Em minha casa faço umas filhoses que aprendi a fazer com a minha mãe. São filhoses que se fazem rápido e que se devem comer logo a seguir a estarem prontas enquanto ainda estão quentinhas.
Na minha infância e na minha terra, em muitas casas eram feitas filhoses lêvedas ou filhoses estendidas. Em minha casa, era habitual fazerem-se as filhoses rápidas, não só no Natal mas também muitas vezes ao longo do ano pois fazem-se rapidamente para um lanche inesperado. Eram servidas ao pequeno-almoço acompanhadas com café, ao lanche acompanhadas com chá ou também à noite ou com uma bebida espirituosa como vinho do porto ou outro licor caseiro. Era sempre uma oportunidade para pedir aos pais um gole de vinho do porto, uma experiência excitante pois parecia que ao beber o gole de vinho do porto já nos sentíamos pessoas crescidas.
A tradição: no dia 1 de janeiro, logo ao romper do dia, e na noite de Reis, juntava-se um grupo de rapazes e homens que, de porta em porta, iam cantar desejando “feliz ano novo” ou iam “ganhar os Reis” – Boas festas! boas festas me darás os reis…. Alguns grupos cantavam acompanhando as suas cantigas com ferrinhos, pandeireta e até concertina. Esta tradição é designada por “ cantar as Janeiras”.
Veja Aqui a letra de Natal dos Simples de Zeca Afonso
Eram músicas simples, com quadras que louvam o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José e cada um dos moradores da casa. Lembro-me que nós, os mais novos, ficávamos sempre muito atentos aos versos para perceber se nos incluíam e o que diziam sobre nós. Após terminarem de cantar os versos ajustados às características e composição de cada família à porta de quem cantavam, eram convidados a entrar e a servirem-se do que havia ficado, propositadamente para esse efeito, sobre a mesa. Habitualmente havia as filhoses, Bolo-Rei, frutos secos, pão e compostas caseiras das frutas da região, chouriços, e outras guloseimas como rebuçados e chocolates, havia também licores caseiros, vinho do porto e aguardente para, com o corpo e alma aquecida continuarem ao longo da noite cantando porta a porta. O grupo comia e bebia o que havia para oferecer e, num saco, levavam algumas coisas que lhes eram oferecidas para depois repartirem por todos.
A tradição mandava que a primeira vez que alguém entrava na casa de outro ou se encontravam na rua, a partir do dia 1 de janeiro, se saudassem dizendo “Boas festas me darás os reis”. O primeiro a “ganhar os reis” dizendo a frase, devia receber do outro “um presente” que podia ser qualquer guloseima no caso dos mais novos ou, um copo de vinho ou outra bebida, no caso dos homens mais velhos. Nesta brincadeira já nós, os mais novitos, participávamos com desembaraço e alegre inocência para cada um ser o primeiro a “ganhar os reis” e assim ganhar uma guloseima.
A receita das filhoses rápidas
Numa tigela, coloca-se uma chávena de farinha (da que já tem fermento), um pouco de água morna na qual se desfez um pouquinho de sal, um pouco de raspa de casca de limão e ovos que se vão juntando um a um e batendo muito bem até a massa ficar com uma consistência leve, sem ser nem demasiado liquida ou espessa.
Numa frigideira funda com óleo bem quente, deitam-se colheradas da massa e deixam-se virar no óleo quente, até ficarem douradinhas. Polvilham-se com bastante açúcar e canela e devem-se comer ao acabar de fazer pois ficam muito fofinhas.