Neste início do outono apresentamos o poema “Esqueço-me das horas transviadas..” de Fernando Pessoa. Este poema faz-nos refletir sobre as mudanças, alterações, transformações que imperam nesta altura do ano comparativamente com outras estações do ano.
Esqueço-me das horas transviadas
Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas…
Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…
Fernando Pessoa, em “Cancioneiro”