Carlos Saramago o artista, um pintor de sentimentos, que vive a arte e que, com ela, deseja:
“… provocar quem vê, quero que as pessoas sintam admiração ou recusa. A arte é isso mesmo, uma forma de transmitir mensagens, sentimentos…”
“Declaro a independência da imaginação e o direito do homem à sua própria loucura.”
Salvador Dalí.
A pintura é uma forma de manifestação artística existente há muito tempo na história da humanidade. O facto de se apreciar arte não significa que se consiga compreendê-la sem abrir a mente e especialmente o coração para receber toda a sua grandeza. Na sua opinião, como se incentiva a viver uma experiência artística?
A arte é liberdade de pensamento, acredito que fará sempre parte da história. Não precisamos perceber de pintura, sente-se que se gosta ou não, arte tem essa obrigação “mexer com os sentimentos”. Todo esse incentivo passa pela educação das crianças. Desde logo cedo, levá-los às exposições, museus, teatros, esse caminho deve ser feito e urgentemente. pois a era dos computadores veio atrapalhar o conceito “artístico físico “.
Como começou o seu interesse ou gosto pela arte? Em que momento sentiu necessidade de se expressar como artista plástico?
A minha preferência pelo desenho iniciou se logo em pequeno, possivelmente com 6 a 7 anos. Copiava banda desenhada, os heróis da Marvel, mais tarde surgiram as primeiras ideias mais intimistas. Sinto que as coisas acontecem naturalmente, podemos aprender a desenhar mas ser criativo na arte é um Dom!! ou tens ou tentas ser …
É um autodidata ou tem formação específica na área das artes plásticas?
Sou um autodidata, claro que a minha estadia na suíça em convívio com amigos artistas, aprendi algumas técnicas, principalmente o acrílico e óleo. Isso ajudou-me a atingir mais rápido os meus objetivos ainda hoje ando a aprender, todos dias …
Quais os artistas da atualidade ou do passado que mais admira?
Nunca pensei que houvesse algumas interferências enquanto pintava, mas mais tarde comecei a admirar alguns surrealistas com quem tomei amizade. desde; Luiz Morgadinho, Cruzeiro seixas; Hélio Cunha, e Júlio Pomar. São artistas que aprecio entre muitos outros, do passado; Dali é o ícone, qualquer um de nós não fica indiferente à sua excentricidade, e criatividade.
Se fui instigado!? Não sei, sei que consigo ser o Saramago insólito dentro dos surrealistas, com um estilo inconfundível.
Para se ser artista plástico, quais são as habilidades fundamentais que considera necessárias no cenário atual das artes?
Estamos no século 21 onde tudo parece acontecer a 100 à hora… penso que não é fácil sobreviver só das artes plásticas, temos que ser mesmo muito criativos, originais criar o um estilo próprio, mas isso não é de um dia para outro, acontece com muito compromisso à arte, uma luta diária, e muita sorte…(risos)
Qual foi o momento mais marcante da sua carreira artística até agora?
Provavelmente esses momentos aconteceram quando vivi na suíça e em Itália, tinha exposto ao lado grande artistas e fiz a minha primeira VENDA em galeria. Também porque tinha pintado um desenho com os dedos e em pequeno formato e nunca pensei vende-lo… (risos)
Comprei com esse dinheiro o meu primeiro cavalete de rua, daí ter-me marcado para sempre.
Há quem o considere o “Dali Português”. Porque é um artista excêntrico e provocador ou porque as suas pinturas se inserem no surrealismo, ou todas? Sente-o como um elogio?
Há quem veja loucura na minha obra mais intimista. A minha arte tem que provocar quem vê, quero que as pessoas sintam admiração ou recusa. A arte é isso mesmo, uma forma de transmitir mensagens, sentimentos. o quadro tem que te puxar para dentro, essa viagem consegue-se quando se é sensível, tal como com uma peça de teatro…
Para mim é um elogio ser considerado um Dali português, sinal que há quem aprecie o meu surrealismo. Para mim, o que pinto é uma arte que considero de culto para “colecionadores” .
Fascinou-se pela arte de pintar, de desenhar e aos 16 anos partiu para a Suíça como pintor de Rua. A rua é um grande palco para os artistas. Pode falar um pouco desta sua experiência de “atuar” debaixo de céu?
Pintar na Rua deu-me alguma aprendizagem rápida…desenhar sem redes…ter à minha volta 30 a 50 pessoas e ter de dar o meu melhor. Como artista cresce-se muito rápido e também como pessoa. O engraçado nisto tudo é que, no momento em que pego no lápis, o tempo pára, … no momento da assinatura chegam os aplausos e aí cai-me a ficha.
Um amigo de infância considera-o “um grande pintor que consegue fazer maravilhas com as mãos”. Pode explicar porque pinta com as próprias mãos?
Eu sempre gostei de sentir a tela e as tintas, sentir-me como se a tela e eu fossemos um só.
Ainda hoje gosto de tocar nos trabalhos, há ali muita história, seja nas minhas pinturas ou noutras. Por vezes não consigo segurar o pincel e pinto com os dedos, é uma mistura de situações.
A Câmara de Mação editou o livro “Carlos Saramago… de Mação para o Mundo”. O que sentiu quando foi presenteado com esta homenagem? De que trata este seu livro?
Quando me foi feito o convite pela Câmara Municipal de Mação fiquei grato, pois em tempo algum, pensei que pudesse acontecer algo do género. Acaba por ser o reconhecimento da terra onde vivo. O livro foi pensado como se de um catálogo se tratasse, onde aparecem referências de trabalhos antigos e do percurso até hoje. Tem também alguns textos, opiniões de amigos e conhecidos sobre a minha obra.
Onde cria as suas obras? Tem um atelier próprio?
Eu pinto em casa, num anexo de 3×3 m, um pequeno quarto e, por vezes, utilizo a sala para grandes dimensões. O atelier é onde eu quiser!
Até onde “viaja dentro de si” quando está no processo criativo? Que emoções se soltam nesse processo?
É um percurso lento, quase que não dou por mim, mas quando estou lá… essas emoções aparecem e pipocam dentro de mim. Arrisco a dizer que é uma pesquisa interior. Muitas vezes sai algo que me surpreende, por vezes uma música que faz sorrir ou chorar, ….tudo flui facilmente comigo, sou um pintor de sentimentos, a arte é o meu respirar .
Qual o trabalho mais desafiador que já produziu? E o que gostaria ainda de fazer?
Eu pintei uns painéis de azulejos enormes, foi algo completamente diferente do que fazia, foi desafiador e trabalhoso todo o processo. No futuro quero pintar um trabalho que sinta me realizado a minha Obra de arte.
Pode dizer-se que o desenho nasceu consigo, foi um sonho de menino/rapaz que se realizou? Em que época realizou as suas primeiras experiências como artista plástico?
Eu gostava muito desenhar, mas até os meus 18 /20 anos nunca pensei em ser pintor. Sentia que o importante era fazer algo que gostasse, também não podia fazer mais nada (risos)
Quando comecei a expor senti necessidade de criar, experimentar novas técnicas. É um processo que vai acontecendo, quando não se procura o sucesso.
O que importa é a arte, produzir, estar em sintonia com a vida.
Enquanto artista plástico realizou diversas exposições. Ainda se lembra da sua primeira apresentação? Qual a que o marcou mais e o motivo?
Já não me recordo muito bem, foram tantas! A que mais me marcou foi uma organizada pelo professor e pintor Massimo Esposito, em Mação, era uma coletiva Carlos & Carlos. Tínhamos os dois a mesma doença e mesmo talento. foi uma experiência marcante, infelizmente ele já não está entre nós.
Como vê o futuro das artes? E o momento cultural atual?
O futuro das artes parece-me surreal, estamos todos à espera de mudanças … e essas mudanças estão tardias. A nível nacional quase ninguém olha a arte como investimento com rendimento a longo prazo, mas ainda não entendi muito bem qual será a solução. Não penso muito nisso, o meu caminho é produzir, mas as vendas fazem falta quando se vive da arte, falo por experiência própria. Vivemos num país que não se dá o devido valor às artes. As obras que se vendem nas galerias são uns amigos que compram … mesmo assim, muita coisa tem mudado e as pessoas tem saído da sua zona de conforto e visitam as exposições isso agrada-me. O que falta mesmo é quem as compre.
O que gostaria de dizer a um jovem aspirante a artista plástico?
Que sinta a arte, que se inspire, que beba toda esta informação que temos hoje e seja criativo e original. Este é um trabalho que tem de ser diário.
Só com muito esforço se consegue encontrar um estilo original.
Terminamos com um testemunho sobre o artista plástico
o que dizem do artista plástico :
“A sua produção artística espraia-se por diferentes estilos, vagueando pelo surrealismo, retratos, caricaturas, óleos, acrílicos, aguarelas e azulejos, divulgando a sua arte em vários locais dentro e fora do país. Uma arte que espelha os seus sentimentos e ideias. Uma arte intensa. É quase impossível olhar para as suas obras e ficar indiferente, e não se sentir confuso e simultaneamente ébrio com o seu trabalho. As suas obras desafiam-nos a olhar uma, duas, três vezes e imaginar algo que nunca será evidente para um observador desatento…”
Jorge Taylor
Página do Facebook de Carlos Saramago
Veja aqui uma pequena galeria de obras de Carlos Saramago
Currículo resumido/Exposições
2 comentários em “À conversa com Carlos Saramago… artista plástico”