O miradouro de São Leonardo de Galafura, é um dos mais deslumbrantes da região do Douro. Daqui avista o rio Douro serpenteando entre encostas que emolduram a paisagem. A zona do miradouro tem muitas árvores, que proporcionam sombra nos dias quentes. Pode também descansar e fazer uma pequena refeição no parque de merendas aí existente.
O miradouro de São Leonardo de Galafura situa-se na freguesia de Galafura e Covelinhas, a cerca de 20 quilómetros de Peso da Régua. Na origem da designação de Galafura, está o nome Galafre de um governador de uma remota fortificação, um castro romano, nesta zona do Monte de S. Leonardo.
A paisagem e a obra de Miguel Torga
Esta paisagem deslumbrante inspirou Miguel Torga que numa obra, um dos seus Diários, escreveu:
“não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza”.
Miguel Torga foi um dos mais importantes poetas do século XX, natural de São Martinho de Anta do concelho de Sabrosa. Com uma forte relação com a natureza adotou o pseudónimo – Torga, em homenagem a uma planta silvestre a Urze, que existia em grande quantidade na sua terra natal. O gosto pela natureza levava Miguel Torga até ao miradouro de São Leonardo de Galafura, onde observava a o Douro e a força da natureza.
Homenagem a Miguel Torga
No Miradouro de S. Leonardo de Galafura há uma homenagem a Miguel Torga e à sua relação com a natureza e com este local.
“Um poema geológico. A beleza absoluta.”
Sobre uma rocha, num painel de azulejos está uma inscrição onde Miguel Torga faz referência sobre o miradouro.
“Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza.
Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão.
Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro.
Um poema geológico.
A beleza absoluta.”
O poema de São Leonardo da Galafura, está na parede da ermida de S. Leonardo, virada para o marco geodésico onde estão assinalados os 640 metros de altitude.
São Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
São Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Programe uma escapadinha
Na primavera quando os campos se cobrem de flores, ou no outono quando as encostas do Douro se vestem de castanho, laranja e vermelho, não deixe de fazer uma visita a esta bela e riquíssima zona do país. Apaixone-se pela natureza e deixe-se encantar no Miradouro de São Leonardo da Galafura.
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