O espírito de Natal.
Ainda há pouco vivemos a época festiva do Natal e já o mês de janeiro vai adiantado. É uma boa altura para refletir sobre as vivências desta época festiva. Pelo significado que o Natal tem e pelas recordações de infância que nos traz, consideramos que é um tema sempre oportuno para uma reflexão.
Para muitos é um tempo vivido com intensidade, privilegiando o convívio familiar e cumprindo um conjunto de tradições religiosas e outras. São tradições que trazem afazeres vários e que vão desde as decorações da casa com o presépio e o pinheiro de Natal, a preparação da ceia e o almoço do dia de Natal, a troca de presentes, a ida à missa do Galo, o cantar das janeiras, etc.
Num mar de inverno.
É uma época do ano em que parece haver mais solidariedade e proximidade entre as pessoas. Mas será uma solidariedade efetiva? Ainda esta semana, na minha deslocação diária para o trabalho, ouvia na rádio uma notícia sobre os migrantes e refugiados que deixam tudo para trás e se lançam no desconhecido buscando uma hipótese de vida. A notícia referia que estão 49 pessoas, resgatadas no Mar Mediterrâneo, em situação muito debilitada, a bordo de dois navios de ONG à espera de um porto seguro para desembarcar.
Num mundo globalizado como o que vivemos hoje, a tradição natalícia já não se cumpre para todos, de igual forma. Foi para nos falar sobre as vivências no Natal, que convidámos José Carlos Albino. Aqui fica uma sua crónica sobre um Natal vivido nos dias de hoje.
Num natal
Estamos na capital do reino, com poucos súbditos tal como eu. Estamos, sem estar, numa noite feita de festejos, à conta dum menino que nasceu com anúncios de vidas novas.
os festejos, sem mim, fazem-se por fotocópias de originais perdidos, apenas transpirando em tempos sem fim.
da noite, da dita noite em que o menino se faria gente entre nós, os sem companhia a solo, mas sem nós sós.
estando só, sem solidão, curtimo-nos nas filosofias de sermos animais em planando a hora de sermos.
de repente, fico-me num país a descobrir novas maravilhas plurais. são brancos, negros, mestiços, orientais e que mais, uns procurando as bebedeiras, outros gozando aos natais, mais fingidos que normais, drogados quanto baste e eu sem saber que mais.
tendo destino, numa cama de bom albergue, deixo-me ir indo desbravando porque aqui estou. tento soltar-me e fico-me.
partindo, praça adentro, trocando olhares a novos gentios vagueando, salta-me à cabeça as outras facetas de natais, quando pequeno os vivia na terra natal.
já na cama, chamo por amores mais e enrolo-me nas mantas dos sonhos reais. ponto.
Zé Carlos Albino,
Lisboa, 24-25 de Dezembro de 2018 (em toalha de restaurante )
Messejana, 4 de Janeiro de 2019.
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