O Velho do Restelo – uma personagem criada por Luís de Camões – é considerado um símbolo dos que não acreditam no sucesso. Surge na época dos Descobrimentos vaticinando o insucesso da primeira expedição à Índia. Por altura da expedição de Vasco da Gama, à saída das caravelas em Belém, um ancião (o Velho do Restelo) acusa todos os envolvidos na epopeia dos descobrimentos, de serem movidos pela cobiça de fama, glória e riquezas, não acautelando o que já se possui e não acautelando a vida humana, procuravam o desastre para si mesmos e para o povo português.
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
— Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
— A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?”
Os Lusíadas, Canto IV, 94-97
A imagem publicada foi retirada da Web em: https://www.slideshare.net/mariatpina/diapositivos-os-lusadas
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