Encruzilhada é um texto do escritor Vítor Encarnação. Um texto que nos convida a uma reflexão, própria para os dias que vivemos em época de pandemia devida ao Covid19. É necessário viver a aventura de cada momento que a vida nos dá, pois como nos diz o autor:
“E quem não tem sede de viver, morre ressequido, descansado, folgado, mas ainda assim ressequido.”
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Encruzilhada
Quando uma pessoa chega a uma encruzilhada tem duas opções: ou se senta e apodrece, ou endireita a espinha e segue um caminho. Apodrecer é por norma menos trabalhoso. Respiramos mas estamos mortos. Estamos de pé mas não temos esqueleto. Temos coração mas não temos sangue. Temos olhos mas não vemos. Temos boca mas calamos. Mas mais grave do que decidir apodrecer é não saber que se chegou a uma encruzilhada, é não fazer ideia de que ali se escolhem rumos e se tomam opções. E a trágica chegada à encruzilhada é, bastantes vezes, resultado de uma atitude irresponsável, ligeira, sobranceira, vaga, egoísta, oca, desligada, dormente, desinteressante, a pessoa centrada apenas e só em si, existindo sem ânimo e sem vontade, fechada numa concha, sem questionar o mundo, a queixar-se do mundo, sem interpretar o que está sob a superfície da vida, sem perceber a importância de ter horizontes, de crescer por dentro, de lutar contra a inércia.
E quem não tem sede de viver, morre ressequido, descansado, folgado, mas ainda assim ressequido.
As encruzilhadas são um sítio e um tempo onde abrimos feridas por dentro, mas é assim que crescemos e é assim que somos.
Só nas encruzilhadas é que os homens e as mulheres concluem que já perderam demasiado tempo a fazer de conta
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