Solidariedade e apelo à Paz pela artista plástica Cláudia Ferro, que se junta a esta iniciativa com uma obra e um poema sobre tempos sombrios que vivemos.
A arte desempenha um papel fundamental no contributo para uma sociedade mais culta, mais inclusiva e mais humana. Nos dias presentes em que assistimos a ações de guerra na Ucrânia com consequências tão devastadoras para a vida humana, Hucilluc, Aqui e Ali – Liga-nos ao que nos rodeia, promove uma iniciativa junto dos artistas plásticos, para que a arte seja um veículo transmissor de solidariedade e de apelo à PAZ. A paz tão desejada pelos que diretamente vivem a situação de guerra e por todos nós humanos que habitamos partilhando, por um período de tempo tão limitado, o mesmo e único planeta.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!(Bertold Brecht)
Aos que vierem depois de nós
Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranquilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?
É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: “Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!”
Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.
Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.
Bertold Brecht