O papel da mulher numa sociedade em mudança
Vivemos numa sociedade em mudança, mas as mulheres – mães sós, mães que trabalham e com filhos pequenos, mães maltratadas e solitárias, mulheres que na vida profissional procuram a afirmação num ambiente onde o sexo masculino ainda desempenha um papel predominante, com lealdades divididas e maridos ressentidos – confrontam-se com tensões acumuladas desgastantes. Uma das maiores causas da doença mental é a disparidade entre o ideal e a consecução, entre o faz de conta e a realidade, entre a esperança e o resultado efetivo. A felicidade é encarar a realidade, gostar de si, com todos os seus defeitos.
Paula Norte, uma psicóloga especialista em Psicóloga Clínica, fala-nos sobre o tema.
Mulheres modernas – 2018
Paula Norte
Psicóloga Clínica em PsicoMindCare – Associação de Psicologia
Mestrado Integrado em Psicologia Clínica – ISPA
Avaliação e Intervenção Psicológica em Crianças, Adolescentes e Adultos. Avaliação Psicológica de Condutores
psipaulanorte@gmail.com
Não existem dúvidas de que as mulheres modernas estão sujeitas a um maior esforço psicológico do que alguma vez sucedeu. Paradoxalmente, nós mulheres somos em parte, as grandes responsáveis e provavelmente, temos de nos esforçar para nos libertarmos da situação em que nos encontramos. Gastamos imenso tempo, energia e mesmo dinheiro a pensar e a tentar fazer alguma coisa pela saúde física. Infelizmente, o mesmo não se aplica à saúde mental, e não devia ser assim. Para as mulheres, a saúde mental deveria ser tão importante, senão mais importante, do que a saúde física.
Em muitos aspetos da sua vida, as mulheres estão pressionadas como nenhum ser humano alguma vez esteve – mães sós, mães que trabalham e com filhos pequenos, mães maltratadas e solitárias, mães que trabalham, com lealdades divididas e maridos ressentidos – tensões acumuladas desgastantes.
Manter o equilíbrio psicológico, porém, exige uma espécie diferente de conhecimento pessoal da boa forma física. Também exige extremo realismo. É essencial que compreendamos que as nossas dificuldades não são únicas. Todas nós atravessamos períodos duros, e por muito desagradáveis que sejam a maior parte sobrevive. A adversidade é normal, na verdade, é uma condição da vida e não devemos reagir excessivamente a ela ou sentiremos que complicámos irremediavelmente a nossa vida e somos umas falhadas porque passamos por elas.
Quando as coisas correm mal, a reação natural é pensar que a culpa é nossa. Mas deveremos ter presente que as dificuldades do nosso ambiente, sobre as quais não temos controlo, poderão ser o fator principal. Tais como desemprego, doenças, família numerosa, falta de dinheiro, perda dos padrões sociais, violência na sociedade – são fatores que não controlamos.
Mas uma das maiores causas da doença mental é a disparidade entre o ideal e a consecução, entre o faz de conta e a realidade, entre a esperança e o resultado efetivo. As mulheres foram feitas, pelas vozes mais estridentes no movimento feminista e nos meios de comunicação, para sentir que se não entram com êxito no mundo dominado pelos homens, se não compensam parte do imaginário tempo perdido e passam ao ataque, se não realizam ardentemente cada inspiração, então são umas nulidades, umas falhadas. Claro que isso não é assim.
A felicidade é encarar a realidade. Um dos seus aspetos mais importantes é aprender o que deve fazer, decidir fazê-lo o melhor que puder e não se sentir incapaz porque não coincide com o que pensa que deve fazer. O mais importante é aprender a viver consigo própria. Mais importante ainda, aprenda a gostar de si, com todos os seus defeitos.