O dia 25 de abril de 1974 amanheceu vitorioso! Concretizava-se a revolução dos cravos levada a bom termo pela mão de militares. Um projeto, um sonho que nos permitiu alcançar um bem precioso: a liberdade!
Muitos de nós têm viva na memória as imagens e os sons que aconteciam um pouco por todo o lado no país, mas em especial nas ruas de Lisboa, na noite de 24 e no dia 25 de abril de 1974. Paz, pão, liberdade, habitação eram palavras de ordem clamadas pelo povo que saiu à rua em apoio aos militares revoltosos. Na radio ouvia-se Paulo de Carvalho cantando “Depois do Adeus” e “Grândola Vila Morena” por Zeca Afonso.
As mulheres na luta pela liberdade
Em celebração do 25 de abril, escolhemos falar de mulheres que desempenharam um papel fundamental na construção de um país novo. Um país onde hoje, temos o privilégio de viver livremente sabendo que muitos deram a sua vida em prol desse ideal. É um ideal difícil de concretizar, o caminho para a justiça, igualdade de género e social é ainda longo. Está nas mãos de cada um saber respeitar esse ideal contribuindo ativamente para a sua concretização.
Com esta inspiração no feminino falamos de mulheres que, mais ou menos visivelmente, se destacaram como: “companheiras na sombra”, Catarina Eufémia e de Sophia de Mello Breyner Anderson que a louvou num poema.
Catarina Eufémia – Morta a tiro no Alentejo, tornou-se mártir da luta popular contra o regime de Salazar.
Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu em Baleizão, no Alentejo, a 13 de fevereiro de 1928. Pertencia a uma família pobre, tinha pouca instrução como era normal nessa época nas zonas rurais e vivia do seu trabalho como ceifeira. Aos 26 anos durante uma greve de catorze mulheres assalariadas rurais, foi assassinada a tiro pela Guarda Nacional Republicana numa carga policial para dispersar as mulheres em protesto. Quando foi baleada Catarina Eufémia estava grávida do seu quarto filho e transportava ao colo um dos filhos com oito meses.
Esta mulher e a sua trágica história da resistência ao regime salazarista, ficou imortalizada não só na poesia de Sophia de Mello Breyner, como por Ary dos Santos, na voz de Zeca Afonso, entre outros.
Sophia de Mello Breyner Andresen – Uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões. Uma mulher de convicções, interventiva participou na denuncia do regime salazarista e os seus seguidores, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado e fez parte dos movimentos contra o antigo regime instalado.
CATARINA EUFÉMIA
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
.
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
.
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua.
Sophia de Mello Breyner Anderson
As “companheiras na sombra”
Até à revolução portuguesa as mulheres tinham poucos ou mesmo nenhuns direitos, tinham como função as tarefas domésticas e cuidadoras dos filhos. A mulher era subalterna e o seu lugar era em casa. Mesmo aquelas que trabalhavam, no caso das famílias mais pobres, tinham direitos reduzidos ou nulos. Para abrir uma conta bancária, por exemplo, tinham primeiro de pedir autorização ao marido e não só. Era impossível ser juíza e ser embaixadora muito menos. A própria luta feminista vivia na sombra da luta para derrubar a ditadura.
As mulheres que se opunham ao regime lutavam no seio de um movimento, mas mesmo aí tinham as mesmas tarefas que a sociedade machista forçava. Muitas eram analfabetas, tratavam das casas clandestinas … eram as ditas “companheiras na sombra”.
Muitas mulheres deram o seu nome pela luta contra o regime fascista.
Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, escritoras acusadas pelas autoridades portuguesas e apelidadas como “as três Marias”, as da pornografia e que, graças à Revolução de Abril, não foram presas. Maria Lamas, escritora e várias vezes presa foi forçada ao exílio.
Conheces mais mulheres na sombra e lutadoras? Acrescenta estas que aqui referimos, pois seria impossível lembrar todas as mulheres que ficaram e fizeram história. Marcaram a sociedade lutando pelos seus direitos, pela igualdade, pela carreira … Sinta-se em liberdade e lute por uma sociedade contemporânea, que ainda tem alguns problemas por resolver!
Leia aqui o texto “Liberdade” de José Carlos Albino
Nota: As imagens aqui publicadas foram retiradas da internet