À conversa com Susana Freitas – Sana Editora

O mundo da escrita e da edição de livros.

Susana Freitas, fruto do seu sonho, lançou com sucesso, o projeto de criar uma editora: a Sana Editora. É uma mulher determinada que procura guiar os seus passos na vida segundo valores que, também nós, consideramos essenciais para uma vida plena.

Queremos saber mais e partilhar a história de vida de Susana Freitas, os seus projetos e conhecer um pouco o mundo da escrita, da edição de livros e o trabalho da sua editora a “Sana Editora”.

Sou uma apaixonada pelo que faço, pela vida, pela minha filha e agora pela editora.

Descobri uma parte espiritual que não sabia existir dentro de mim.

Comecei a pintar. Com a pintura ganhei coragem para escrever e mostrar algo escrito por mim… a escrita levou-me à edição… é um percurso recente, mas rico em experiências criativas que me levam a desafios constantes”

Quem é a Susana Freitas, mulher, escritora, formadora, professora…? Pode explicar um pouco do seu percurso de vida?

Susana Freitas: Sou uma apaixonada pelo que faço, pela vida, pela minha filha e agora pela editora. Até aos 30 anos considero que tive uma existência muito apagada, simples e com muita “falta de coragem” para ser realmente eu, para mostrar o que realmente existe dentro de mim… e coloco entre aspas a falta de coragem não por ser cobarde, mas por ser insegura. Mas fiz um percurso arrojado em algumas áreas, licenciatura em geografia, professora no ensino regular, mestrado em Geografia humana, mas nada muito ousado em termos criativos. Aos 30 anos fui mãe e a minha mudança interior começou a acontecer. Não sei se o facto de achar que tinha que ter coragem para defender a minha cria, se fruto da maturidade normal da passagem do tempo, comecei a sentir necessidade de me desafiar. Virei-me para uma parte espiritual que não sabia existir dentro de mim. Comecei a pintar. Com a pintura ganhei coragem para escrever e mostrar algo escrito por mim… a escrita levou-me à edição… é um percurso recente, mas rico em experiências criativas que me levam a desafios constantes.

Escreveu e ilustrou a obra infantil “A menina e a sábia”, em 2014. Tem algum projeto de livro/s na gaveta?

“O Livro “A Menina e a Sábia” não nasceu para ser livro, era apenas um presente para a minha filha.

Neste momento realizo-me muito mais a editar.”

 

 

Susana Freitas: Eu sempre tive o sonho de escrever; escrevi algumas coisas que estão por terminar na gaveta. O Livro “A Menina e a Sábia” foi o primeiro que concluí, talvez porque não nasceu para ser livro, era apenas um presente para a minha filha, depois para as minhas sobrinhas (uma versão francesa) e agora para o mundo a versão bilingue e com banda sonora. Depois deste escrevi e ilustrei outro conto, no entanto está guardado. Neste momento realizo-me muito mais a editar.

Como e quando surgiu a ideia de criar uma editora? Quantos livros estão publicados pela Sana Editora?

“Comecei a fazer uma rubrica numa rádio local para promover livros e autores e tudo foi acontecendo naturalmente.”

Susana Freitas: A ideia surgiu depois de publicar a primeira versão do livro “A menina e a Sábia”. Até então, eu não conhecia nenhum autor publicado. Com a promoção do livro comecei a conhecer imensos autores e fui percebendo como estava o panorama editorial português e principalmente as dificuldades com que se deparavam os jovens autores, como eu. Comecei a fazer uma rubrica numa rádio local para promover livros e autores e tudo foi acontecendo naturalmente. Devo confessar que o insight que tive de criar uma editora me deixou assustada, mas o desafio foi maior.

Neste momento temos 25 livros editados e vários projetos em andamento.

Na sua opinião, o que distingue a Sana Editora de outras editoras? Ou qual a imagem de marca que ambicionam para a vossa editora?

“O que distingue a Sana Editora é o acompanhamento personalizado. Somos uma equipa em todos os momentos.”

Susana Freitas: O que distingue é o acompanhamento personalizado em todas as fases. Desde que o autor nos envia o seu original até que fica pronto para publicação, há meses de trabalho intensivo e sempre em conjunto. Depois do lançamento continua com as diversas apresentações e desafios constantes. Somos uma equipa em todos os momentos.

Temos curiosidade em saber qual o papel do editor na produção de livros, a escolha da obra que merece ser publicada, o papel crítico necessário, e tudo o mais implícito ao papel desse profissional. Pode caracterizar o papel de um editor?

Susana Freitas: Não sei qual é o papel do editor numa grande editora, mas numa pequena editora como a nossa, o editor é o faz tudo e coordena tudo. Claro que há trabalhos especializados que terão que ser realizados por quem realmente sabe: revisores, paginadores, designers; mas o editor é o elo de ligação nessa cadeia, desde que o autor mostra o seu original, à seleção, passando pela revisão e escolha dos materiais, estilo da paginação, designer, ilustração (caso tenha), capa, gráfica, acompanhamento na festa de lançamento, passando depois pela distribuição e promoção.

Tendo várias obras para selecionar como saber qual o livro a escolher para publicação?

Susana Freitas: Há alturas que temos que escolher intuitivamente. Ou seja, lemos a obra e tentamos perceber se esta e o seu autor se enquadram na nossa linha editorial, forma de ver, trabalhar e até princípios. Há autores que não se enquadram. Também privilegiamos muito o contacto presencial, marcamos reunião e muitas vezes, logo ali se percebe se será para avançar ou não nesta relação editorial. Temos que nos identificar.

Na hora da decisão entre livros qual a “palavra-chave” ou “juízo” que justifica essa tomada de posição?

Susana Freitas: Criatividade, paixão pelos livros e pelo projeto e vontade de se excederem.

No processo de edição qual o passo a passo completo ou quais as etapas envolvidas? Fazem, propõem alterações ou sugestões ao escritor? Não sendo aceites como atuam?

Susana Freitas: O processo é muito intenso e todos os intervenientes vão dando sugestões. Em caso de dúvida a maioria ganha. Mas nunca é necessário chegar a esse ponto pois, em decisões mais complexas, com uma reunião presencial de todos os envolvidos e com debate saudável de ideias, chegamos sempre a uma decisão, até porque há sempre algo em comum a todos: o enriquecer do projeto!

Quem elabora ou pensa na capa da obra, a editora, o autor ou ambos?

Susana Freitas: Depois de ouvirmos o autor (pois quase sempre tem algo em mente), o designer tenta concretizar uma capa que vá de encontro ao gosto de todos os envolvidos. Mais uma vez há debate de ideias e acabamos por chegar a consenso.

Quanto tempo demora desde que recebem um livro para ler até à etapa final, ou seja, remessa para a gráfica e consequente tomada de decisão para o lançamento da obra?

“nem sempre estamos preocupados com o tempo que demora, mas na concretização, que fique mesmo bem feito, a revisão, a paginação, com pormenores que agradem a todos e tentamos não pressionar muito as decisões com os prazos”

Susana Freitas: Infelizmente o que mais demora é conseguirmos ler todos os projetos que nos chegam. Depois de enviarmos a proposta ao autor (quase sempre depois de reunião presencial) demora entre 3 ou 4 meses até à data de lançamento. Mas no nosso trabalho, nem sempre estamos preocupados com o tempo que demora, mas na concretização, que fique mesmo bem feito, a revisão, a paginação, com pormenores que agradem a todos e tentamos não pressionar muito as decisões com os prazos. A não ser que haja já data de lançamento marcada e aí, é uma correria, até porque a gráfica também nos pede algum tempo para que nos possam responder com toda a atenção e cuidado a que estamos habituados.

Dize-se que o papel de um bom editor é ajudar a melhorar o trabalho do autor. Quer comentar ou dar a sua opinião?

Susana Freitas: O papel do editor é preocupar-se com pormenores que fazem a diferença no resultado final e que chega às mãos do leitor. Tem um duplo papel de defender e promover a obra do autor, mas também o resultado final para o leitor. Na realidade se o autor não fizer uma boa obra, nenhum editor consegue manter a imagem por muito tempo, mas se a obra não tiver uma boa edição, será mais difícil chegar e agradar ao seu leitor.

Todo o ser humano tem um potencial criativo. A criatividade ensina-se e estimula-se. Pela sua experiência, sente que a dificuldade é fazer com que a pessoa perceba que é criativa, saia da sua área de conforto e, sem medos, exponha ao mundo a sua arte?

“O sair da sua zona de conforto vem depois, quando começa a ter experiências novas, apresentações públicas, desafios e quando implicitamente, lhe é pedido que faça cada vez mais e melhor”

Susana Freitas: Quando o autor chega até nós, já fez uma parte importantíssima. Já criou e já tomou a decisão de mostrar a sua criação. Em alguns casos, ao trabalhar connosco sente-se mais confiante porque sabe que haverá sempre alguém a acompanhá-lo e com o objetivo que tudo corra bem.  O sair da sua zona de conforto vem depois, quando começa a ter experiências novas, apresentações públicas, desafios e quando implicitamente, lhe é pedido que faça cada vez mais e melhor.

Na área específica da escrita, como se pode ensinar alguém a trabalhar e a tornar a sua escrita criativa?

Susana Freitas: Ao fazermos a revisão, muitas vezes o autor vai percebendo erros que vai cometendo e começa a melhorar. A escrita criativa pode ser melhorada através de cursos e workshops, mas se o autor não tiver a criatividade com ele, o dom de escrever e tocar quem lê, julgo que isso não se ensina.

Para finalizar, resta-nos agradecer, mas não sem antes lhe pedirmos uma mensagem de inspiração para todos aqueles que querem voar na escrita e que tem muitas folhas e cadernos escritos mas que não se atrevem a “abrir as asas”.

“Seja na escrita, na ilustração ou em qualquer outra área, temos que lutar para estarmos bem connosco para depois estarmos bem com os outros”

Susana Freitas: A minha mensagem é mais no sentido de se desafiarem a serem cada dia melhores. Seja na escrita, na ilustração ou em qualquer outra área, temos que lutar para estarmos bem connosco para depois estarmos bem com os outros. Se a sua realização passa pela escrita, então arrisque! O pior que pode acontecer é continuar sem mostrar ao mundo, caso não seja aceite, mas nunca ficará com a ideia que poderia ter tentado e não o fez!

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