Para a fisioterapeuta Lídia Farinha a escrita é uma das suas forças. Lídia Farinha diz-nos que escrever um livro é um desafio, um passo de fé e de coragem, nas suas palavras:
“A escrita é o meu refúgio, com a efeméride da minha alfabetização, encontrei na escrita uma paixão, e desde então sempre gostei de me expressar através da mesma, na medida em que representa uma das formas de respeitarmos, sem barreiras nem juízos, o que verdadeiramente sentimos.
Quando escrevemos, o nosso mundo avança e é delicioso ver o quanto as palavras encontram sempre o seu lugar no texto. É uma honra poder consentir perder-me e reencontrar-me, “brincar” com as palavras, conjugá-las, e explorar as infinitas possibilidades na língua de Camões. Ao escrever, estamos a permitir que a nossa real essência se revele. E isso não tem preço, é de um valor incalculável. “
Como é que surgiu a escrita na tua vida? Em que momento e que motivo principal te levou a escrever o livro?
Como diz um dos nossos escritores contemporâneos pela qual nutro uma profunda admiração, César Ferreira: “Escreve. Com rumo ou não, escreve. Mesmo não sabendo o que irá sair, escreve. Escreve para que, pelo menos uma vez na vida, a história que desejas viver aconteça.”
Seguindo esta advertência, e atendendo ao facto de uma das minhas forças ser a escrita, desde os tempos da escola, sempre que entrava nos concursos de escrita, ganhava os prémios a que me propunha. Aos 10 anos, num concurso levado a cabo pelo departamento de Língua Portuguesa da Escola Básica que frequentei, por sugestão do meu professor de Português, participei com um dos meus textos e o mesmo foi selecionado para a compilação de um livro de histórias publicado à época pelas escolas do município de Sintra.
Sendo que Herança é aquilo que podemos deixar a alguém, ao passo que Legado consiste na marca que temos oportunidade de deixar na vida dos outros.
Enquanto professora e terapeuta, a minha preocupação é deixar uma marca, a minha pegada, na vida de cada vida que cruza o meu caminho.
Pegando numa analogia que o meu pai usa várias vezes, o local mais rico do mundo é o cemitério, é lá que é possível encontrar invenções nunca antes conhecidas, ideias e sonhos que jamais foram realizados, esperanças que nunca foram alcançadas.
Não quis que estas ideias, e este sonho acabassem no cemitério sem antes pelo menos tentar partilhá-los com o mundo.
Como surgir este projeto de escrita de um livro?
Um passo de fé e alguma coragem que se revelou numa missão de vida a nível profissional. Entre os meus queridos, costumo dizer que nasci para isto. São 15 anos de crescimento constante, que ultrapassaram uma crise económica global, uma pandemia e uma série de desafios pessoais e familiares.
Anos de trabalho, empenho e esforço, pois só desta forma se consegue a consistência. Neste tempo tive o privilégio de partilhar alguns dos momentos mais importantes nas vidas de inúmeras famílias. Com o meu trabalho, consegui aliviar muitas das suas “dores”, e juntos festejámos muitas alegrias e sucessos. Cresci muito pessoalmente também.
Conheci pessoas de diversas culturas, e é uma satisfação enorme conhecer tantas realidades um pouco mais de perto.
Um percurso muitíssimo desafiante, sempre com a noção de que a formação e o estudo permanente seriam os alicerces que me dariam novos horizontes, me ajudariam a fazer a ponte entre uma boa base teórica e uma experiência profissional versátil e robusta, um leque de oportunidades que me trariam novos desafios, novas dúvidas, com o foco de poder ajudar o próximo utente de uma forma muito mais eficaz.
Muitos casos de sucesso, muitos casos de insucesso (onde tanto se aprende), muitas histórias por contar (num próximo livro, numa próxima era).
15 anos depois, a mesma vontade de continuar a aprender, a mesma motivação e o mesmo deslumbramento com esta área. A consistência dá muito trabalho, mas só assim se constrói algo que valha a pena.
O meu objectivo continua a ser que cada cliente o seja para sempre (não no sentido de dependência dos meus serviços, mas que me tenha como uma referência a quem possa recorrer e recomendar aquando e se necessário).
Estar acima da média exige um serviço de excelência! E o meu standard é a excelência. Para tal, posso e devo conseguir impactar os meus pares a rumarmos juntos tendo em vista esta mesma “utopia”.
Quais os autores que te inspiram? Há sempre curiosidade em saber quais as obras/referências literárias que mais influenciaram um(a) autor(a). Queres nos revelar?
São vários os autores e as obras literárias. Diria que de uma forma mais abrangente a Bíblia Sagrada como manual de vida (condutas, valores, construção de referências).
Os autores que me inspiram: em primeiro lugar, a minha mãe – Leta Farinha, que apesar de só ter uma obra publicada, é a minha escritora de referência. Com uma criatividade inata, de pensar coisas novas, e uma inovação incrível de fazer, escrever e tornar realidade, ao materializar as suas ideias, um talento e uma vocação inacreditáveis para a escrita. É à minha mãe que devo o desenvolvimento deste talento (outra coletânea de histórias que daria outro livro), e tenho uma gratidão imensa por sempre me ter encorajado a escrever e com brio.
Quais foram as tuas inspirações?
Admiro pessoas competentes, com garra e talento para fazer acontecer. Admiro e tento modelar os melhores, e acima de tudo, os verdadeiros líderes, aqueles que vivem em alta performance e diariamente desenham as suas estratégias adaptativas para conseguirem estar sempre com um alto desempenho.
Foi aqui que vim buscar inspiração. Àqueles que diariamente me desafiam a ser cada vez melhor, a fazer nascer todos os dias em mim, a minha melhor versão, com todos os recursos que tenho, nas várias facetas que esta vida e profissão exige.
As minhas inspirações são também a minha família, são os professores com quem escolho aprender, para que eu possa ser uma mais valia e um fator de soma nas vidas dos outros.
São os utentes e famílias que confiam cegamente que eu posso fazer a diferença na vida deles, são os alunos e estagiários que cruzam o meu caminho e que me honram ao escolher acolher o meu legado para que eu possa ser uma referência nas vidas deles, são colegas de trabalho que através das suas qualidades, capacidades e ferramentas ímpares impactam a comunidade.
E, com toda a humildade que escrevo isto, também vim buscar inspiração à minha história de vida, a pessoa em quem me estou a transformar, tudo pelo que passei, senti e fiz… ao ter a coragem de fazer uma introspeção, e ao ler as entrelinhas que já foram escritas com bondade e afeto, é possível encontrar uma fonte insaciável de força e inspiração.
A ideia do livro surgiu depois de eu perceber que a cada estágio que orientava, dava por mim a ter necessidade de estar sempre a repetir-me numa série de temas e assuntos que para mim eram tidas como alicerces que um profissional da área precisa de ter consolidados.
Neste sentido, comecei por elaborar um passo a passo que rapidamente se transformou num guia/ manual de boas práticas para conseguir trabalhar aptidões como a segurança e a assertividade rumo ao nível da excelência, e a uma forma de trabalho de qualidade. Apesar de não saber quem são a maioria dos “meus” leitores, nem o impacto que o meu livro terá sobre as suas vidas, e como me disse um grande amigo, “a ideia que não te sai da cabeça, pode tornar-se num dos livros mais vendidos”.
Onde foste e vais buscar as tuas ideias antes de começares a escrever?
Ao longo do tempo, à medida que fui orientando estágios, e ao tratar colegas, neste caminho sistemático de constante reflexão sobre o que poderia ser uma fórmula vencedora para impactar quem me procura na tentativa de encontrar soluções, o que pode ser melhorado, como pode ser melhorado e de que forma posso ser uma referência entre os meus pares e uma autoridade dentro do meu mercado de atuação.
Senti necessidade de deixar escrito um legado para os terapeutas de hoje e para os terapeutas de amanhã, relativamente à consistência e à excelência da qualidade dos atendimentos que podem e devem ser praticados na área da terapia manual.
Uma das professoras que tive na faculdade dizia vezes sem conta que se orgulhava de que nós fossemos os melhores, independentemente do nosso nível. É isso que tento passar aos alunos que cruzam o meu caminho.
A minha interpretação de se ser O melhor, vai muito além da figura de estilo da comparação, bem como do conceito de ser-se muito bom e eficaz na escolha e no raciocínio clínico subjacente para a aplicação de técnicas ou métodos de trabalho… É o somatório de um conjunto de competências sociais técnicas e tácteis, talento, vocação, resiliência, vontade, dedicação, maestria e destreza imperativos que se tem que dominar aquando lidamos com seres humanos.
Podes dizer-nos como foi que descobriste este teu gosto pela escrita?
Considero que uma das minhas forças é a escrita, ou algumas formas de escrita.
Através da escrita consigo criar mais conexão comigo própria, representando uma forma incomparável de imortalizar a minha mensagem.
Nem sempre o caminho vem ao nosso encontro. Seguir o coração, sonhar em grande e ir à procura de superar metas. A vontade de voar tem de ser maior que o medo de cair.
Voltando a citar César Ferreira, este autor tem um conjunto de frases que para mim são bússolas orientadoras sobre esta temática, as quais partilho as seguintes:
“Quando a vida te der palavras vãs, escreve um texto.
Quando a vida te trouxer maus pensamentos, escreve um texto.
Quando a vida te entregar pontos de rutura, escreve um texto.
Quando a vida te fizer sentir que tudo perdeu o seu sentido, escreve um texto.
Quando, pela vida, a glória se manifestar, escreve um texto.
Quando, ao olhares ao espelho e veres quem queres ver, escreve um texto.
Escreve para que fique dito, registado, cravado no tempo.
Escreve para celebrar.
Escreve o que a tua alma dita.”
Pegando nestes conselhos sábios, fui somando palavras, ideias, e escrevi os meus textos. Compilei-os e este ano publiquei o meu primeiro livro sozinha.
Como foi o processo de escrita?
Foi uma jornada transformadora durante todo o processo, ter a “mente a fervilhar” e “os dedos dormentes” cada vez que pegava numa caneta, sempre que me sentava no computador, ou a cada momento em que escrevia umas notas no telefone, para transformar as minhas ideias em palavras. Toda esta vivência em silêncio foi uma chave mestra que me permitiu abrir portas e portões. Vivi na primeira pessoa, umas das melhores experiências da minha vida.
A nível interno, um dos processos de desenvolvimento pessoal mais incríveis dos últimos tempos, pois destrancou-me algumas das “portas da percepção”. Reflexão, maior autoconhecimento, possibilidade de ressignificar crenças e valores, entre outras.
A nível externo, um conjunto de proveitos desde conquistar autoridade e reconhecimento.
No fim de contas, vale todo o momento de superação assim que a minha obra ficou disponível para os outros.
Fizeste algum trabalho de pesquisa para escreveres “Informação complementar para tratamentos de sucesso”? Quanto tempo levaste a escrever o livro?
15 anos de trabalho, de erros, reflexões e de acertos. Muitas horas de consultas enquanto utente, outras tantas a tratar colegas, muito trabalho de observação “no terreno”, ao orientar estágios clínicos e perceber os maiores desafios que os finalistas sentem no contacto direto com utentes.
Comecei a escrever os textos com calma, mantendo a serenidade e sem a pressão de cumprir uma data limite, visto que absolutamente ninguém sabia do meu projecto. No dia em que fiz a compilação para perceber se haveria algo mais a acrescentar, dei ouvidos à minha voz interior e decidi que estava pronto a ser publicado.
No total, desde a sua concepção ideológica até ao momento da sua publicação passaram-se exatamente nove meses. Escrevia quando tinha algum tempo, quando as ideias surgiam e a inspiração começava a ganhar força, não num ritmo constante.
De que forma a fisioterapia te ajudou a chegares até aqui?
A Fisioterapia sendo a minha formação de base, foi o motor que me impulsionou, para que hoje eu possa estar onde estou. De outra forma, teria trilhado um caminho diferente.
Este livro não seria o mesmo se eu não tivesse a Fisioterapia como parte maioritária do meu ADN profissional.
O somatório da minha experiência enquanto utente assim como profissional de Fisioterapia, foi a estratégia basilar que potenciou a criatividade, o foco, a organização e a resolução de um conjunto de soluções que me têm ajudado a alavancar os meus resultados ao longo do tempo.
As memórias do trabalho de equipa dos fisioterapeutas e terapeutas manuais contribuíram para algumas dicas?
Sem dúvida, inspirei-me na minha experiência pessoal de trabalho, já tive a oportunidade de trabalhar em diversos locais, com diferentes equipas.
Conheço colegas incríveis, com características ímpares, pessoas que são profissionais de excelência, com muito talento e vocação para a profissão.
Neste tipo de equipas, juntos somos mais fortes do que a soma das nossas partes, e quando a equipa está alinhada no mesmo propósito, os resultados são quase sobrenaturais, ao incorporarmos a ideia (aparentemente óbvia) de que só faz sentido existirmos enquanto profissionais, para empoderar os utentes, famílias, comunidades e a sociedade.
Houve alguma hesitação na escolha do título?
Houve muita, foi a frase mais difícil de ser escrita, e se pudesse voltar atrás, depois de algumas vendas, talvez tivesse escolhido outro título. Porém, no momento em que decidi o título, imprimi no mesmo este desejo de passagem de um legado que também recebi e continuo a receber das minhas referências, e que é o meu mote de trabalho: transformar cada momento na minha presença, quer consultas como aulas, numa experiência memorável. É esta a ambição que almejo deixar para as gerações atuais e vindouras de terapeutas manuais.
O que significa este livro para ti?
Este livro representa uma semente que desejo deixar, para em conjunto com outras tantas, dar um contributo para a construção de alicerces sólidos dos terapeutas de hoje e de amanhã.
A sociedade está doente, a vários níveis, e muitas vezes os terapeutas têm chaves mestras em mãos, mas ou não as sabem utilizar ou não estão despertos para a necessidade de as poderem usar, nem para o alcance que teriam ao dominá-las com proficiência, destreza e maestria.
Informação Complementar para Tratamentos de Sucesso visa trazer à consciência aspetos básicos a ter em conta para que cada consulta possa ser transformada numa experiência memorável. Quanto mais completo for o espectro de competências de cada terapeuta manual, mais respostas serão possíveis de ser dadas a cada utente, família, comunidade e sociedade.
Quanto maior for o impacto que este livro conseguir causar na vida de cada terapeuta e de cada utente, mais bem-sucedido será o produto final de cada consulta, gerando assim um contributo para a mudança de paradigma a nível da qualidade de cada atendimento.
Sei que pode parecer bastante utópico e ambicioso, mas é a ambição que move os grandes profissionais. E este processo não é assim tão simplista, na medida em que cada um de nós imprime todo o seu sistema de crenças em tudo aquilo a que se dedica.
Quando estou com um utente, a pessoa mais importante da minha vida naquele momento, é aquele utente.
Este livro pretende, através de uma comunicação simples e descomplicada, trazer à tona aspetos do senso comum que na maioria das vezes são negligenciados e substituídos de forma paupérrima, apenas e só, pela realização das “técnicas do catálogo”.
As pessoas compram de pessoas, seja bens ou serviços. Um terapeuta é muito, mas muito mais do que um executor de técnicas. É um ser humano, com competências e à partida com vocação para ajudar outros seres humanos, que teve a oportunidade de aperfeiçoar-se e trabalhar competências técnicas, ou seja aprendeu a percorrer um caminho para atingir objetivos, e estudou o manuseio de um conjunto de ferramentas que lhe permite aperfeiçoar esse caminho.
Este livro traz alguns sentimentos para a prática terapêutica?
Uma das minhas pessoas de referência um dia disse-me: “Quando alguém questionar as tuas competências, mostra-lhe os teus resultados”.
Depois de eu ter publicado o meu livro, sinto que consegui resignificar a minha missão enquanto Terapeuta. Se já tinha claro o propósito que decidi abraçar, com o processo de escrita do livro e depois de o publicar, consegui abrir mais algumas da minhas portas da perceção. Isto é uma sensação indescritível.
A tomada de consciência de que com a minha obra, posso contribuir para de alguma forma ajudar muitos estudantes e profissionais, não tem preço.
Partilho um dos feedbacks que recebi de um amigo e colega de profissão, e que guardo com muito carinho “Lídia, tudo o que passaste, superaste, quem te tornaste… já imaginaste o que é ajudares pessoas a superarem dilemas semelhantes aos teus só porque leram o teu livro? Se isto não é ajudar o mundo a avançar, não sei o que é”.
Quais os ingredientes que utilizaste para escrever livro?
Acredito que uma das formas mais audazes de criar ancoragem a um texto, é quando o mesmo nos desafia a pensar e a sentir de modo diferente. Incutir novidade e surpresa num texto é permitir ao leitor entregar-se à narrativa, deixando-se guiar pelo que acontecer, dentro de si, ao ler.
Desta forma, tentei manter uma linha condutora, que permite facilmente aos leitores experienciar a narrativa.
Mantive um alto nível de exigência, pois uma das grandes missivas dos meus autores de referência é superarem-se a si mesmos.
Tenho vindo a fazer um investimento contínuo na minha aprendizagem ao longo da vida, ter um apetite insaciável por conhecimento, doutra forma, a profundidade que procuro não será possível.
Usufruí do silêncio. É uma mais-valia quando se escreve, houve muitas linhas chave que surgiram escritas no silêncio.
Existe alguma inquietação que tenha aparecido no teu livro?
Houve sim, o facto de se escrever para que alguém leia, não quer dizer que tenhamos de satisfazer as expectativas dos outros, ou seja, é importante partilhar o que se escreve, desde que a nossa autenticidade seja salvaguardada, e na realidade a minha intensão foi expandir os “meus” leitores.
Quando se escreve para os outros, é fundamental recordar que esses têm um rosto. É essencial perceber para quem se comunica, e que, o que escrevemos, entra no universo de quem ler.
Publicar um livro implica, para um autor, a exposição. Existe sempre a hipótese de se considerar que ficamos fragilizados quando nos expomos. Porém, é também normal aprendermos a lidar com “esse” desconhecido e assumirmos as rédeas do processo.
Embora um livro seja uma extensão do seu autor, não quer dizer que o mundo inteiro tenha de o ler e mesmo de o apreciar. Talvez o maior acto de humildade de um autor seja assumir que a sua obra somente estará nalguns corações, e está tudo bem!
Em algum momento sentiste que não irias conseguir acabar de escrever o livro?
Não, quando me proponho a alcançar um objectivo, “faço das tripas coração” para fechá-lo com chave de ouro em tudo aquilo em que assino o meu nome. Faço acontecer.
No dia em que senti que estava mais que na hora de começar a materializar o meu sonho sob a forma de palavras escritas, soube desde o primeiro momento que seria um projecto para acabar.
Uma das razões que me levou a ter esta rotina, foi a necessidade que tive em resignificar os vários acontecimentos diários na minha prática clínica e de docência.
Desta forma, pegar nas situações diárias e dar-lhes uma roupagem diferente, permitiu-me experienciar outros pontos de vista.
A melhor história é aquela que, a meu ver transcende o óbvio, mesmo que parta desta.
Deste a ler o original a várias pessoas antes de o enviar para a editora?
Não, não o dei a ler a ninguém, escrevi, compilei, li, reli e publiquei. Absolutamente ninguém sabia que estava a escrever este livro, foi uma jornada individual. De crescimento, expansão, reflexão e inspiração.
Apenas publiquei e depois avisei o mundo. Hoje, se pudesse voltar atrás tê-lo-ia feito.
Sobretudo depois de ter sido honrada com o voto de confiança de vários amigos e colegas de profissão que para me apoiarem compraram o livro, leram e deram o seu parecer.
Quando publiquei o livro fui acolhida com um carinho enorme, de uma forma que nem nos meus melhores sonhos algum dia imaginei vivenciar.
A edição, a revisão e o teste do livro por beta readers, são muito importantes, sobretudo quando pensamos que um livro é apenas um ponto de partida para algo maior.
Numa próxima oportunidade, darei o original a alguns destes amigos pois as opiniões certas permitem explorar novas perspetivas, ganhar nova consciência, e produzir novas respostas comportamentais que geram novos resultados.
Os autores são influenciados por tudo o que veem, vivem e leem. Os leitores com curiosidade, quais as referências literárias que devem utilizar para alcançar o teu livro?
Pelo facto do livro ser tão recente, não sei se já existem referencias literárias para se alcançar o meu livro.
Esta obra para terapeutas manuais tem uma dedicação em especial?
Aos utentes, famílias, comunidades e sociedade que está sedenta por, e carece de atendimentos de qualidade.
Àqueles profissionais que têm a solução para este problema. Aos que têm a humildade de reconhecer que estão longe de saber tudo, e que dessa panóplia de saberes que precisam de dominar, a parte técnica representa menos de 50%. Somos humanos e é primordial voltarmos à essência humana, ao cuidado, à empatia, a tudo aquilo que faz de nós pessoas.
A todos estes que diariamente honram a profissão, aos que desejam empoderar-se, focar-se no que podem fazer melhor, que procuram desenvolver-se. Aos que ocupam a sua mente com tarefas que os levam a saber mais sobre assuntos que os ajudam a ultrapassar os seus desafios e que os levam a posicionarem-se no próximo nível.
Para quem diriges o teu livro?
Dirijo este livro a todos os estudantes e profissionais que, independentemente de serem ou terem sido meus alunos, colegas ou aqueles que ainda não tive a honra nem o privilégio de conhecer, diariamente lidam com utentes e famílias.
Desafio a todos, começando por mim, a procurarmos em nós a mesma coragem, a mesma vontade e a mesma determinação que nos levou a darmos o primeiro passo, um dia, ao escolhermos esta área. Desafio a elevarem a fasquia de cada tratamento ao nível de uma experiência memorável para o utente, família e comunidade que diariamente nos procuram, acreditando somos agentes da mudança e que possamos de facto fazer a diferença ao impactar as suas vidas.
Ou seja, que todos e cada um de nós nos “Deixemos Ser” mais humanos, mais profissionais.
Para já existe alguma reação ao livro de que te lembras bem e que queiras partilhar? Houve alguma inesperada que nos queiras relatar?
Publiquei o livro em Abril, e cerca de uma semana depois houve um casamento na minha família… é um dos momentos de grandes reencontros e oportunidade de conhecer novas pessoas.
Tive o privilegio de encontrar pessoas que não via há muito tempo, e quando souberam da publicação do livro, compraram-no de imediato.
De facto, foi uma surpresa (na sua definição) totalmente inesperada, mas muito agradável, amorosa e satisfatória, que me deixou completamente enternecida. Senti-me muito honrada, apoiada e uma gratidão incrível pelo acolhimento e voto de confiança.
Existe algum tema sobre o qual não gostas de ler?
Leio um pouco sobre tudo, claro que há temas que pelo seu contexto me despertam mais curiosidade, há temas que conseguem surpreender, e há aqueles que me conseguem prender, e me provocam apneias emocionais. Tenho uma fome insaciável por conhecimento, de modo que leio sobre os temas que mais interesse suscitam em mim.
“Quando o livro é bom, o melhor está nas entrelinhas”. És da mesma opinião deste provérbio sueco?
Concordo, quando um livro é bom, é bom. Há um leitor à espera de cada livro, e quando o livro encontra esse leitor, é apoteótico. Não são só as entrelinhas, é toda a construção de cada detalhe que inspira, que provoca apneias emocionais e nos permite fazer as mais incríveis viagens, sem sair do lugar.
Qual a melhor e a pior parte de ser escritora?
O desafio de ser autora, escrever e publicar um livro com qualidade, impacto e rentabilidade para que se possa construir uma obra de sucesso.
Quanto à qualidade, o livro tem de ter uma intenção forte, critério na mensagem, estar bem organizado e escrito. Relativamente ao impacto, o livro deverá ajudar o público-alvo a alcançar um resultado, seja o colmatar de uma necessidade ou ter maior clareza e informação sobre um assunto. No que respeita à rentabilidade, o livro é apenas o ponto de partida, a partir do livro é possível criar produtos derivados do mesmo, e abre-se assim um mundo de infinitas possibilidades.
A energia que se investe em escrever um bom livro acaba por ser menor do que aquela que se utiliza para escrever um mau livro. Pensar em grande, escrever em grande, ser exigente.
O amadurecimento como escritora é uma perspetiva de vida?
Um livro torna-nos imortais. Por vezes, a única forma que temos de “enganar” a morte e o esquecimento é deixarmos a nossa palavra escrita. Um livro sendo algo que contém o registo de memórias, histórias ou conhecimento sintético, tem a capacidade de fazer permanecer no tempo o seu autor, a sua história, a sua forma de ser e de pensar.
As pessoas só morrem quando morre a última pessoa que pensa nelas, imagine o potencial incrível que existe em materializar as palavras sobre a forma da escrita.
Um livro escrito por nós representa o cravar no tempo da nossa identidade, da nossa amplitude e da aprendizagem que fomos adquirindo ao longo da vida.
Posto nesta perspetiva sim, o amadurecimento enquanto escritora está nos meus planos.
Quais as estratégias que estás a utilizar para as pessoas terem acesso ao teu livro?
Divulguei nas minhas redes sociais, divulguei pessoalmente a alguns colegas e amigos, entretanto recebi o convite para uma entrevista à comunicação social, mais propriamente à rádio, e foi uma oportunidade incrível para divulgação e vendas.
Quais os teus conselhos para um aspirante a escritor que seja terapeuta?
Não ser apenas um mensageiro, mas aproveitar a oportunidade para ser um impulsionador de mudança. A mensagem é influenciada pela perspetiva, humildade e disponibilidade, o propósito, os livros que lemos, a experiência de vida de cada um de nós, a criatividade e o sentido crítico. Uma mensagem organizada expressa segurança por quem a escreve e potencial capacidade de compreensão por quem a lê.
Um livro precisa de estar estruturado de forma a ter uma sequência lógica, escalabilidade da informação, fornecer carácter orgânico ao livro, e promover o crescimento do leitor.
Posto isto, temos os ingredientes perfeitos para que surjam obras primas.
“A escrita é sempre biográfica”. Escrever espelha o que vai dentro de nós, sem tirar nem pôr.
Quando escrevemos, estamos a revelar um conjunto de informação que possuímos.
Dado que a escrita nos ajuda a ter clareza, a montar os puzzles internos e a ganhar estrutura, podemos considerar a escrita como um acto que nos permite atingir a libertação e a conhecer partes de nós que, de outra forma, não conheceríamos. É também por este motivo que a escrita terapêutica tem um papel muito activo e notável no bem estar de quem escreve.
Se tens algo dentro de ti que não consegues decifrar, escreve.
Se ambicionas obter clareza e estrutura sobre ti, ou algo que te incomoda, escreve.
Se procuras um momento de intimidade contigo em que te mimas, te escutas, te encontras, escreve.
Se procuras construir ou reconstruir a tua identidade, escreve.
Escreve para te libertares do que não te serve em prol do que queres manter em ti.
A escrita, tal como a vida, é um acto de acontecimento, mas precisa de ti para que aconteça.
Acontece!
Quais os livros e as músicas que te inspiram?
São todas aquelas cuja narrativa ou o seu som consegue provocar mudanças em mim, ainda que comecem por ser a nível celular, conseguindo transportar-me para outras dimensões.
Estás a pensar escrever algo de novo? O que podes adiantar já?
Sim estou, ainda muito longe de estar acabado…
Em 15 anos de trabalho, houve muitas vivências e muitas histórias em que participei e acompanhei de perto.
Este trabalho honroso de poder ajudar pessoas desta forma, traz vivencias dignas de serem partilhadas com o mundo!
Um terapeuta de excelência não se faz apenas de técnica. É necessária experiência, superação e muitas histórias de vida pelo meio.
Histórias que me fizeram rir, outras chorar, refletir e pensar no passado, presente e futuro. Pessoas que cruzaram o meu caminho e deixaram um bocadinho delas em mim, levando um pouco de mim com elas.
Já escrevi algumas, mas ainda não sinto que este livro esteja concluído, e pronto para ser partilhado.
Qual a melhor recordação que guardas relacionada com este livro?
Umas das melhores recordações que guardo foi ter recebido palavras de afirmação, de apreço e de apoio por parte de pessoas que jamais esperaria.
Funcionou quase como uma validação interna e uma confirmação de que ter escrito este livro fazia parte do itinerário e foi o procedimento certo.
Senti-me muito, mas mesmo muito honrada, acarinhada, tratada com muito respeito e deferência, tendo vivenciado um dos momentos mais especiais da minha vida, porém, como em tudo, é preciso passar por algumas experiências para sabermos quem é realmente a nossa “tribo”.
Pessoas que nunca esperei, compraram o livro, apoiaram, recomendaram, e ajudaram-me a alavancar as minhas vendas, pois graças a isso, outras também adquiriram os seus exemplares. No reverso da medalha, outras pessoas que tinha quase a certeza que o comprariam, não o fizeram, e pelo contrário, limitaram-se a mostrar a sua indiferença e desprezo face à situação.
Mas está tudo bem, a própria vida encarrega-se de nos mostrar com quem podemos contar nas várias etapas da nossa vida. Quase como uma peneira, que faz esta separação, sobre quem continua ligado a nós pelo fio do destino, e que já não faz sentido permanecer.
Gostarias de dedicar-te exclusivamente à escrita?
Quem escreve, sabe muito bem que, por vezes é complicado explorar uma ideia que se tem, ou mesmo manter a motivação para o fazer. E está tudo bem, é normal, não acordamos todos os dias da mesma forma.
O processo de escrita é, e é muito importante que seja orgânico. Isto é, nem sempre iremos escrever como esperamos. Há um sobe e desce emocional e criativo na forma e quando se escreve.
Como já referi anteriormente, a escrita, ou melhor, alguns tipos de escrita são um dos meus refúgios, e encontro propósito em escrever sobre determinados temas.
Contudo, também encontro propósito em ser terapeuta, em poder proporcionar atendimentos como eu defendo, aos utentes e famílias que me procuram.
Assim como, volto a encontrar o sentido de propósito, cada vez que tenho oportunidade de dar uma aula ou palestra, e partilhar um pouco daquilo que sei, e que transformou a minha vida, nesta passagem de legado.
Gostaria de continuar a escrever, sim, e a partir daí explorar todos os seus subprodutos, mas não consigo conceber a ideia de deixar de fazer atendimentos clínicos, nem de cessar de estudar, para poder aplicar na prática clínica e partilhar.
Surgiu alguma diferença na forma como olhas para o mundo de hoje depois de escreveres este livro?
Depois de publicar este livro, tenho tido vivencias incríveis, internas e externas.
Permitiu-me resignificar vários acontecimentos diários, sendo uma das formas de gerir emocionalmente e racionalmente certas situações à medida que as relativizo. Pegar em situações diárias da prática clínica e dar-lhes uma nova roupagem permite-me diariamente experienciar novos pontos de vista.
Um livro é um cartão de visita incrível, único e especial, nunca tinha tomado esta consciência, até ter o meu. Pois é através do meu livro que as pessoas têm a oportunidade de me conhecer melhor, experienciar a minha história e conhecer aquilo que é importante para mim, que almejo deixar cravado no tempo, a minha pegada.
Sinto que em certos contextos, graças a este livro, tenho conseguido surpreender pela positiva, ao jogar pela novidade e pela diferença.
Porque optaste por um ebook em vez de um livro em papel?
Como já tive oportunidade de partilhar, o processo de escrita foi uma jornada individual. Neste caminho de muita reflexão, nunca imaginei que o livro pudesse chegar tão longe, nem ter a repercussão que teve, logo tive receio que não fosse ao encontro dos leitores certos.
Desta forma, acrescendo ainda o facto de que as gerações mais jovens preferem os dispositivos eletrónicos, pensei que a sua publicação em formato e-book pudesse ser mais apelativo, e ao mesmo tempo, mais económico e ecológico.
Não ponho com isto fora de hipótese, a possibilidade de num futuro, publicar este ou outro livro em papel, ou em audiolivro.
O que é que te moveu, quando decidiste escrever?
Certo dia dou comigo a pensar no poder que um livro tem sobre o seu público. Ora, tenho uma história de vida, conhecimento sobre a área, uma perspetiva, várias ideias… quais seriam as possibilidades de partilhar esta mensagem com o maior numero de pessoas?
Há um livro à espera por cada um de nós. Acreditei e continuo a acreditar que o meu livro pode ajudar alguém. Nesse sentido, tomei as rédeas, e assumi a responsabilidade de o materializar.
O que vem a seguir?
Só Deus sabe, mas continuo, sem pressa, sem prazos, a trabalhar naquele que inicialmente seria o texto que me levaria a publicar o meu primeiro livro. No momento certo será publicado.
Gostaria de poder um dia deixar escrito uma autobiografia. Mas sinto que ainda não é o momento. Até lá, vou investindo o pouco tempo livre disponível a trabalhar no meu próximo projecto literário.
O grande objetivo de vida?
Quando o processo funciona e é validado, deve ser ensinado, isto é legado.
É uma honra poder contribuir com mais conhecimento para a vida de todas as pessoas que escolhem aprender comigo. As linhas nunca se cruzam à toa.
Aceda ao seu livro.
Saiba mais sobre a fisioterapeuta Lídia.