Almoço terminado, fome saciada, conversa sentida, roteiro até agora cumprido … hora de seguir viagem em direcção ao nosso destino.
Os nossos amigos Luís e Carlota Santos vão numa carrinha Pão de Forma, atrás de nós, em fila indiana. Estes nossos amigos são um casal incrível, ele tem 39 anos e ela 41. São nossos companheiros de outras viagens, óptimos para conhecer novos sítios e adoram aventuras. Com eles a boa disposição reina e contagiam os demais. É muito fácil viajar com eles, são tolerantes e flexíveis, bem-humorados, excelentes convivas e parceiros de viagem. Tentamos ao máximo estar em grupo mas nada impede de se programar um passeio separado, ninguém precisa de ficar 24 horas por dia juntos. A confraternização fica para mais tarde sem qualquer azedume ou constrangimento de alguma das partes, numa salutar convivência.
É sexta-feira. Na estrada sente-se a excitação de um fim-de-semana alargado. Vamos devagar, não temos pressa de chegar e queremos usufruir das vistas quer a bordo da nossa “Vana” (diminutivo de autocaravana) quer a bordo da “Bimbo”, nome de uma marca de pão de forma (comestível).
As crianças deliram com a “Bimbo”, uma carrinha laranja torrado, cheia de pinturas coloridas, da Volkswagen, dizem que tem estilo e sempre que vão na Pão de Forma dão pulos de contentamento. Gostam de dizer aos amigos que vão fazer uma “road trip” na Bimbo, acham o máximo.
Completamente restaurada e transformada num carro-casa, ou melhor, numa tenda de campismo ambulante mas com rodas, inclui um chuveiro de campismo, um fogão tipo camping gaz, uma mesa de picnic e outros acessórios, não esquecendo uma cama para dois e os famosos sacos cama. Tudo feito por eles. Eles adoram bricolage e pintura, por isso andam sempre a restaurar e do velho fazem novo.
A decoração no seu interior, bastante colorida e criativa, é inspirada na série de desenhos animados “A carrinha Mágica”, uma série que conta as aventuras de uma professora e as peripécias que os seus alunos vivem, e que a Carlota devorava em pequena. Como ela costuma dizer quando se refere à sua meninice: “sentia-me a viajar pelo espaço, ou no interior do corpo humano, até debaixo de água se andava, era um apelo ao meu imaginário e ao mesmo tempo didático, pois aprendia sempre qualquer coisa”.
Adquiriram-na há cerca de 5 anos e desde aí não mais pararam. Descobriram que podem dormir, passar férias e fins-de-semana em qualquer sítio onde gostem de estar, a qualquer momento podem decidir partir sem preocupações de alojamento. Usufruir desta liberdade, pôr e dispor a seu belo prazer é fundamental para um estilo de vida muito próprio.
Em certa medida, são eles os responsáveis por comprarmos, a nossa “Vana”, já lá vão dois anos. É uma carrinha tipo familiar com capacidade para 5/6 pessoas. Tantas histórias nos contaram sobre as suas viagens que nos aguçaram o apetite, não é tão ornamentada quanto a deles mas tem o essencial, inclusive um chuveiro separado da casa de banho.
Tínhamos decidido antes de iniciar esta viagem, com 5 adultos e 2 crianças, em duas carrinhas, que iriamos poupar dinheiro tanto no transporte como no alojamento. Quanto às refeições essas seriam efetuadas nas localidades por onde passávamos para conhecer e desfrutar a gastronomia local – gozar um fim-de-semana em pleno sem trabalho culinário, é sempre fantástico. Ainda que a “Vana” estivesse equipada com um fogão de dois bicos e um pequeno frigorífico, mesa, cadeiras, enfim todos os equipamentos e utensílios próprios de um “estúdio”.
Diz-nos, apesar da tão pouca experiência, nestas “road trip” que procurar um lugar ideal para estacionar não se adivinhava tarefa fácil, por isso fez-se o reconhecimento da região e recolheram-se dados para não haver surpresas. Não nos podemos esquecer que em certos locais as autocaravanas não podem circular, por falta de espaço ou transito a mais, por isso há que pensar em alternativas.
Abastecemos os reservatórios de água potável antes da partida mas sabíamos que tínhamos de reabastecer de novo e fazer as descargas necessárias, “ao fim e ao cabo”, desculpem-me a redundância, o consumo de água em função do número de pessoas, para os banhos-duche, lava-loiças e sanitários ainda era elevado, por muito que se fizesse uma boa gestão do seu uso.
Tendo isso em linha de conta, quando programamos a viagem uma das nossas grandes preocupações era saber se no local do destino existiam parques para autocaravanas e quais as infraestruturas que ofereciam. Já os nossos amigos, com a sua “Bimbo”, são muito práticos, fazem as necessidades fisiológicas nos cafés das localidades. São só dois, não tem crianças e a “Bimbo” mais pequena que a nossa “Vana”, mas com espaço q.b., circula facilmente por qualquer lado. Menos uma preocupação para este casal que tem adiado a “instalação” de uma casa de banho … e depois!? Em caso de urgência tem o mato ou utilizam a nossa cassete sanitária.
Entre pesquisas, localizamos um em Terras de Bouro – o Pichoses Camping, um parque de campismo com área de serviço e de pernoita para autocaravanas, que dispunha do que precisávamos: ponto de conexão para abastecimento de água potável e descarga de água suja, bem como abastecimento de água e energia elétrica. Outra opção, o Parque de Campismo de Cerdeira, situado no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, ótimo para um fim-de-semana com crianças, que tinha sido recomendado por um outro casal amigo, e que segundo eles era um parque que já tinha sido distinguido várias vezes por ter boas práticas ambientais e sociais.
Entardecia muito rapidamente, a viagem já ia longa, o cansaço instalou-se e tínhamos decisões a tomar … Era a primeira noite da “road trip”.