Os comboios, inspiraram o fotógrafo Bruno César, mas os comboios também inspiraram grandes nomes da poesia portuguesa. No dia mundial da fotografia (19 de agosto), com a reportagem fotográfica de Bruno César queremos fazer um tributo ao fotógrafo e ao poeta Fernando Pessoa pois, cada um, com a sua arte, nos mostra que os pensamentos podem tomar forma e proporcionar a oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo.
No meu verso canto comboios (Fernando Pessoa)
No meu verso canto comboios
No meu verso canto comboios, canto automóveis, canto vapores,
Mas no meu verso, por mais que o ice, há só ritmos e ideias,
Não há ferro, aço, rodas, não há madeiras, nem cordas,
Não há a realidade da pedra mais nula da rua,
Da pedra que por acaso ninguém olha ao pisar
Mas que pode ser olhada, pegada na mão, pisada,
E os meus versos são como ideias que podem não ser compreendidas.
O que eu quero não é cantar o ferro: é o ferro.
O que eu penso é dar só a vida do aço — e não o aço —
O que me enfurece em todas as emoções da inteligência
É não trocar o meu ritmo que imita a água cantante
Pelo frescor real da água tocando-me nas mãos,
Pelo som visível do rio onde posso entrar e molhar-me,
Que pode deixar o meu fato a escorrer,
Onde me posso afogar, se quiser,
Que tem a divindade natural de estar ali sem literatura.
Merda! Mil vezes merda para tudo o que eu não posso fazer.
Que tudo, Walt — […] ? — que é tudo, tudo, tudo?
Todos os raios partam a falta que nos faz não ser Deus
Para ter poemas escritos a Universo e a Realidades por nossa carne
E ter ideias-coisas e o pensamento Infinito!
Para ter estrelas reais dentro do meu pensamento-ser
Nomes-números nos confins da minha emoção-a-Terra.
As cores, os comboios alinhados (fotografia de Bruno César) e o poema “No comboio descente” (Fernando Pessoa)
No comboio descendente
No comboio descendente
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada —
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada…
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela —
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela…
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não —
No comboio descendente
De Palmela a Portimão…
Saiba mais sobre Bruno César em: À conversa com Bruno César Fotógrafo
Reportagens fotográficas de Bruno César:
Pormenores – Reportagem Fotográfica de Bruno César
Reportagem fotográfica de Bruno César – A Estátua
Castanheiros – Reportagem fotográfica de Bruno César
Jardim das Tílias na Cidade do Fundão
Sítios de Bruno César:
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