O Gift Voucher Fado
Tardou mas a magia de “Lisboa Antiga” aconteceu! O gift voucher ganho no natal passado para uma experiência de fado foi finalmente utilizado. A nossa filha proporcionou-nos uma noite fantástica, diferente e bem animada numa noite de outubro amena e convidativa ao “walk tour” por um dos bairros típicos de Lisboa numa visita guiada por Cristiana Silva, da “Lisboa Antiga – Fado Experiences”. Uma guia de excelente carisma e simpatia com grande conhecimento histórico do Fado.
Ponto de encontro – um ponto com relevância histórica
Cerca das 19h chegamos ao Café A Brasileira do Chiado, um dos mais antigos da cidade e diariamente invadido por turistas nacionais e estrangeiros. Uma excelente escolha para início do passeio turístico, apesar do movimento cruzado, do vira e revira, dos turistas.
Enquanto esperávamos contemplamos a magnífica fachada de 1922, da autoria do arquiteto Norte Júnior. No seu interior predominavam os espelhos, a madeira e os mármores, ao estilo Arte Déco.
Aqui, foi o ponto de encontro de escritores e artistas de outrora. Ali se realizavam tertúlias literárias sobejamente conhecidas e bem na moda na época.
Na esplanada, em frente ao Café, encontra-se a estátua de bronze do poeta Fernando Pessoa, um dos clientes mais assíduos do seu tempo. Sentar era obrigatório para a foto da praxe.
Chiado e Rua Garrett
Ainda na Rua Garrett visitamos a Livraria mais antiga do Mundo – a Livraria Bertrand e as suas sete salas, com nomes de escritores. Um espaço que lhes é dedicado com referência às suas obras. A primeira sala que encontramos é a de Aquilino Ribeiro, a seguir a de José Saramago, Eça de Queirós, Almada Negreiros, Alexandre Herculano, Sophia de Mello Breyner e por último Fernando Pessoa.
Esta livraria tão particular com os seus magníficos 285 anos faz jus ao mote “a antiguidade é um posto”. Tem histórias para contar, também ali se realizaram tertúlias literárias por escritores da Geração de 70.
Praça Luís de Camões ou Largo do Camões
Com a Cristiana sempre ao nosso lado a explicar qual o passo seguinte e a história associada, deparamo-nos com a estátua de bronze do poeta Luís de Camões, largo que serve de fronteira entre o Chiado e o Bairro Alto.
Daí podia-se avistar a fachada do conhecido Café Manteigaria célebre pelos seus pastéis de natos feitos à vista do cliente.
Para além da Igreja da Encarnação, uma das mais belas da cidade, também se pode ver a Igreja do Loreto, mais conhecida pela igreja dos italianos.
Um largo cheio de história e tanto para ver!
Bairro da Bica e Bairro Alto
No elevador da Bica, na inclinada Rua da Bica paramos para ver um dos ascensores mais típico da cidade de Lisboa e a bela vista panorâmica sobre o rio Tejo.
Continuamos pelas ruas tão características do Bairro Alto, um bairro pitoresco, com as suas ruas empedradas, estreitas e retilíneas feitas para caminhar, casas antigas, pequenos bares típicos, comércio tradicional e vida noturna muito própria.
Um bairro invadido não só por turistas mas também por nacionais atraídos pela grande diversificação de restaurantes, bares e as tradicionais casas de fado. O silêncio da noite era quebrado pelas conversas das gentes que enchiam aquelas ruas e pela gritante euforia do copo a mais nas esplanadas que por ali proliferam.
Vale bem uma visita com muitas paragens obrigatórias! Uma boa caminhada num bairro inteiro dedicado à vida noturna…
Miradouro de São Pedro de Alcântara
Continuando a subir em linha reta e vira aqui e revira ali e bem na fronteira do Príncipe Real com o Bairro Alto apresenta-se o Jardim de São Pedro de Alcântara cujo miradouro tem uma vista panorâmica espetacular sobre a baixa lisboeta, o tejo e o Castelo de São Jorge.
Ali ficamos por uns minutos a conversar sobre a sua história enquanto apreciávamos a grandiosidade das vistas.
Casa típica de fados
Chegados à casa típica de fados para assistir a um espetáculo de Fado, sentamo-nos na mesa indicada e apreciamos as fotos penduradas nas paredes, das gentes famosas que por ali passaram. Eram tantas que ficamos com a ideia de não haver mais espaço em qualquer parede para mais fotos. Enquanto esperamos pelo petisco, um menu típico português constituído por chouriço assado, caldo verde, pastéis de bacalhau, queijo… e vinho, a Cristiana foi pondo a descoberto, com grande fulgor, alguma da história do fado e a sua origem.
O fado é cantado em diversos restaurantes típicos e casas de fado nos bairros mais antigos de Lisboa como este, afirmou a nossa guia. Significa destino e é o género musical tipicamente português mais conhecido em todo o mundo e está associado aos bairros lisboeta de Alfama, da Mouraria e do Bairro Alto. A primeira fadista de renome foi Maria Severa (Século XIX).
No entanto a origem do fado ainda é um mistério. Há quem acredite que o fado nasceu no Brasil com o lundum, uma música dos escravos brasileiros trazidos para Portugal (1820), entre outras teorias.
O fado hoje um grande sucesso tem resistido ao longo do tempo com nomes tão conhecidos como Carlos do Carmo, Alfredo Marceneiro, Hermínia Sílvia e Amália, a nossa embaixatriz do fado nos grandes palcos do mundo. Novas gerações foram surgindo, tais como Dulce Pontes, Camané, Mariza… e um sem número de fadistas deram-lhe uma maior visibilidade neste século.
Silêncio agora, que se vai cantar o fado!
De repente Cristiana diz “xiu” que se vai cantar o fado. Todos se calaram e depois de 3 fados cantados acenderam-se as luzes e as conversas soltaram-se. Explicou, manda o Fado que no momento da apresentação, o/a fadista acompanhado/a pela guitarra portuguesa e pela viola (guitarra clássica) ocupam o seu lugar, baixam-se as luzes e faz-se silêncio na sala. É cantado a uma só voz mas pode também ser ao desafio.
Sabiam que foi considerado património imaterial da humanidade em Novembro de 2011?! Cada fado “canta” uma história uma vida, quem canta tem alma de fadista, canta com sentimento e quem ouve sente a emoção… deixa-se levar…
Há vários tipos de fado, desde o tradicional ao fado-canção, passando por muitos outros mas atualmente com os novos fadistas, há novas sonoridades e novas formas de o representar. É a evolução a falar mais alto!
Uma curiosidade sabiam que para a mesma música podem existir vários poemas?! Nós não… foi-nos explicado que o fadista avisa os músicos qual o poema que se propõe cantar, no Fado-tipo, de “tal” em “Mi”, por exemplo. E desta forma o/a fadista pode cantar um poema que não corresponde ao original do Fado escolhido e pedir aos instrumentistas pequenas variações.
Entre canções íamos bebendo, conversando sobre fado e curiosidades que nos encantaram… Deixem-se levar e ir ao sabor das palavras …
“As palavras são a essência do fado. As palavras esculpidas pela voz, metamorfoseadas em melodias em seu diálogo com as guitarras, mergulhando músicos e público em emoções intensas, evocando lugares ou vidas, passadas ou presentes, vidas traçadas pelo fado (Branco, 1997)”.
Final da noite
A noite passou a correr, estava na hora de deixarmos a guia ir embora e refletir sobre todo o conhecimento adquirido nesta viagem pelo Fado.
Mas antes de ir embora ainda nos surpreendeu com uma oferta – um voucher para o Museu do Fado e outro para o Museu da Amália. Excelente!
Atrevam-se e deixem-se levar pelo “Fatum”!
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