Amor impossível, é um belíssimo texto de Vítor Encarnação que nos exorta a viver intensamente o amor e a vida.
“Só os que revelaram os abismos que os amantes trazem dentro de si atingiram a glória. Só os que rasgaram os corpos e enegreceram as almas, cegaram a luz, envenenaram o sangue e abriram abismos, tiveram direito à imortalidade. A dor é mais funda do que a alegria. Não há grandeza na rotina, nem na apatia.”
Amor impossível
Não fiques triste. As histórias de amor mais bonitas são as impossíveis, as mais trágicas. Pensa nos livros, diz-me quais são as que perduram, diz-me quais são as que nos emocionam. Pensa, meu amor e diz-me se não são as que não têm futuro. Diz-me que autores contaram o amor banal, a relação rotineira, a paixão mortiça e se tornaram clássicos e incontornáveis. Nenhum, não há nenhum. Só os que contaram a loucura sobreviveram ao esquecimento. Só os que revelaram os abismos que os amantes trazem dentro de si atingiram a glória. Só os que rasgaram os corpos e enegreceram as almas, cegaram a luz, envenenaram o sangue e abriram abismos, tiveram direito à imortalidade. A dor é mais funda do que a alegria. Não há grandeza na rotina, nem na apatia. E queres tu que eu te ame assim sem ninguém dar por isso, assim sem sobressaltos, assim sem vertigens nos nossos corações. E queres tu que eu te ame e te dê a mão por entre roseiras e nos sentemos muitos quietos num banco de jardim e conheça os teus pais e nos casemos e compremos um apartamento e tenhamos filhos escuteiros. Como podemos nós fazer parte da história do amor belo e insano? Como podemos nós ser inesquecíveis se formos triviais?
Não fiques triste. Foge comigo para a impossibilidade. Ainda hão de ouvir falar de nós.
Texto de Vítor Encarnação, imagens de obras da artista plástica Cláudia Ferro.
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