Não me peçam razões é um belíssimo poema de José saramago que nos inspirou para uma breve passagem pela terra onde nasceu.
Não me peçam razões…
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago, em “Os poemas possíveis”.
A Azinhaga
Hucilluc – Aqui e ali, liga-nos ao que nos rodeia e, por isso sem mais razões, numa viagem que nos levou para perto da pequena povoação da Azinhaga, não pudemos deixar de visitar esta pequena aldeia que guarda memórias de José Saramago.
Azinhaga situa-se no concelho da Golegã, foi aqui que em 1922, nasceu o escritor e poeta vencedor do Prémio Nobel da Literatura (1998).
Na antiga escola primária, funciona uma delegação da Fundação José Saramago. Infelizmente, na altura encontrava-se fechada e não pudemos visitar este local.
O jardim na Azinhaga
O bonito e bem cuidado jardim situado em frente à delegação da fundação foi, na juventude de Saramago, um campo de futebol a que o autor faz referência no livro “As Pequenas Memórias”.
Foi na Azinhaga, em 2006 no dia em que Saramago fazia anos, numa festa organizada pelas pessoas da aldeia que o emocionou, fez o lançamento do livro “As Pequenas Memórias”.
A estátua de José Saramago
A estátua com uma dimensão superior ao tamanho natural, representa o escritor sentado num banco de jardim com um livro na mão. No livro de bronze estão escritas as palavras que são o princípio de um texto seu sobre a Azinhaga – “A aldeia chama-se Azinhaga…”.
“Azinhaga não é só a minha terra. É a única terra onde eu realmente podia ter nascido”, afirmou arrematando com um bem-disposto: “Estou inaugurado e estou muito feliz!”.
Num domingo quente do mês de maio de 2009 é inaugurada uma estátua em bronze do escritor José Saramago, na Azinhaga.
Saramago recusou sempre lhe fizessem qualquer escultura, no entanto esta escultura foi feita sem qualquer investimento público, foi apenas a forma de muitas pessoas lhe manifestarem o seu apreço.
Referencias:
Fundação José Saramago – Biografia
“Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal.”
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