As imagens e as palavras vistas pela equipa de Hucilluc numa visita à exposição “Caminhos de Silêncio” de Gizela N., no espaço Cais 16, Craft Gallery, em Cascais.
Quando as emoções e os sentimentos mais autênticos, levam a artista à procura do poema certo que se enquadra na obra criada e nos orientam nos caminhos de silêncio que a artista nos convida a percorrer, ficámos surpreendidas e sentimo-nos fazer parte desse harmonioso espaço.
A artista Gizela N. acompanhou-nos numa visita guiada à sua exposição e falou-nos sobre a sua inspiração e as suas obras.
Esta obra chama-se “Silentium Incarnatum”, em latim, que quer dizer em Português “Faça-se Silêncio”. Escolhi um título em latim, pois pareceu-me “mais forte”, como que fosse quase uma ordem, e é uma ordem. Como se houvesse uma encarnação de linguagem divina…
As obras desta exposição têm sido feitas através de uma grande intuição e um diálogo forte entre mim e a minha mão. Nesta exposição segui caminhos puramente gestuais. Não sabia como a minha mão iria começar os percursos que se avizinhavam, e muito menos como os iria acabar.
Inconscientemente ou conscientemente (não sei), recorri ao maravilhoso texto que sempre me encantou de Henri Focillon, que se chama “O elogio da mão”, em que enaltece todo o poder da mão, como se esta fosse “autónoma”:
“A mão parece saltar em liberdade e deleitar-se com a sua própria destreza: explora com uma segurança inaudita os recursos de uma longa ciência, mas explora também esse elemento imprevisível que está além do campo do espírito – o acidente”.
Os “acidentes” que a mão constrói são de uma riqueza infinita e estas obras desta exposição estão repletas destes maravilhosos acidentes.
” A mão é ação, ela cria e, por vezes, seria o caso de dizer que pensa”.
A obra “Silentium Incarnatum” foi igual. E, quando acabei, soube de imediato o título, mas não consegui escrever nada sobre a tela. É uma tela de grandes dimensões, cheia de caminhos, com diferentes rotas, espessuras, diálogos e silencios…, acrescentar uma frase, só iria perturbar este diálogo silencioso, aparentemente, mas com tanto significado nos seus percursos “densos e volumosos”. Tem a minha alma de escultora.
“Silentium Incarnatum” tornou-se assim, a única obra sem nenhuma frase ou poema escrito, e também o mote do nome da exposição “Caminhos de Silêncio”.
Nesta conversa com Gizela N., percebemos que a obra surge fruto da sua criatividade que procura refletir nas obras toda a emoção que, no momento, lhe vai na alma. Depois, olhando a obra sente que há palavras que traduzem a sua visão, o seu sentir e as suas emoções, é então, que o poema é escolhido criando uma associação perfeita entre as obras e as palavras.
Os poemas são fundamentalmente escolhidos, de entre os muitos poetas portugueses, como no exemplo que mostramos na imagem seguinte.
De entre os vários poetas e poesias vemos o nome de uma jovem que escreve poesia e que, muito recentemente, lançou um livro infantil, Margarida Porto. Esteja atento pois brevemente apresentaremos numa entrevista esta jovem talentosa.
Com esta breve reportagem, queremos que descubra por si, a artista e as suas obras e que, ao aprecia-las, aceite o convite de seguir pelos caminhos para onde o levarem.
Damos ainda nota, de que o espaço “Cais 16 – Craft Gallery” vale, só por si, uma visita. Aqui faz-se a divulgação e promoção dos artesãos portugueses. Encontra produtos genuínos e de grande qualidade feitos por mãos habilidosas. Brevemente daremos a conhecer o espaço e a mulher que leva por diante este projeto.
Leia aqui as entrevistas a Gizela N.
À conversa com Gizela N., A arte no feminino
Gizela N – CAMINHOS DE SILÊNCIO e outras exposições