Luz, um texto de Vítor Encarnação que hoje escolhemos para partilhar pois, em especial nos tempos que vivemos, todos precisamos de manter a esperança na vida que recomeça em cada primavera.
A noite morre para o dia viver. É assim todo o amor. E são os pássaros que cá ficam que limpam o firmamento e abrem as portas para a chegada das andorinhas. Quando elas vierem saberemos todos que a vida recomeçará, saberemos todos que nada morreu a não ser os homens e as mulheres que partiram.
Luz
Todos os dias cresce um bocadinho mais os braços ao dia. O sol demora-se um pouco mais e lentamente a claridade cresce e ganha terreno, perdura no ar por mais tempo, coisa pouca, fogachos, arrebatamentos. Um nada hoje, outro nada amanhã. Gota a gota de luz. Os pássaros agradecem e guardam-na dentro dos olhos e das asas. Precisam dela para esticarem o horizonte, são eles que mais de perto falam com o sol.
O sol também tem asas, o sol é um pássaro incandescente a voar. E ele sabe que só é livre de dia. De manhã foge da gaiola da noite, mas a noite não lhe perdoa, a noite espera-o sempre, a noite marca-lhe a hora para ele voltar.
E todos os dias, daqui para a frente, dá-lhe mais um bocadinho para ele brilhar, mais um bocadinho para ele alumiar a vida. À custa da própria noite. A noite morre para o dia viver. É assim todo o amor. E são os pássaros que cá ficam que limpam o firmamento e abrem as portas para a chegada das andorinhas. Quando elas vierem saberemos todos que a vida recomeçará, saberemos todos que nada morreu a não ser os homens e as mulheres que partiram. Tudo o resto está prenhe.
E tudo há de renascer debaixo de nós, dentro de nós e sobre nós. E quando a vida parir não será em silêncio, será de cores aos gritos, será de mantos de luz.
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A imagem da capa deste texto é de autoria de Misetas
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