa consciência não vem de graça. Isso implica olhar para dentro, para o que limita, para o que não funciona, para o que não quer ver e alterar… abandonar o peso morto que carrega, fortalecer-se, centrar-se. E quando uma pessoa faz um processo destes, que é o seu processo para a sua vida, também gera um outro processo que é de impacto social, de querer viver numa sociedade melhor, de contribuir para a evolução social.
O veículo para atingir esse objetivo, ou seja, a forma, é o trabalho individual ou o trabalho coletivo, através de um curso aberto ao público ou numa organização, para conduzir pessoas nesse processo.
.
Quais os objetivos primordiais do trabalho que desenvolve com a MORE Humanistic Methodology?
Eu posso sumariar em 3 objetivos:
- Os objetivos são o resultado de uma mudança efetiva interior, a qual influencia e alavanca todas as áreas de vida do cliente que contribui para enfrentar os desafios e reveses, mantendo-se forte e centrado no seu interior.
- A abordagem da MHM é individualizada e com um olhar sistémico sobre o processo de autodescoberta e mudança do cliente. Isso significa que o nosso pressuposto é que cada pessoa é única e o trabalho com aquela pessoa deve ser personalizado.
- A MHM é tida como a nova geração no trabalho transformacional do ser humano, porque leva a pessoa a um despertar interior, com um processo de desenvolvimento da autoconsciência e da consciência social, o que contribui, de forma pragmática, para uma nova estrutura social, logo, para a evolução da humanidade.
.
Nas suas sessões já se deparou com situações difíceis e de sofrimento humano. É possível nos descrever uma dessas situações de “calamidade”?
Muitas situações difíceis e dolorosas para a pessoa. Já tive clientes que foram violados sexualmente, que viveram com pais, em que o pai bebia e batia na mãe, que presenciou parte da família – mãe e irmãos serem assassinados por um assaltante e muito mais. Mas um deles, foi um cliente que me foi encaminhado por um psicoterapeuta, que aos 35 anos, empresário, mas sentia-se perdido, sem visão de futuro, emocionalmente instável e não sabia o que originava isso. Ao trabalhar com ele, veio-lhe a memória de um evento ocorrido quando ele tinha cinco ou seis anos de idade, em que ele viu o seu pai e a sua mãe falecer à sua frente, no acidente de carro que tiveram. Desse acidente salvou-se ele e o tio. Embora ele conseguiu por anos seguir em frente, sem ter de realmente resolver isso e até criar a sua empresa, nos últimos dois anos, situações na sua relação marital e na área profissional despertaram um conjunto de tópicos não resolvidos com essa perda, e as consequências que isso teve em sua vida. Quando terminei o trabalho com ele, como foi atestado pelo psicoterapeuta – salvei-o da depressão a que estava à beira de ocorrer.
Existe uma tendência para as pessoas retratarem os mesmos problemas? Por exemplo, infelicidade, falta de tempo, exaustão de rotinas, dinheiro insuficiente, insolvência pessoal/profissional, falta de relações humanas ou procuram um nível abstrato/atípico/diferente de vida?
Alguns problemas colocados pelas pessoas são similares na forma, mas não no facto. O que quero dizer com isso é, quando alguém me procura, ou adquire o meu curso, quer resolver um problema que pode ser os referidos na pergunta, entre outros. Mas, como trabalho de uma forma individualizada, o problema real não é tão evidente para a pessoa. Vou dar-lhe um exemplo simples – a pessoa quer fazer um curso porque tem problemas em gerir o stress, mas na verdade ela não se valoriza e isso tem um preço alto que ela paga no seu trabalho e nas suas relações, o que lhe gera o stress. Mas o stress não é a causa do problema, mas a consequência de algo a ser mudado na valorização pessoal.
Existe um ser perfeito ou o ser imperfeito é o caminho a percorrer?
.
“O conceito de perfeito e imperfeito é subjetivo, definido de acordo a parâmetros muito próprios, influenciados pela cultura e as normas sociais que nos envolve, e a natureza nos evidencia isso a todo o momento. Uma linda flor que ao longe nos impressiona pela sua perfeição, ao olhá-la bem de perto, vemos que tem manchas, pequenas mordidelas numa pétala, mas é essa mistura de perfeição e imperfeição, dentro da nossa definição, que nos fascina.
A perfeição e imperfeição, são como forças que impulsionam a trilhar o caminho da vida. Na vida ambas coexistem. Por exemplo, uma máquina fotográfica no tempo vitoriano era o apogeu da perfeição de retratar a realidade numa fotografia. Mas se nós transportássemos algumas dessas pessoas para o nosso tempo que um telemóvel fotografa a realidade com extrema precisão, a perceção de perfeição alteraria drasticamente.
.
.Quando bloqueamos, quando nada funciona, o que deve uma pessoa fazer?
Esta é uma pergunta de difícil resposta, pois o que é sentir-se bloqueado para mim, pode não ser para si. Eu posso sentir-me bloqueado porque perdi o trabalho e não sei o que fazer, ou porque não sei qual é o meu propósito de vida, ou então, qual é o meu caminho profissional que quero seguir, o que realmente eu quero fazer profissionalmente que me faça sentir preenchido, ou ainda então, ter perdido o marido ou a esposa e sentir-se bloqueado em como seguir em frente sozinho. Dependendo da situação ou nível de bloqueio, questionar a fonte do que bloqueia pode ser uma ajuda, mas noutras não. Por isso, eu recomendo procurar um profissional competente para que ajude a encontrar onde está a fonte desse bloqueio, o que realmente o bloqueia para que possa mudar isso.
.
Karina Kimmig, quais as dicas que pode dar a quem pretende atingir os seus objetivos pessoais?
Da forma como eu trabalho com o cliente, geralmente os objetivos que a pessoa julga serem importantes ou desejados, após uma hora comigo, seja num curso ou numa sessão, alteram radicalmente. Isso porque
“temos muitas barreiras que nos impedem de realmente estarmos certos de quais os objetivos que queremos – tais como, vieses cognitivos, querermos ter algo porque achamos que isso resolverá o nosso problema, porque simplesmente crenças, educação, experiências emocionais significantes cegam e limitam a forma de vermos outras possibilidades, a motivação que nos impulsiona não vem da “alma”, entre outros aspetos.
Por isso, é importante ter um profissional experiente para apoiar na definição de objetivos pessoais.
.
Quais as qualidades que mais admiras num(a) coach?
Eu não restringiria ao coach, porque formei profissionais psicoterapeutas e coaches na MHM – MORE Humanistic Methodology. O que considero importante para quem trabalha num processo terapêutico, seja ele qual for, é a ética, o respeito e entregar o seu melhor para aquela pessoa, que é o seu cliente.
.
Qual a personalidade que te inspira no mundo do coaching? Porquê?
Neste tempo em que vivemos, o mundo do coaching é uma abordagem superficial (pelo que já expliquei anteriormente nas questões que colocaram), quer a tratar de um problema, quer no foco que é dado em demasia a objetivos mais materiais para atingir uma felicidade do que na aposta humana, que acaba por ser perder a contribuição ao crescimento pessoal do cliente e social. Essa é a razão que me levou a desenvolver a MHM – More Humanistic Methodology em 2006, pois eu trabalhava de forma mais profunda na raiz dos problemas e com um olhar mais amplo sobre diferentes dinâmicas da vida.
.
Karina Kimmig, a arte de ensinar é uma das suas virtudes. Nas suas sessões transmite a sua sabedoria com a razão ou com a emoção?
Com ambas. A soma da razão e da emoção é que manifesta a verdadeira sabedoria. A razão, a inteligência, ajuda a estruturar a experiência através de conceitos, transmitir o conhecimento profundo por forma a que qualquer pessoa possa compreender, e a analisar diferentes perspetivas de uma pergunta e resposta. A emoção ajuda a entender a motivação, como envolver o formando naquele conhecimento, fazê-lo vivenciar o que está a aprender. Sem a emoção, a razão é árida como uma região seca, e a emoção sem a razão, é como um rio que transborda, uma inundação sem barreira.
.
As metáforas e as histórias são um conforto para o cliente ou uma forma de pensar diferente?
Isso depende de quem as usa, como as utiliza e em que contexto. Já vi profissionais usarem a torto e a direito, por manter a atenção da pessoa, pois trata-se de uma história ou conto e iremos ouvi-lo, pois quem não gosta de uma história? Mas, a forma como eu aplico as metáforas tem objetivos muito específicos e que irá de acordo a cada cliente – pode ser que desejo que o cliente “desperte” recursos internos, ou quero ajudá-lo a ver opções e sair de um “beco sem saída”, pensar diferente, entre muitos outros objetivos.
.
As nossas histórias influenciam os nossos comportamentos?
De forma determinante. Os comportamentos são consequência de um conjunto de elementos e um deles é a nossa história de vida.
.
Karina Kimmig, na sua opinião como é que as pessoas, no mundo digital, conseguem sentirem-se bem com a imagem exposta?
Esta é uma pergunta que envolve vários níveis que moldam o “sentir-se bem com a imagem exposta”.
“Em primeiro, temos de entender quais são os valores que são enfatizados na sociedade, quais aqueles que são incutidos na educação, qual é a realidade e o que são as vivências da pessoa.
Se socialmente é motivada a figura esteticamente “bonita”, a cultura da aparência, de valorizar o vestir-se bem, o parecer bem, e ainda há uma história própria que afeta a autoestima e autoconfiança, resultará em dificuldades em gostar do que vê em si e de se expor ao mundo.
Por outro lado, temos uma exposição excessiva cuja intenção é “olhem para mim”, usando de tudo para obter atenção, que também faz parte dos níveis que referi – pessoal e social acima, e uma necessidade de lhe darem valor.
Sair dessa dialética, por exemplo, além do trabalho pessoal de cada um, teríamos de olhar de forma diferente a exposição da nossa imagem no mundo digital, e usar os meios como uma forma de interação e não de vitrine.
Assista aqui a um Vídeo de Karina Kimmig – É necessário despertar a autoliderança
.
Não perca a próxima conversa com Karina Kimmig onde iremos falar na sua vertente de apoio às organizações e de autora.
.
sites e contactos de Karina Kimmig:
Facebook: https://pt-pt.facebook.com/Karina.M.Kimmig
Site: https://karinakimmig.com/
Instagram: https://www.instagram.com/karinakimmig/
2 comentários em “À conversa com Karina Kimmig – Criadora”