Os muros e grutas nas Serras de Aire e Candeeiros

Passeio pelas Serras de Aire e Candeeiros

Sugerimos-lhe um fim de semana em contacto com a natureza, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, descobrindo e encantando-se com o seu património natural e arquitetónico.

Queremos que vivencie esta experiência, apurando todos os sentidos e deixando-se cativar pelo encanto da paisagem, pela simplicidade e autenticidade de tudo e todos. As experiências em contacto com a natureza são um forte impulso à consciencialização da urgência de atitudes na preservação do ambiente dando condições à continuidade da vida na terra. Já todos sabemos o que cada um tem de fazer para salvar a “nossa casa”, mas é quando estamos em contacto com a natureza que esta urgência mais se revela.

 

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros é a mais importante zona calcária de Portugal. É uma área protegida com de cerca de 38 900 hectares, abrangendo os territórios pertencentes aos concelhos de Alcobaça, Porto de Mós, Alcanena, Santarém, Torres Novas e Ourém.

É o facto de a rocha calcária ser predominante que nesta zona, os elementos naturais como a água e o tempo, modelaram o solo e subsolo dando origem a várias grutas fantásticas, das quais destacamos as de Santo António.  À superfície, surpreendem-nos os muros de pedra solta, as formas insólitas de elementos geológicos naturais como os algares, os campos de lapiás, as dolinas, as uvalas e os poljes. Também aqui podemos apreciar o testemunho da existência remota de dinossauros observando as pegadas impressas na rocha na Pedreira do Galinha, em Ourém e de fósseis marinhos do período Jurássico na pedreira do Cabeço da Ladeira.

Pernoitar e descobrir a região

Por tudo isto e muito mais que poderá descobrir nesta bela região, sugerimos que comece já a programar um fim-de-semana reservando duas noites num alojamento local para melhor se entrosar na região. Nós escolhemos ficar no “Retiro da Avó Lídia” situado na Mendiga. Uma casa que prima pela simplicidade, por uma limpeza impecável e pela simpatia das duas irmãs que gerem este espaço acolhedor. Aqui pode recolher informação sobre a região e os seus inúmeros pontos de interesse e a possibilidade de fazer percursos pedestres.

A origem do nome Mendiga

A Mendiga situa-se num vale de planalto, limitado pelas Serras de Aire e Candeeiros. Os recursos agrícolas são fracos, a principal atividade económica local é a extração de pedra, em pedreiras. Em 2013 integrou a União de Freguesias de Arrimal e Mendiga.

Segundo tradição oral, no início do povoamento de Mendiga havia apenas três casas dispersas. Nelas habitavam alguns mendigos, dando origem ao nome da localidade: MENDIGA. Posteriormente, surgem na zona algumas albergarias que por ordem de D. Afonso Henriques, estavam obrigados a darem pousada, candeia, fogo, água e estrebaria de graça aos caminhantes e mendigos que por ali passassem. Como recompensa apenas pagavam o dízimo à Igreja, pois naquela época, estava-se na fase da Reconquista Cristã e Mendiga era um ponto estratégico.

O Castelo de D. Fuas Roupinho

Vindos da Nazaré, parámos em Porto de Nós para apreciar o seu belíssimo castelo, também conhecido como o castelo do Alcaide D. Fuas Roupinho.  Data da época de D. Afonso Henriques tendo desempenhado um importante papel na defesa de Leiria por altura da reconquista cristã da Península Ibérica. Ao longo dos anos, aqui se viveram vários factos históricos com guerras e crises, mas foi D. Afonso, o 4º conde de Ourém e filho do duque de Bragança que, em meados do século XV, transforma o castelo medieval num solar renascentista. Com o terramoto de 1755 a estrutura do castelo foi muito danificada em particular o alçado norte. Já no século XX, após a sua classificação como Monumento Nacional, o castelo tem vindo a ser restaurado.

O castelo possui uma forma pentagonal irregular com cinco torres, em estilo gótico e renascentista. As duas torres viradas a sul, são as que permanecem mais conservadas, estão encimadas por belos coruchéus piramidais verdes. As torres são reforçadas por uma série de mísulas, que lembram asas de anjos. No espaço entre as torres, existe uma varanda dupla com elementos decorativos e arcos conopiais misulados.

 

As lagoas e as andorinhas em seus voos rasantes

A visita à zona da Mendiga levou-nos a circular pelas estradas locais que nos levaram a apreciar as três lagoas que se situam na freguesia do Arrimal. Ao longo de todo o percurso e porque ainda é primavera, pudemos observar o constante voo rasante de elegantes andorinhas que cruzavam a estrada na procura de alguma semente caída.

A água é um bem precioso e pelo facto de estarmos numa região predominantemente calcária a água é escassa à superfície. Para além dos inúmeros pequenos poços em pedra calcária pudemos apreciar a Grande Lagoa situada junto ao Arrabal que reúne fluxos aquáticos provenientes de Vale de Espinho, a Pequena Lagoa que reúne águas chegadas de Mendiga. A fauna local é variada inclui a galinha-d’água, o mergulhão pequeno, o sapo comum, a rã-verde e a cobra-de-água que repentinamente surge a serpentear perto de nós.

A água, o engenho do homem

Ainda na Mendiga comprovamos o engenho do homem que, aproveitando as características da natureza, recolhe a água das chuvas para consumo doméstico. Referimo-nos aos “Telhados de Água”.

Passando junto à igreja da Mendiga, subimos ao Serro Ventoso, deparámo-nos com um parque verde vedado, uma área de lazer onde já estavam algumas pessoas usufruindo desse espaço. Para além da vista admirável sobre o território envolvente, vemos o engenhoso sistema de captação da água e seu armazenamento. A água da chuva, que não se infiltra, escorre das rochas que estão naturalmente inclinadas, é recebida em caleiras que a encaminha para um sistema de filtragem natural, feito de areias e outros inertes, armazenada em tanques de onde sai para o abastecimento das populações. No local pode ver uma maqueta explicativa de todo este processo de captação e filtragem de água. O sistema, inaugurado em 1954, foi mandado construir por Manuel Batista Amado para que a população pudesse ter a acesso à água.

O vento traz aromas do campo

Em direção à pedreira do Cabeço da Ladeira, para conhecer a “Praia Jurássica”, cruzámo-nos com pequenos rebanhos de cabras que pastam junto às bermas da estrada.

Subimos a pé por caminhos estreitos, ladeados de muros de pedra solta que limitam as pequenas propriedades onde, tranquilamente pastam vacas.

Chousos, muro de pedras soltas, construído para delimitar terrenos são uma imagem constante nas Serra de Aire e Candeeiros

O vento traz aromas do campo, aroma de alecrim e de várias outras plantas autóctones aromáticas e medicinais como a sálvia. Mas não menos fascinante e admirável são os muros de pedra solta construídos pelo homem. Se observarmos com atenção, surpreendemo-nos com as formas peculiares que o tempo e a água criaram nas pedras calcárias.

 

Olhamos a paisagem árida talhada de muros e as pedras, curiosas, retribuem-nos o olhar.

 

Chegados à pequena pedreira, observamos os fósseis aí existentes, muitos foram já retirados para o museu Museu Geológico do Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia, estando a ser substituídos por réplicas. Observando estes vestígios de vida marinha somos transportados, pela imaginação, para épocas longínquas do Jurássico Médio, quando o mar de águas calmas e temperadas submergia esta área.

O pastor e o seu rebanho

Continuando de passeio vamos em direção às tão conhecidas grutas de Santo António. Pelo caminho, continuam a destacar-se os chousos, as pequenas propriedades limitadas pelos já referidos muros de pedras soltas.  Os muros construídos com as pedras que os habitantes locais retiraram dos terrenos para tornar os solos mais aráveis e assim moldaram a paisagem nas serras.

Nesta época do ano, os campos ainda se encontram floridos! As papoilas vermelhas à beira da estrada e as velhas oliveiras nos campos são uma constante na paisagem.

Já próximo das grutas parámos o carro, pois um pastor atravessava a estrada com o seu rebanho. Numa breve conversa, pergunto-lhe se posso tirar uma foto para publicar. Ele responde sorrindo: “Mas eu não sou bonito!”.

É bonito sim! É bonito porque a beleza nos humanos, está muito além da roupa, vem de dentro e a elegância está na simplicidade dos seus gestos.

 

Esta serra e a sua aridez guarda, sem dúvida alguma, histórias de vidas simples e difíceis.
Revisitar as grutas de Santo António
Gralhas

 

Chegados ao local das grutas pela hora de almoço, tomámos uma deliciosa refeição no restaurante “A Gralha”. Um espaço agradável, com um serviço atencioso e comida de boa qualidade.

O nome do restaurante e a descoberta das grutas deve-se ao facto de no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros existirem inúmeras gralhas.

Na zona vimos com pena, várias construções abandonadas. Há uns anos atrás eram restaurantes e espaços de comércio aonde acorriam muitos visitantes.

As grutas são locais fascinantes e as de Santo António são admiráveis! A quantidade de esculturas naturais com formas inusitadas desafiam a imaginação de qualquer artista. Entrámos na gruta acompanhados do guia. Éramos apenas um grupo de 5 pessoas e como tal, houve oportunidade para uma conversa mais pormenorizada e informal. O guia começa a visita por nos contar a forma como as grutas foram descobertas.

A história da descoberta das grutas de Santo António

No ano de 1955, um dos trabalhadores da pedreira tinha levado o seu filho de 5 anos com ele. Traquina como todas as crianças, gostava de correr pela serra atrás das gralhas. Já afastado da pedreira, vê que a gralha, se refugia numa cavidade, um algar que se desenvolve predominantemente na vertical. A criança volta para junto do pai e conta-lhe que descobriu um buraco muito fundo. A insistência do rapaz e a curiosidade do pai, levaram que este e os seus colegas partissem a explorar o local. O guia fala da coragem dos homens que, munidos de cordas e candeeiros descem até às profundezas escuras da gruta. A pouco e pouco, orientando-se pelas correntes de ar, vão retirando alguns blocos abrindo passagem para outras salas subterrâneas.

São cerca de 239 metros de salas que compõem estas espantosas grutas. Uma chaminé natural assegura a ventilação e uma temperatura no interior que ronda os 16º-18ºC.  A iluminação é artificial, mas bem colocada para uma melhor apreciação das insólitas formações rochosas

A nascente do rio Alviela

Já no regresso a Lisboa, ainda houve tempo para uma paragem junto à nascente do rio Alviela, uma gruta designada por Gruta do Alviela. O rio percorre cerca de 52 quilómetros até desaguar no Tejo, no concelho de Santarém.  Faz parte do sistema de abastecimento de água da EPAL à cidade de Lisboa e municípios limítrofes, desde 1880.

Junto à nascente do rio Alviela

 

 

Restaurante A Gralha

As Grutas de Santo António e de Alvados

Casa de Campo Retiro da Avó Lídia

 

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