“Oh as casas as casas as casas”, um poema de Ruy Belo que nos faz pensar na importância das casas na nossa vida. No período de pandemia que há mais de um ano vivemos, as casas foram para nós o centro de todas as possíveis vivências, desde o espaço onde habitamos, o espaço de lazer e de convívio familiar, ao local onde trabalhamos.
A casa é o nosso espaço que, de acordo com as nossas possibilidades, procuramos que seja acolhedor. É o lugar onde nos sentimos protegidos e onde construímos memórias, fazendo da casa o nosso lar. Como nos diz o autor deste belíssimo poema, as nossas casas distinguem-se umas das outras, distinguem-se designadamente pelo cheiro, as casas não morrem não só ao ser demolidas, morrem com a morte das pessoas.
“Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas”
Oh as casas as casas as casas
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo
Rui de Moura Belo nasceu em 27 de fevereiro de 1933 em S. João da Ribeira, Rio Maior. Entrou na Faculdade de Direito em Coimbra, tendo concluído o curso em Lisboa, em 1956. Em 1958, doutorou-se em Direito Canónico, em Roma. Publicou o primeiro livro em 1961, morreu em Queluz, em 8 de agosto de 1978.
Aqui pode ler uma Biografia de Ruy Belo
Sobre as nossas vivencias durante o período de pandemia pode ler:
O Nosso Diário da Pandemia – Hucilluc