Em homenagem a Amália Rodrigues, no mês em que se assinala o centenário do seu nascimento, partilhamos uma obra de artista plástica/pintora Márcia Dias que ilustra um poema de Sandra Ramos.
RODRIGUES, AMÁLIA
Enuncias que desconheces se choras por algum pecado,
trémula, imploras ao céu – que continue – fechado,
vês-te abandonada e com a força que te assiste, afirmas que não te desnegas.
Mulher de garra infinita, voz de um povo vergado aos teus pés…Mãe do Fado!
Por ti, declaras que já mais ninguém se detém…!
Mas, nós – o teu povo – somos seres imaculados, reféns da tua voz melodiosa;
uma nação munida do orgulho infinito sem destino,
rendida – na eternidade – às tuas sílabas soantes no caminho espinhoso.
Revestes o teu corpo de penas,
embrulhado, está, num xaile preto gasto pelo tempo;
mulher sôfrega de amores – numa entrega colossal – e perdida no encolher da madrugada.
Amas na negrura da noite e no envolvimento da alvorada,
dás-te a quem te quis;
e… bailas no teu batel… além do mar que dizes cruel!
Sorris, vives e sonhas com o Amor, Além-Mar; numa entrega resgatada e sem par!
Diva… na tua melodia, demandas que talhemos o teu caixão com o nosso machado,
reclamas que lavemos as tuas tábuas,
num beijo dado de mão em mão.
Um beijo aromatizado de urze e de lama numa mesa gentilmente adornada,
coberta de água e do fruto agreste…!
Na tua promessa divina e intemporal – TU – Amália, és a nossa pérola e pertença do teu povo.
Na dádiva presenteada, deste-nos,
na doçura emergente, o povo oferta-te a Admiração Imortal num grito Intemporal!
Grande Amália,
Mulher do Nosso Povo,
Orgulho de uma Nação,
Pérola do Nosso Oceano…!
Quisera – o Teu Povo – que não embarcasses no teu malfadado…, mas partiste…!
És a Amália – Nosso Destino – do berço até à morte anunciada!
Poema de Sandra Ramos
Imagem de capa; Obra de Márcia Dias