Época de saldos – Aqui deixamos um texto composto pelas amigas do blogue à laia de reflexão sobre as nossas escolhas e as suas consequências sociais e ambientais.
A Antonnela foi aos saldos.
Estamos em janeiro, um mês especialmente dedicado aos saldos de fim de estação. Não resisti ao apelo e, na minha hora de almoço, saí determinada a comprar alguma peça de roupa.
Há dias em que olhamos para o roupeiro repleto de roupa e nos parece que não temos nada para vestir! Esse, era um desses dias.
Passar o período de almoço, num normal dia de trabalho, nas lojas de roupa de um centro comercial perto do meu local de trabalho, procurando algo que me agradasse, era a intenção desse dia.
Cheguei e comecei por observar as roupas artisticamente dispostas nas montras das lojas com preços muito convidativos. Entrei numa das lojas e percorri os expositores com peças que me agradavam. Optei por não comprar nada de imediato, sem primeiro ir a uma outra loja ver o que havia. Entrei e, no meio de tanta roupa exposta, fiquei confusa. Não estou a precisar de comprar nada, nem para o dia-a-dia nem para nenhuma ocasião mais especial!
Já sem vontade de ver mais nada, saí da loja e resolvi ir almoçar por ali. Sentada à mesa no espaço de refeições do Celeiro, li as mensagens inspiradoras sobre “Viver de corpo e Alma” colocadas numa das paredes do espaço. Enquanto comia e lia estas mensagens, vieram-me à memória imagens de uma reportagem – Linha da Frente – a que, recentemente, havia assistido na televisão, sobre a poluição provocada pela industria têxtil.
Alguns factos a ter presentes
Não é que não goste de aproveitar a época de saldos para comprar algo que goste e precise, mas esta necessidade é relativa. Alguns factos que, nesse dia, me obrigaram a repensar a minha intenção de adquirir mais uma peça de roupa:
- Sabe que para fabricar uma t-shirt são gastos 2.700 litros de água?
- E para fabricar um par de calças de ganga são consumidos 11.000 litros?
- E que o fabrico de uma t-shirt corresponde a 4 dias de salário de quem a faz numa das fábricas da Ásia?
- Em apenas 40 anos o quarto maior lago do mundo, o Mar de Aral, na Ásia Central, secou? Secou porque, nos anos 60, foram desviados os cursos de água de 2 rios, para as produções intensivas de algodão.
- Sabe que os lençóis freáticos estão a diminuir a um ritmo assustador e que na China uma percentagem de cerca de 80% da água está contaminada?
As consequências sociais e ambientais que este fabrico desenfreado e consumo impensado provocam, são por demais evidentes.
Quem ganha com esta estratégia, o consumidor? Nas mãos de quem fica a riqueza?
A indústria da moda na opinião da Donna
Sabemos que a indústria da moda vive de novidades, da obsolescência do vestuário da estação passada, leva ao impulso de compra do consumidor quando convidado a comprar as suas peças favoritas em época de saldos. Muitos não resistem ao “modismo” e à compra desenfreada mesmo daquela peça que não necessitam.
Uma verdade nua e crua – Temos roupas que não vestimos há várias estações, essa é sem dúvida uma dura realidade!
Aqui entendo ser de destacar precisamente a questão da sustentabilidade ambiental da indústria têxtil. Na verdade, esta indústria é a segunda mais poluente a seguir à petrolífera – sabiam que esta última necessita de 80 litros de água para produzir 1 litro de gasolina?
Sabendo que na indústria, a água é usada em grandes quantidades e que a poluição das águas naturais tanto por contaminantes biológicos como químicos é um problema mundial, coloca-se a questão – É da nossa responsabilidade assegurar a qualidade das reservas e o fornecimento de água então que andamos a fazer ao Planeta onde vivemos? É assim que conseguimos ter um futuro sustentável?!
Anna vai às compras.
Os saldos continuam e hoje comprei duas peças de roupa, desnecessárias! Mas com a vontade frenética de vestir algo novo! Quão vontade, desnecessária! Antes tivesse comprado dois garrafões de água.
Ao beber um copo de água, sabemos que estamos a contribuir para a vida!
Apesar dos grandes avanços ocorridos no mundo têxtil e da variedade de cada coleção, os indicadores refletem uma preocupação ambiental desencadeada pelas indústrias transformadoras.
A indústria dos têxteis e vestuário tem sido um setor com variações ao longo do tempo. Hoje, verifica-se um crescimento grande com a abertura dos mercados, em conjunto, com a constante mudança na inovação e tecnologia. A especialização rege-se por altos padrões de qualidade, que se traduzem na durabilidade e resistência das malhas e nos acabamentos perfecionistas, que muitas vezes é um fator de diferenciação.
A própria confeção dos tecidos de algodão, sintéticos, acrílicos, entre outros, exige trabalhos de conceção, modelagem, tecelagem, corte das matérias-primas, costura, tinturaria e, por fim, ainda o embalamento das peças em sacos de plástico ou papel.
Continuamos a conseguir beber um copo de água!
Temos a variação dos padrões da moda com sazonalidade anual que nos faz aumentar o consumismo da roupa. Existe a ideia de não querer coisas para durar muito tempo. Copiamos as celebridades e vivemos as tendências da moda com uma enorme variedade de escolhas.
Sabemos que o setor têxtil e do vestuário é um dos sectores mais internacionalizados e com materiais considerados inovadores, mas, onde é que estão os princípios de sustentabilidade? Será que um dia, ainda neste tempo, teremos um copo de água saudável?
Para finalizar
Da próxima vez que for fazer compras, reflita um pouco e pergunte-se se precisa mesmo de comprar algo.
“A natureza somos nós mesmos, já que dela provem o ar que respiramos
e a água que bebemos.
Então, quem estamos matando?
E quem estamos preservando?”
Pensamento de Antónia Loureiro