À conversa com Eduardo Nunes, artista plástico

à conversa com Eduardo Nunes

À conversa com Eduardo Nunes, artista plástico cuja vontade de desenhar, pintar e reconstruir vem desde a infância. Eduardo Nunes vê na sua atividade artística de pintura, um ato de liberdade, não divorciada do que o rodeia incluindo de si próprio.  Conheça, com esta entrevista, um pouco mais do artista Eduardo Nunes, da sua arte e do seu significado.

 

“… as minha obras são por si sempre uma atividade isolada, divorciada de todas as coisas mesmo de mim que as produzo, é como uma catarse.

A arte gera significados, e é nessa busca que o humano continua.”

 

 

Fale-nos um pouco de si, do seu percurso e de como surgiu o gosto e a vontade de se dedicar às artes plásticas?

A vontade que tenho de desenhar, pintar, reconstruir vem desde a minha infância, o meu pai era desenhador de equipamento industrial e desde novo me habituei ao estirador aos papeis e variadas canetas e lápis, deu-me a minha primeira caixa de aguarelas quando eu tinha 10 anos com 100 pastilhas de cor a partir comecei a aguarelar a fazer copias de quadros a partir de um livro que tinha em casa , As Cem Principais Pinturas da Europa, depois naturalmente entrei para a António Arroio, depois fiz um curso de Restauro e Manufatura de Azulejo Hispano-árabe, Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes e ingressei na Faculdade de belas Artes da Universidade de Lisboa.

 

 

Nas suas obras vemos muito representada a natureza rude de serras e paisagens naturais. É na natureza que encontra inspiração? O que mais o inspira?

No caso dos trabalhos apresentados na Galeria Oriq na minha última exposição, houve uma transmissão de uma experiencia vivida na serra da Estrela, esse processo começa sempre pela recolha de fotografia, desenho e aguarelas do local ou do tema que vou processar, e aí escolho o tipo de técnica e materiais a usar.

Obras de Eduardo Nunes

Nunca me agarrei a um tipo de pintura, a cada exposição um exercício novo daí serem diferentes no meu percurso técnicas, materiais e estilos. Para a minha próxima exposição a temática e o processo criativo foi completamente diferente, é assim a minha maneira de ver a pintura, as minha obras são por si sempre uma atividade isolada, divorciada de todas as coisas mesmo de mim que as produzo, é como uma catarse.

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Como é o seu processo criativo? Primeiro observa, pensa a obra e depois escolhe a técnica, materiais, etc., que mais se adequa à sua visão do que pretende representar? Ou primeiro há uma ideia concreta do que quer representar?

Geralmente penso num assunto, e o processo começa naturalmente da maneira mais descontraída possível, começo por escrever sobre o que pretendo e começam a ganhar forma as imagens que passo para desenho aguarelas. Só depois o trabalho na tela, e só aí são apresentados os materiais que mais se adequem.

 

Materiais utilizados na composição de uma obra

 

O que me interessa é o resultado final. A apresentação concreta da minha expressão enquanto artista que contém as minhas qualidades a minha sensibilidade a minha experiencia, mesmo sabendo que é uma atividade vã para todos.

Que técnicas e materiais utiliza para criar as sua obras?

Sou bastante maleável em relação as técnicas e materiais, consoante o que quero representar por vezes até técnicas diferentes na mesma tela, o mais usado é, sem dúvida, o acrílico mas uso também aguarela, pastel de óleo.

 

Há alguma corrente de arte com a qual mais se identifica? Tem algum artista que particularmente admira?

Talvez o Figurativismo mas por vezes navego noutros quadrantes da pintura como o Abstracto.

Artistas que que admiro são vários entre portugueses gosto de Carlos Botelho, Paula Rego, Possolo depois estrangeiros Lucien Freud, Miquel Barceló, Peter Doig, Chagall, Pollock.

 

 

Durante a sua carreira como artista, realizou várias exposições individuais e coletivas. Qual foi a mais importante ou a que constituiu um marco impulsionador na sua carreira como artista?

A primeira exposição, acho que para todo o artista, deve ser sem dúvida, a mais importante é a primeira vez que se expõe aos olhares às criticas e às opiniões de outros. Todas as exposições são importantes porque são sempre um desafio onde há expectativa e onde melhoramos as nossas capacidades relativas à nossa Arte. Depois, durante o percurso como artista, há sem dúvida algumas que me marcaram mais, que tiveram um gosto especial e isso de serem impulsionadoras. Por exemplo, uma Individual em 2011 na Fábrica de Braço de Prata, em que fui sujeito a um desafio, traduzir para pintura música! Um CD dos “Dias de Raiva” uma banda composta por Carlão (Da Weasel), Fred (Buraca Som Sistema), músicos dos Oióai e Dapuncksportiv, um disco que destilava violência, sexo, desalento social, adorei!  As críticas superaram o medo da apresentação de um tema tão pesado.

 

Durante a sua carreira como artista, realizou várias exposições individuais e coletivas. Qual foi a mais importante ou a que constituiu um marco impulsionador na sua carreira como artista?

Não trabalho diretamente com nenhuma galeria, à medida que vou produzindo vou tentando expor, nem sempre é fácil em Portugal até porque há um distanciamento social em relação às galerias, porque a arte não é um produto de consumo, ainda se compra arte em Portugal para que decore lá em casa um lugar bem preciso numa parede da sala, por exemplo entre dois vasos chineses: por conseguinte é necessário que a tela seja de dimensões determinadas e tenha uma certa cor determinante.

Obra de Eduardo Nunes
“A arte gera significados, e é nessa busca que o humano continua.”
Com que galerias ou outros artistas trabalha? Há alguma exposição para breve, em que vá participar

A minha próxima apresentação será passo a publicidade, na Cordoaria Nacional de 23 a 27 de Março, no Festival de Arte Contemporânea.

 

No seu ponto de vista, para além do talento inato, considera que a capacidade humana de nos mantermos curiosos sobre tudo o que nos rodeia é fundamental para que um artista e a sua obra sejam reconhecidos? O que mais considera importante?

Penso que desde a Pré-história há uma vontade de representar aquilo que nos rodeia e à medida que as capacidades, aprendizagem, engenho, técnicas e materiais foram evoluindo a arte nela mesmo também., A sensibilidade a experiencia a recetividade o caracter do observador estão implicados e, como todos em todos os domínios da vida, a sua qualidade determina o valor do seu julgamento e a profundeza das suas reações, do que acabo de dizer, deduz-se que a intenção criadora do artista e a reação do observador podem não ser idênticas mas é por essa via que as obras e os artistas serão reconhecidos.

A arte gera significados, e é nessa busca que o humano continua.

 

Considera que a cultura e em especial a arte plástica, tem um papel fundamental na criação de uma sociedade mais consciente e aberta?

Claro que sim.

Todas as áreas culturais, não só as artes visuais mas o teatro, música, escrita, as novas formas digitais são importantíssimas para o nosso crescimento como humanos e tantas vezes descuradas e é bom que sejamos mais participativos.

Se a sociedade não aprender a apreciar os seus artistas, este espirito vulgar e medíocre, esta falta de sensibilidade e esta canonização do ordinário, que marcam cada vez mais as sociedades, acabarão por submergi-los.

 

 

Num mundo cada vez mais tecnológico, como vê a influencia da tecnologia na criação de arte e na sua divulgação ao público?

O pintor moderno encontrou graus variados de abstração que lhe são necessários para exprimir o seu sentimento de que a arte académica se tornou vã, que não está mais dentro dessa maneira como se vive hoje, não se coaduna com o computador, com a guerra moderna, os grandes acontecimentos; ele quer exprimir o seu sentimento mais importante desta questão: a arte académica não está em relação com o sentimento de que o Homem está cada vez mais despersonalizado, cada vez mais submetido ao poder da ciência que ele inventou.

A arte do pintor moderno é uma tentativa por vezes desesperada, geralmente em busca duma verdade, duma ordem e duma fé que lhe permitam viver na dignidade.

Por outro lado, o poder tecnológico sobrepõe-se a tudo, a era pertence à técnica, somos subjugados por ela e sem ela já não vivemos.

 

Que mensagem quer deixar a todos os que se querem iniciar ou projetar no mundo da arte?

Primeiro que tudo nunca abandonar o sonho de serem aquilo que pretendem, não se isolarem e sobretudo acreditarem em si mesmos, e por último com trabalho e perseverança tudo se consegue.

 

Serra da Estrela - uma obra de Eduardo Nunes

 

 

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