A empatia
Nesta pequena história verídica do Sr. Arrumador, vamos mostrar como a empatia pode ser um processo benéfico para os indivíduos envolvidos nos factos.
Os estudos atuais, dizem que a empatia é constituída por três componentes: afetivo, cognitivo e reguladores de emoções. O componente afetivo baseia-se na partilha e na compreensão de estados emocionais de outros. O componente cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais de outras pessoas. A regulação das emoções lida com o grau das respostas empática, colocar-se no lugar do outro. Quando o individuo que é ajudado mostra sinais de alívio ou alegria, a pessoa que ajudou também sente alegria. Essa alegria empática motiva a ajudar novamente, de modo a sentir a alegria empática outra vez. Essa auto-recompensa inerente na empatia não é um processo consciente e pode ter sido um factor adaptativo.
Todos precisamos de atenção!
A necessidade de estabelecer contacto com os outros é uma necessidade intrínseca à condição humana. O distanciamento entre as pessoas que tanto se faz sentir nos dias de hoje é próprio de vidas que se consomem num ritmo demasiado acelerado para ver além de nós e do pequeno circulo de pessoas com quem lidamos diariamente. Todos nós, nas grandes zonas urbanas, nos deparamos com a dificuldade de estacionar e com os arrumadores de rua! Sempre que me dirijo para o meu local de trabalho por carro, estaciono num parque de estacionamento que ainda não está sinalizado com parquímetros. Ainda sabe bem não ter este custo adicional, que não é assegurado pelo empregador.
O Sr. Arrumador
Sempre que estaciono o carro naquele parque cruzo-me com o mesmo Sr. Arrumador e, dia após dia, é criada esta relação entre a “minha pessoa” e um “Sr. Arrumador”. Nem sei o seu nome nem se tem licença para exercer a sua função.
No início senti aquela obrigatoriedade de contribuir de forma monetária, cheguei a dar um euro para colmatar os outros dias da semana que não tinha vontade de procurar por uma moeda na carteira. Mas, sempre pensei que dar uma moeda é contribuir para uma gestão enganosa, para a desgraça e para a prática ilícita que é condenável por outros.
Por vezes, a vontade de dar é superior ao cumprimento com um “Bom Dia” e com uma simples questão “Como está?” e, nestas alturas quero estacionar e sair repentinamente do parque. Simplesmente para conseguir chegar o quanto antes ao local de trabalho.
No entanto, depois de muitos dias a pensar no dilema de dar ou não a gorjeta, surgiu o dia em que a olhar para o porta-moedas verifiquei que não tinha forma de contribuir para o Sr. Arrumador, que me olhava com aquele ar a querer dizer que eu estava em falta. Mas como regularmente levo a minha marmita para o trabalho, lembrei-me da minha peça de fruta… uma banana é o que eu poderia dar ao Sr. Arrumador.
A gorjeta
Ele ficou apreensivo, mas apressou-se a dizer-me que gostava de bananas.
Este episódio repetiu-se inúmeras vezes. Houve dias em que, o Sr. Arrumador tomava a iniciativa e me questiona “Tem a minha bananinha?”, esta, tem sido a minha substituição à gorjeta!
Passei a dar-lhe a banana diariamente e já me lembrei de lhe dar um cacho de bananas à segunda-feira, para estacionar o carro, nos outros dias da semana, sem pensar na forma de contribuição todos os dias da semana. Será que faço isso? ou devo dar algo mais do que a banana?
Recentemente não trouxe a banana e disse ao Sr. Arrumador – Quer um iogurte? ao que me respondeu “Ah… também gosto!”
Um dia dou-lhe a minha marmita… antes da sinalização que me obriga ao pagamento do aluguer do local/tempo, onde estaciono o carro naquele parque de estacionamento! Será que um dia esta relação de ajuda será quebrada?