Conta a lenda de D. Fuas Roupinho que no Sítio da Nazaré aconteceu um milagre…
A versão da lenda de D. Fuas Roupinho que vamos contar, diz que este era um nobre cavaleiro de D. Afonso Henriques e alcaide do castelo de Porto de Mós. Tinha por hábito caçar nas suas vastas terras de ermos e florestas que se estendiam até ao mar.
A caçada
Um dia de outono (14 de setembro de 1182), antes do nascer do sol, saiu com outros cavaleiros para uma caçada. D. Fuas Roupinho avista um veado e, desviando-se dos seus companheiros, segue em sua perseguição.
D. Fuas Roupinho cavalgou durante bastante tempo, mas o denso nevoeiro não lhe permitia distinguir com perfeição a sua presa nem o terreno por onde cavalgava. Quando se deu conta estava no topo de uma falésia, à beira de um precipício.
O milagre
Repentinamente, D. Fuas Roupinho reconhece o local, estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus. Então, em voz alta, rogou a Nossa Senhora: Senhora, Valei-me!
Por milagre, o cavalo estacou imediatamente, fincando as patas no penedo rochoso. Assim se salvou D. Fuas Roupinho e o seu cavalo da morte certa pois o precipício rochoso tinha mais de cem metros de altura.
D. Fuas Roupinho refeito da aflição, desmontou e desceu à gruta para rezar e agradecer à Virgem Maria o milagre.
Mais tarde, mandou construir uma capela sobre a gruta, a Ermida da Memória, para aí ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem.
A imagem da Virgem Maria
Os pedreiros que construíam a Ermida, antes fecharem a gruta, retiraram as pedras do altar ali existente e, inesperadamente, encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho.
Nesse pergaminho, as relíquias estavam identificadas como sendo de São Brás e São Bartolomeu, conta a história da pequena imagem esculpida em madeira, representando a Virgem Maria sentada num banco a amamentar o Menino Jesus. Conta a lenda que a imagem terá sido esculpida pelo próprio São José quando o menino era bebé e por isso era venerada desde os primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia.
Ainda hoje se pode observar uma marca deixada na rocha, ao lado da Capela da Memória, pela ferradura do cavalo de D. Fuas Roupinho.
Local de culto
Ao longo dos tempos a estes locais têm acorrido milhares de peregrinos e romeiros, nomeadamente no dia da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, 8 de setembro.
Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. A imagem está exposta na capela-mor, num nicho integrado no retábulo barroco, ao qual se pode aceder subindo uma escada a partir da sacristia.
O edifício atual é o resultado de obras sucessivas de alargamento e melhoramento que ocorreram ao longo dos vários anos.
A representação do milagre
A representação do milagre encontra-se em vários painéis na cidade de Lisboa. Entre outros, salientamos a representação existente no edifício da Gare Marítima em Lisboa, um mural do artista plástico Almada Negreiros dos anos 40 do século XX. Em Alfama no Beco do Maquinez, encontra-se um painel datado do século XVIII, criado após o terramoto de 1755.
Completa esta versão da lenda de D. Fuas Roupinho com a já referida no artigo em Praia do Norte na Nazaré