A Donna e a Antonella, palavra puxa palavra
Era cedo, nem parecia fim-de-semana, noutro qualquer, seria dia de dormir um pouquinho mais mas compromisso aceite há que o honrar. E lá ia eu para mais uma reunião para tratar de assuntos da minha nova paixão – o nosso blogue.
Segui o meu caminho até ao destino combinado, fui a primeira a chegar, a manhã estava amena, o sol já brilhava, fui entrando e olhando ao meu redor até encontrar o lugar ideal para todas se sentarem.
Absorta nos meus pensamentos, nem dei conta do tempo passar, olhava sem ver a vida lá fora, o entra e sai de quem não pára, escutava sem ouvir o barulho a ecoar. Nem me apercebi do tempo que aquela sombra se fazia sentir mesmo à minha frente, apeteceu-me ver e lancei o meu olhar para a frente e lá estava a Antonella em pé, com cara de interrogação mas prontamente rasgou um sorriso em jeito de cumprimento.
Agora lado a lado, palavra puxa palavra, conversa amiga soltou história. Senti necessidade de explicar à Antonella, única do grupo com os mesmíssimos 60 anos, que era precisamente essa a reflexão presente na minha mente à chegada dela – Idade?!
Verdade, enquanto esperava, o meu computador central (cérebro) processava várias questões no que à idade diz respeito – o que me havia de dar com esta idade, podia estar descansada em casa, com a família e …; o que fazer com a vida na idade madura… ;será que existe uma idade certa para fazer… para mudar de vida … e o estigma da idade, há quem sinta?
Não existe certo ou errado nas idades, ditas físicas. A idade nossa, a de dentro, a do interior, é vivida por nós, nada impede de concretizar aos 60 anos sonhos antigos dos 6, 10, 20, 30 ou mais anos de idade.
Se me apetecer fazer uma aventura em queda livre, um salto de paraquedas, e reparem existe um se no início da frase (não é um sonho meu), e puder agora neste preciso momento, com esta idade, concretizar o meu sonho de menina, não posso? Desde que me faça bem, o que posso fazer e não posso fazer, só a mim diz respeito desde que não interfira com “outros”, certo? Viver a vida é estar viva, ter a força do amor, ter a força do querer, querer é poder, porque esta é a fase em que a urgência da vida nos abraça de modo avassalador – a viagem da vida é minha, o compromisso é meu em qualquer idade! Sou dona do meu próprio destino!
Este diálogo de mim entre mim e agora de entre nós, com a Antonella a opinar em modo reflexão de si entre si e para nós.
O que o caminho percorrido na vida me traz – Os sonhos e a sua concretização!
Eu que tendo percorrido um caminho na vida que me fez chegar a uma idade madura, posso dizer que, hoje sou o resultado de todas as experiências vividas. Tenho procurado, umas vezes com mais sucesso do que outras, retirar aprendizagem dos acontecimentos bons e menos bons que, naturalmente surgem no percurso de cada um.
Tal como referi no artigo publicado sobre a vida inspirada em Frida Kahlo, sinto que o meu espírito não se aquieta, tenho sonhos para concretizar e uma vontade enorme de deixar um legado, por muito mínimo que seja, inspirador à minha filha, tal como tu Donna em relação à tua filha. O que mais procuro neste momento, é libertar-me de todos os medos, não perder a capacidade de me espantar com o que nos rodeia e deixar fluir a vida de forma tranquila enquanto é meu o dia. Sinto alguma tranquilidade, e algum orgulho em ver que a minha filha se transformou numa jovem mulher comprometida e responsável com a vida (a tua filha Donna é igualmente motivo de orgulho, eu sei, eu testemunho). Nos dias de hoje e com toda a certeza em cada época com particularidades próprias, a tarefa de educar uma criança segundo valores que cremos serem elevados, não é fácil. Procurei dar-lhe todos os instrumentos e ensinamentos que lhe permitissem esse crescimento estruturado num amor incondicional.
Sinto que ainda tenho muitas coisas para fazer e muito de mim para dar independentemente da idade que tenho, a este propósito fica, mais a baixo, um poema de Matilde Casazola, poetisa e compositora Boliviana, que me inspira, há tanta coisa por fazer!
A concretização conjunta de uma ideia que nasceu de quatro mentes inquietas e que resultou num blogue permitiu aconchegar uma amizade que já existia. Quando nos encontramos, sentimo-nos seguras, deixamos cair as máscaras que usamos na nossa vida profissional para nos proteger e as ideias fluem. Faz-nos bem este são convívio, este entusiasmo e esta esperança na contribuição para inspiração de outros numa vida mais plena.
Quanto á minha vida profissional procuro manter o entusiasmo dos meus primeiros anos de atividade, achando que posso mudar o estado das coisas tarefa que, muitas vezes, é deveras difícil se não impossível. Julgo que mantenho um espírito aberto a novas ideias e vontades que as gerações mais novas nos trazem, acredito que quando se criam equipas mistas em idades e em culturas se podem obter resultados inesperados e de grande valor. É também um pouco assim, que é constituída a equipa do blogue, somos quatro amigas com personalidades distintas, percursos de vida e idades diferentes, mas temos valores e sonhos comuns e essa diversidade enriquece-nos.
Para terminar um sentimento comum que julgamos se encontra refletido no que publicamos no nosso blogue: sabemos que não podemos mudar o mundo, mas também sabemos que o exemplo pelas ações realizadas pode ter um pequeníssimo contributo para essa mudança. Não ter medo de envelhecer é não ter medo de ser e de viver. Não ter medo da idade madura é não ter medo de existir, é ter um propósito de vida.
Leia, inspire-se e viva a sua idade com bondade, gentileza e ternura! E lembre-se …
Não importa quantos anos há na tua Vida, mas quantas Vidas há nos teus anos.
Abraham Lincolm
“Oportunidades que se abrem perante nós, num mudo imperfeito onde: tudo está por fazer” Poema de Matilde Casazola
MUITO BOM! Estão de parabéns pelo maravilhoso texto!