Zília Gonçalves, desde cedo amante da leitura, desafiou-se para se colocar do outro lado do processo e começar a escrever as suas histórias. Depois de escrever o seu primeiro livro fica perplexa, sentiu que:
Quando vi o primeiro livro pensei que era impossível ter sido eu a escrevê-lo, fiquei perplexa, senti-me uma estranha e comecei a lê-lo como se fosse uma leitora anónima qualquer. Gostei muito! Era uma escrita simples, acessível e interessante para se ler em qualquer sítio, por qualquer pessoa. Senti-me feliz
Inspire-se nesta entrevista à autora Zília Gonçalves, desafie-se e dê asas aos seus sonhos.
Zília Gonçalves, o que foi determinante para que se tornasse uma escritora? Qual a sua motivação?
Um desafio. Depois de tanto ler quis tentar o outro lado do processo.
É fácil conciliar o trabalho de escritora com família, vida profissional e social?
Quando se inicia um caminho destes sabemos quando começamos, mas não sabemos onde vamos ter.
Dificuldades podem ser barreiras ou podem constituir motivação para continuar. Ser fácil ou difícil depende de muita coisa, mas há uma que se chama “ter tempo”.
Encontrou alguma dificuldade no processo de criação do seu próprio estilo ou foi despontando e evoluindo gradualmente?
Quando iniciei a escrita já tinha delineado o projeto em esquema. Difícil foi controlar e manipular as personagens… o enredo… acertar os tempos… as mentalidades… dos “atores” que resolvi inventar, sendo que essa construção teria de ser fidedigna da época e do contexto.
Desde muito cedo que mergulhava na leitura de tudo o que lhe chegava às mãos. É fácil dividir o tempo entre leituras e escrita?
Ninguém cria nada a partir de “nada”.
Sempre li muito por necessidade e, sobretudo, por gosto.
Aquilo que escrevo é o corolário de uma necessidade que surgiu em determinado momento, não foi necessário dividir o tempo porque cada coisa teve o seu tempo e continua a ter.
Zília Gonçalves, já alguma vez se questionou “Como sei que a minha história é boa”?
Surgem sempre os receios e as dúvidas e, nessa situação, recorri a quem entendi ter sentido crítico suficiente para me fornecer uma opinião sobre o que escrevi; depois fui ganhando confiança e prossegui.
As inseguranças iniciais foram sendo esbatidas conforme fui ganhando confiança e é tempo de agradecer aqui o apoio dado pela Dr.ª Susana Freitas da Sana Editora, obviamente.
Sente alguma pressão quando está a escrever para vender bem ou não quer saber disso para nada?
Talvez possa colocar-me no meio-termo dizendo que gosto mais de saber que o que escrevo é lido.
Penso que o vender bem será condicionado por fatores que transcendem a função do autor.
Considero que seria leviano não querer saber disso para nada.
Zília Gonçalves, o que pensa quando vê as histórias, as personagens, que saíram da sua cabeça impressas e apresentadas num livro? Qual é o primeiro impacto?
Quando vi o primeiro livro pensei que era impossível ter sido eu a escrevê-lo, fiquei perplexa, senti-me uma estranha e comecei a lê-lo como se fosse uma leitora anónima qualquer. Gostei muito!
Era uma escrita simples, acessível e interessante para se ler em qualquer sítio, por qualquer pessoa. Senti-me feliz.
Qual é o pano de fundo da trilogia “Janelas Imperfeitas”?
Poderia destacar muitos panos, mas penso que
o mais importante da trilogia é fazer aparecer no amplo campo do Passado as “estórias” de vidas anónimas do Portugal profundo entre 1878 e 1974, (I-1878/1918 II-1918/1959 III-1959/1974 é o plano inicial do tempo) que se movimentam, preferencialmente, ao longo do curso do rio Mondego.
Tentei escrever Romance Histórico. O título escolhido, “Janelas Imperfeitas”, pareceu-me o mais acertado para aquilo que pretendia escrever.
Ao longo desta trilogia, o que acha que mudou no seu processo de escrita nos dois romances já publicados e no terceiro quase pronto?
Penso que adaptei o processo de acordo com as circunstâncias e que mantive o fio condutor idêntico aos três.
Poderia ter sido um volume e a ideia de o partir em I, II e III, deveu-se ao facto de não querer ser autora de um livro de grande lombada que, segundo penso, poderia arredar os leitores.
Já terminou o terceiro livro desta trilogia? Quando chega às livrarias?
Ainda não terminei o manuscrito porque tenho tido muito trabalho a recolher testemunhos orais variados/diversos que suportam, à posteriori, aquilo que verto para a escrita que ficciono. O tempo que irá decorrer até chegar às livrarias não sei porque já não depende de mim, nem sequer posso socorrer-me da experiência dos dois primeiros porque, mesmo entre esses dois, a demora foi diferente.
Entre o meu querer e vê-lo no escaparate, terei de ter paciência e esperar.
Se tivesse de recomendar dois livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles, quais seriam?
Resposta complicada esta! Para poder recomendar precisava de dialogar um pouco com cada leitor para bem tentar aconselhar pois as minhas preferências não serão, forçosamente, as mesmas há uma pulverização de gostos, imensos,…mas como penso que poderei escolher dois da tal lista infindável, escolho títulos de autores galardoados com o prémio Nobel da Literatura.
- Memorial do Convento de José Saramago porque, para além de um rei que prometeu construir um convento e de um padre que queria voar, ainda apresenta o romance com dois personagens: Baltazar, um ex-militar que perdeu uma mão na guerra havida entre Portugal e Espanha e que ao coto adaptou um gancho de ferro preso por correias e Blimunda que vê o interior das pessoas quando está em jejum. Conhecem-se no Terreiro do Paço onde decorre a procissão dos condenados ou ao degredo ou à fogueira da Santa Inquisição. Ambos formam um dos pares mais extraordinários da literatura portuguesa e vivem uma história de amor inesquecível. A história desenrola-se no tempo do rei D. João V, o Magnânimo, em Lisboa, S. João da Pedreira e Mafra.
- O amor nos tempos de cólera de Gabriel Garcia Marquez porque no livro, de conteúdo aparentemente pobre, o autor tece a história de Juvenal Urbino, famoso médico, que casa com Fermina Daza que suportará uma vida de felicidade aparente e que conseguirá libertar-se da sua própria teia para redescobrir o grande amor da sua juventude, 53 anos depois, na figura de Florentino Ariza. Ambos irão reviver, como se o tempo não tivesse passado, uma história de amor descrito de forma admirável. A história passa-se no virar do século XIX para o século XX, numa cidade colonial da América do Sul.
Zília Gonçalves, que projeto gostaria de fazer, mas ainda não começou.
Não poderei responder de forma objetiva porque ainda não terminei este que tenho nas mãos e na mente.
Se os meus projetos passarem, no futuro, pela escrita, será sobre o tema “viagem” e, a acontecer, surpreendente. Também gostaria de aperfeiçoar uma peça de teatro que deixei na gaveta. Se fosse possível sonhar gostaria que o meu livro servisse de ponto de partida para um filme ou novela de época.