“Pormenores” é uma reportagem fotográfica de Bruno César. Como já é habitual, as imagens captadas pelo olhar do fotógrafo Bruno César, levam-nos a percorrer caminhos cheios de histórias com belos momentos de divagação e de reflexão sobre tudo o que nos rodeia.
Siga a história que, a reportagem fotográfica “Pormenores” de Bruno César, nos fez contar, ao olharmos os detalhes captados nas fotografias.
A Chave
Atrás das portas há segredos. Nas duas imagem seguintes, deparamo-nos com um detalhe de uma velha chave, numa porta que há muito não é aberta. Quem não fica a conjeturar sobre o que estará para além da porta fechada, quem será o dono desta chave, que histórias de vida estão associadas à chave e a porta? Que histórias de amor, de beleza e alegria ou de intriga e ódio, terão sido vividas atrás destas portas? Que fantasmas se passeiam pelo interior vazio das casa?
Pelo mistério da chave e da porta que esta imagem tem associada, recordamos um poema “A chave” de Drummond de Andrade – “A chave de uma porta que não abre para o interior desabitado”…
A chave
E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
A chave de uma porta que não abre
para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.
Aperto-a duramente
para ela sentir que estou sentindo
a sua força de chave.
O ferro emerge da fazenda submersa.
Que valem escrituras de transferência de domínio
se tenho nas mãos a chave-fazenda
com todos os seus bois e seus cavalos
e suas éguas e aguadas e abantesmas?…
……….
Drummond de Andrade “A Chave”
O Prego cravado na madeira
Continuando na captação de pormenores que surgem aqui e ali a um olhar atento, ao observar a imagem de um prego cravado num tronco de árvore, quase sentimos a sua dor…, tal como nos diz Álvaro de Campos na Ode Marítima.
“E possa eu sentir a dor dos pregos e nunca deixar de sentir!”
luz e Sombra
A vida é luz e sombra, a luz é alegria e amor a sombra sedução ou tristeza. A terminar este conjunto de fotografias de detalhes, uma imagem de luz e Sombra que nos remete para o poema “A Sombra sou eu” de Almada Negreiros.
A Sombra sou eu
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei dó que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
Almada Negreiros
Saiba mais sobre Bruno César em: À conversa com Bruno César Fotógrafo
Reportagens fotográficas de Bruno César:
Reportagem fotográfica de Bruno César – A Estátua
Castanheiros – Reportagem fotográfica de Bruno César
Jardim das Tílias na Cidade do Fundão
Sítios de Bruno César:
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