Ao observar as obras de Expedito Dalmeida, conseguimos sentir as emoções e o espírito de liberdade.
A abordagem holística está presente na preciosidade das suas obras e das suas palavras!
É possível situar os primórdios da minha prática artística na vasta terra angolana que me viu nascer e influenciará indelevelmente pela vida toda.
“No início era o verbo”…
Também eu comecei, por volta dos 10 anos de idade, pela escrita de poesia: fonte primeva de todos os rios e mares…
E, ainda hoje, mais do que artista, me revejo como poeta.
Mais tarde, acrescentei a prática da chamada fotografia de autor, na qual me embrenhei profundamente, sobretudo no largo tempo em que vivi no Alentejo. Esta zona do continente português, onde a amplidão do espaço natural eu mais associo ao infinito africano. Por ela calcorreei o país todo e outras nações estrangeiras, tendo estabelecido várias parcerias artísticas com escritores e poetas.
Depois, então, abracei a prática da pintura, incluindo desenho, técnica mista, colagens (collages) e vídeo.
Na maioria das vezes, recorro ao uso do acrílico, mas também à tinta da China, aguarela, carvão, marcadores e spray. Quase sempre tenho como suporte o papel, por razões de logística e melhor adequação ao meu método de produção das obras.
Quanto ao meu processo criativo, pode-se dizer que é muito pouco disciplinado ou disciplinável e até mesmo imprevisível na maior parte do tempo.
Embora aconteça com frequência durante o período noturno e sob a influência marcante dos principais atores da natureza: a chuva e o vento, as nuvens, a lua e o mar, as árvores e as plantas.
Quando pinto tento abstrair-me de tudo o que vi ou ouvi, fiz ou aprendi.
Como se fosse uma criança de tenra idade, sabendo que tal é impossível de alcançar, concentrado e recetivo, no momento único, em que acontece o mistério da criação. Nesse tempo sublime, um artista aspira a ser “Deus”!
Em termos mais concretos…
No geral, privilegio a abstração em detrimento da figuração. O próprio gesto espontâneo em relação à forma elaborada. A curva mais do que a recta e a emoção é o motor com que tudo se inicia e desenvolve.
Sonho meu…
Gostava que as obras de arte falassem por si próprias e fossem ouvidas, sem necessidade de perguntas ou explicações, críticas ou curadorias.
Partilho da opinião que “as obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar – apenas o amor as poderá captar, conservar e ser justo em relação a elas.” Rainer Maria Rilke
E, de igual modo indo completamente contra o pensamento dominante, no chamado mundo da arte de hoje em dia, acho mesmo que, em primeira e última instância, a prática artística deve aspirar a ser capaz de tornar visível o invisível e este apenas se poderá compreender com a ajuda preciosa do coração.
Agradecemos a Expedito Dalmeida pela sua brilhante colaboração!