À Conversa com Alcida Morais, artista plástica

Alcida Morais, a artista plástica que hoje vamos apresentar, é uma mulher que encontrou o prazer de se exprimir pela arte da pintura. Conhecemos esta artista e algumas das suas obras que nos deixam maravilhadas. Não só apreciamos as obras como a mulher que, tal como nós, acredita que tudo fica melhor e mais bonito quando partilhamos. Foi assim, que convidamos Alcida Morais para falar sobre si e apresentar as suas obras.

Quando estou a executar algum trabalho, o Mundo para. Não existe tempo e, desde que o resultado final vá de encontro à minha alma, qualquer obra é minha, é individual, é especial. Quando concluo um trabalho que gosto, ponho-o num local de passagem, bem visível e passo horas a “namorar”com ele.”

 

 

Para melhor conhecermos a Alcida Morais enquanto mulher e artista, fale-nos um pouco de si e do seu percurso de vida.

Alcida Morais: Filha de pais portugueses, nasci no Brasil, mas vim para Portugal ainda muito jovem. Aqui fiz o ensino secundário e licencie-me em Geografia, na Faculdade de Letras de Coimbra. Desenvolvi a minha carreira profissional leccionando maioritariamente em Caldas da Rainha, na Escola Secundária Raul Proença, onde estive até à Reforma.

Em criança tinha uma “mania”: quando me apanhava com lápis e papel, desenhava rostos femininos
Como e quando surgiu o apelo pela pintura? Houve algum momento específico ou algum acontecimento que lhe determinou a necessidade de se exprimir através da arte?

Alcida Morais:  Em criança tinha uma “mania”: quando me apanhava com lápis e papel, desenhava rostos femininos, mas nunca pensei seriamente que tal atitude pudesse resultar em algo no campo artístico. Foi já muito perto da Reforma (e porque a hipótese de ficar sem qualquer atividade punha-me doente), que pensei seriamente em enveredar por esse caminho: workshops, aulas de pintura aqui e ali, frequência de aulas de Desenho, pintura e teoria da cor na Sociedade Nacional de Belas Artes, bem como frequência de aulas no estúdio do aguarelista António Bártolo, proporcionaram-me conhecimentos técnicos que me permitiram, posteriormente, obter alguma satisfação ao realizar os meus trabalhos.

Para si, o que representa a pintura? É uma atividade criativa espontânea determinada por uma necessidade do espírito?

Alcida Morais:  Para mim a pintura pode mesmo ser uma atividade criativa espontânea determinada por uma necessidade do espírito.

Aqui surge-me uma questão: espontânea até que ponto? Espontânea no sentido em que sinto o apelo pela pintura e isso faz-me mover? Sim, é verdade. Espontânea porque a parte criativa brota do nada? Para mim não é verdade. Conhecimentos técnicos de pintura, de composição e muitos outros estão na base do meu trabalho.

Nós gostamos muito de ver o resultado da utilização das técnicas de pintura com aguarela e pastel, nas suas obras. Como escolhe a técnica mais adequada ao que pretende transmitir numa obra?

Alcida Morais: Tudo depende do efeito que pretendo obter no momento. A aguarela sempre me encantou mais que as outras técnicas. Gosto das pinceladas leves, do efeito da água e do seu trabalho sobre o papel. Gosto da parte do imprevisto que não surge tanto no pastel. Para trabalhos com muito mais definição e cores mais saturadas, opto pelo pastel seco, embora aprecie muito o trabalho realizado com pastel de óleo também.

Matisse dizia que: “A criatividade requer coragem”. Pode comentar?

Alcida Morais: Henri Matisse abriu caminhos na pintura, novas maneiras de ver e abordar a realidade, bem como outros tantos precursores da arte. Ocorre-me o nome de  Caravaggio, de Kandinski, Pollock e tantos outros. Sim, é preciso coragem para lutar com o preconceito não só na Arte, mas em qualquer área.

Como surge uma obra? O que a inspira? Tem algum momento particular de inspiração em que sente necessidade absoluta de exprimir a sua criatividade na forma de uma pintura?

Alcida Morais: Como surge uma obra… as fontes de inspiração são tantas e tão variadas que, na verdade, não sei responder com precisão à questão. Uma paisagem que se vislumbra  à nossa volta, um raio de luz que rasga uma zona escura fazendo-a vibrar, uma criança brincando na praia, tantas situações…

Gosto das pinceladas leves, do efeito da água e do seu trabalho sobre o papel. Gosto da parte do imprevisto que não surge tanto no pastel
Desconhecemos como se faz, por isso sentimos alguma curiosidade em saber quais as técnicas utilizadas na pintura a pastel e a aguarela. Será que se podem utilizar as duas na mesma obra? Pode descrever um pouco essas técnicas no sentido de estimular novos talentos escondidos ou “matar” a nossa curiosidade?

Alcida Morais: Na aguarela uso tintas específicas, de boa qualidade e de marcas variadas, papel de algodão também de qualidade, normalmente de 300g, pinceis macios, uns com grande capacidade de retenção de água, outros menos, depende do propósito que tenha. Esboço o desenho na folha e, na aguarela, é fundamental conhecer os pontos de secagem do papel. Cada fase exige uma forma de actuação diferente. Depois é deixar fluir, dando à agua a hipótese de fazer, também ela, o seu trabalho. Esta é uma técnica difícil.  No pastel seco, ao contrário da aguarela, começa-se do escuro para o claro. Os toque de luz, realizados com pasteis mais macios, são os últimos a serem dados. E claro, podem combinar-se as duas técnicas, o que produz resultados surpreendentes.

Cada concretização de uma obra em resultado do significado único e diferente do que se observa e/ou vivência, transforma-a numa peça singular. Se lhe pedirmos para eleger uma das suas obras como sendo especial, qual indicaria? O que a faz considerar especial?

Alcida Morais: Para mim seria impossível eleger uma das minhas obras como especial. A maior parte nasce na minha cabeça e no meu coração. Quando estou a executar algum trabalho, o Mundo para. Não existe tempo e, desde que o resultado final vá de encontro à minha alma, qualquer obra é minha, é individual, é especial. Quando concluo um trabalho que gosto, ponho-o num local de passagem, bem visível e passo horas a “namorar”com ele.

 

Veja Aqui uma galeria de imagens de algumas das obras de Alcida Morais

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