À conversa com Ana Coroado, Vice-Presidente da Associação Pais para Sempre

O trabalho de Ana Coroado, vice-presidente da Associação Pais para Sempre

Nos caminhos da vida conhecemos Ana Coroado, uma mulher muito particular, inconformista por natureza, não se satisfaz com pouco. Procura ter um papel ativo na sociedade dando o seu valioso contributo, como voluntária na Associação Pais para Sempre, procurando a salvaguarda dos direitos das crianças, em especial as de pais separados.

“Uma necessidade de fazer algo em prol do outro e simultaneamente em prol de nós próprios, na medida em que se procura dar um sentido à vida e talvez o sentido da vida seja fazer sentido nas outras vidas, contribuindo cada um com o seu saber e forma de agir para a construção de uma sociedade mais equilibrada.”

O testemunho de Ana Coroado, voluntária na Associação Pais para Sempre, na defesa dos direitos dos filhos dos pais separados.

Nós: Quer fazer uma breve apresentação sua?

Ana Coroado: Inconformista por natureza tendo já desistido na adolescência do sonho de seguir medicina, aos 35 anos, já mãe de uma filha de 8 anos, numa procura incessante de conhecimento, desenvolvimento pessoal e realização abandonei um emprego que não me trazia qualquer satisfação e fui fazer o curso de Psicologia – área da Psicologia Social, que englobava a área das Organizações e da Família, o que se veio a revelar numa experiência muito engrandecedora a todos os níveis, provavelmente muito maior do que se o tivesse feito na altura própria dos 18/20 anos.

Apesar da minha área de formação e de preferência ser a da Família, desenvolvi trabalho no recrutamento de recém-licenciados para uma consultora, em Psicologia Educacional numa escola e trabalho num organismo público desde 2001.

Hoje, com 59 anos continuo inconformista…

 

Nós: Na sua filosofia de vida o voluntariado, como membro ativo de uma sociedade, desempenha um papel importante? Que falar-nos um pouco sobre o tema e sobre o papel de cada um de todos nós na sociedade?

Ana Coroado: Etimologicamente, a palavra voluntário vem do Latim Voluntarius “de própria vontade”, de voluntas, “vontade, desejo”, de velle, “querer”. Da junção destes predicados surge o voluntariado como uma necessidade de fazer algo em prol do outro e simultaneamente em prol de nós próprios, na medida em que se procura dar um sentido à vida e talvez o sentido da vida seja fazer sentido nas outras vidas, contribuindo cada um com o seu saber e forma de agir para a construção de uma sociedade mais equilibrada.

Voluntariedade é uma forma de estar e que se reflete na ação do dia-a-dia. É igualmente um acto de solidariedade, com a dor outro doendo em nós.

Sempre que se fala e pensa em voluntariado, creio que a sua melhor definição se encaixa na perfeição nas palavras de Mahatma Ghandi “Quem não vive para servir, não serve para viver”

Zelar pelos direitos das crianças – Pais para Sempre

 

“…procura dar um sentido à vida e talvez o sentido da vida seja fazer sentido nas outras vidas”

 

 

 

 

Nós: Como teve conhecimento da Associação e como aconteceu/concretizou o seu compromisso? Teve de fazer prova que possui a formação e as competências necessárias?

Ana Coroado: O meu contacto com a Associação teve lugar em 1999, quando em contexto académico, tive que fazer uma tese/projeto de investigação no final do curso no âmbito da Família. Tinha feito o estágio curricular na Equipa de Menores em Risco e na Equipa de Família do Instituto de Reinserção Social (atualmente Direção Geral de Reinserção Social)  do Tribunal de Lisboa e, por indicação da minha orientadora – Prof. Dra. Maria Isabel de Santa Bárbara Narciso, também ela associada Fundadora da Associação foi-me proposta efectuar essa investigação na Associação. Então, em parceria com uma colega de curso desenvolvemos um projeto de investigação tendo como base a problemática que envolvia os utentes da Associação.

Esta investigação acabou por se intitular Padrões de Conduta face à Separação ou Divórcio e Regularização do Exercício do Poder Paternal e está disponível no site da Associação (atuamente, a designação de Poder Paternal foi substituída por Responsabilidade Parental, com a intervenção da APPS na alteração de terminologia, uma vez que tal como considerado por Barthes e Lacan, “pensamos com as palavras”, sendo estas o veículo de transmissão do pensamento, usadas para construir ideias, conceitos e pensamentos.)

 

Nós: Trabalha na associação Pais para Sempre como voluntária porque escolheu essa associação para fazer voluntariado?

Ana Coroado: Após o trabalho efetuado para o projeto de investigação, fui ficando, dando continuidade ao trabalho já iniciado. Não éramos muitos, mas tínhamos todos muito interesse em fazer a diferença, quer através dos acompanhamentos quer através da pressão junto dos órgãos legislativos no sentido das alterações que poderiam contribuir para uma sociedade mais equilibrada.

Nós: Que mensagem quer transmitir a pais que se encontrem numa situação de separação do casal e vivam conflitos envolvendo os filhos, motivando-os na procura de ajuda para encontrar uma solução.

Ana Coroado: Porque o lema da Associação é o superior interesse da Criança, focamo-nos na forma como ela irá percecionar a alteração familiar. Assim, apesar de não haver divórcios felizes, o divórcio não é a dissolução da família e as crianças têm o direito de serem amadas e educadas pelos dois Pais. Mais, têm o direito de continuar a manter relações estreitas com a família alargada – avós, tios, primos.

A separação ou o divórcio é um dos acontecimentos da vida do indivíduo que envolve um elevado nível de stress e por sentimentos negativos como a perca, rejeição, ódio, retaliação, vingança. Não deixar que estes sentimentos atinjam os filhos é uma mestria.

Falar com os filhos, preferencialmente, em conjunto, logo que tenham a certeza que a separação/divórcio é definitiva, é fundamental, evitando explicações que a criança poderá nem entender – “Todas as justificações que se possam dar acerca do divórcio são falsas justificações, a única coisa que se pode dizer à criança é que cada um dos seus pais vai assumir as suas responsabilidades e que ambos serão sempre os seus pais” (François Dolto).

Quando ambos os pais partilham o momento de contar aos filhos e partilham a responsabilidade da separação pelos dois, os filhos apresentam um maior ajustamento. Se não o conseguirem fazer juntos, pelo menos devem assegurar-se de que partilham a mesma versão dos factos.

Devem ter um plano do que vão dizer, passando sempre a mensagem no plural: “nós pensamos que, achamos que é melhor…” Ao falarem no plural estão a fazê-lo como pais daquela criança e não como um dos membros do casal.

Não basta explicar uma vez. Devem deixar os filhos à vontade para fazer perguntas.

Não é apropriado entrar em pormenores íntimos.

E, sobretudo, a criança precisa saber que não é culpada, de que nada que ela tivesse feito ou viesse a fazer, mudaria o rumo da situação.

É igualmente imprescindível clarificar que não existem culpados. Não pode haver os bons e os maus

Deve explicar-se muito bem aos filhos as mudanças que terão lugar nas suas vidas a partir do divórcio: casa, escola, rotinas.

Verbalizar ao filho que o ama e que a relação pai/filho – mãe/filho é para toda a vida.

Procurar a ajuda de um técnico poderá ser necessário e desejável.

A relação pai/filho – mãe/filho é para toda a vida

 

“Falar com os filhos, preferencialmente, em conjunto, logo que tenham a certeza que a separação/divórcio é definitiva, é fundamental, evitando explicações que a criança poderá nem entender”

 

 

 

Nós: Tem alguma situação, que queira referir, em que tenha estado envolvida e que lhe tenha trazido uma satisfação especial pelo seu contributo de ajuda?

Ana Coroado: Os contactos chegam-nos habitualmente de um dos progenitores em busca de aconselhamento jurídico ou psicológico Neste caso, o apelo foi de uma tia – irmã de um pai – completamente destroçado pela separação muito conflituosa, com contornos de violência física e de alienação parental, alienação que se estendia a toda a família paterna de um jovem com cerca de 15 anos.

De uma tia que não considerava possível deixar de estar presente na vida de um sobrinho que tinha acompanhado de perto desde o nascimento.

De um momento para o outro o corte atingiu uma família extraordinariamente unida e que incluía pai, tios, primos e avós.

Convém salientar que estas situações são transversais a todos os extratos sociais. Neste caso, tratava-se de uma família muito diferenciada em termos académicos, culturais e económicos.

Fizemos um atendimento conjunto com um jurista da Associação, delineou-se o procedimento jurídico e, posteriormente, eu acompanhei a situação sob o ponto de vista psicológico com a tia, que apesar de tudo acalentava muitas esperanças de conseguir chegar ao sobrinho, através de mensagens, às quais nunca obteve resposta.

Entretanto, face a este desafio de escrever sobre esta problemática, tomei a iniciativa de recentemente a contatar esta tia na esperança de poder terminar este desafio com um final “feliz” ou pelo menos, apaziguador.

Lamentavelmente, a situação mantém-se. O sobrinho, agora com jovem adulto, não responde a mensagem – não quer qualquer contato com a família paterna.

O que sucede nestes casos é que, os filhos vítimas (porque são vítimas) da alienação parental assumem um dever de lealdade com o progenitor com quem vivem e cortam laços com o outro progenitor.

Há laços que uma vez cortados dificilmente se restabelecem, apesar de haver relatos de filhos que anos mais tarde procuram os progenitores de quem um dia foram afastados ou de quem se afastaram.

Há laços que uma vez cortados dificilmente se restabelecem

 

“E, sobretudo, a criança precisa saber que não é culpada, de que nada que ela tivesse feito ou viesse a fazer, mudaria o rumo da situação.”

 

 

 

 

 

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Ana Coroado, Vice-Presidente da Direção

 

Leia a entrevista de João Mouta, presidente da Associação Pais para Sempre.

 

Conheça a Associação Pais para Sempre visitando a página do seu sítio na Internet

Endereços: e-mail: direccao@paisparasempre.eu http://www.paisparasempre.eu

 

Nota: As imagens aqui publicadas foram retiradas do site Pais para Sempre

 

Um comentário em “À conversa com Ana Coroado, Vice-Presidente da Associação Pais para Sempre

  1. Boa noite, gostaria de entrar em contato com esta associação pais para sempre

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