Os comboios, inspiraram o fotógrafo Bruno César, mas os comboios também inspiraram grandes nomes da poesia portuguesa. No dia mundial da fotografia (19 de agosto), com a reportagem fotográfica de Bruno César queremos fazer um tributo ao fotógrafo e ao poeta Fernando Pessoa pois, cada um, com a sua arte, nos mostra que os pensamentos podem tomar forma e proporcionar a oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo.
No meu verso canto comboios (Fernando Pessoa)
![estação comboios](https://hucilluc.blog/wp-content/uploads/2021/08/Estacao-comboio.jpg)
![relógio na estação comboios](https://hucilluc.blog/wp-content/uploads/2021/08/Rel.jpg)
![linha comboio](https://hucilluc.blog/wp-content/uploads/2021/08/linha-comboio.jpg)
No meu verso canto comboios
No meu verso canto comboios, canto automóveis, canto vapores,
Mas no meu verso, por mais que o ice, há só ritmos e ideias,
Não há ferro, aço, rodas, não há madeiras, nem cordas,
Não há a realidade da pedra mais nula da rua,
Da pedra que por acaso ninguém olha ao pisar
Mas que pode ser olhada, pegada na mão, pisada,
E os meus versos são como ideias que podem não ser compreendidas.
O que eu quero não é cantar o ferro: é o ferro.
O que eu penso é dar só a vida do aço — e não o aço —
O que me enfurece em todas as emoções da inteligência
É não trocar o meu ritmo que imita a água cantante
Pelo frescor real da água tocando-me nas mãos,
Pelo som visível do rio onde posso entrar e molhar-me,
Que pode deixar o meu fato a escorrer,
Onde me posso afogar, se quiser,
Que tem a divindade natural de estar ali sem literatura.
Merda! Mil vezes merda para tudo o que eu não posso fazer.
Que tudo, Walt — […] ? — que é tudo, tudo, tudo?
Todos os raios partam a falta que nos faz não ser Deus
Para ter poemas escritos a Universo e a Realidades por nossa carne
E ter ideias-coisas e o pensamento Infinito!
Para ter estrelas reais dentro do meu pensamento-ser
Nomes-números nos confins da minha emoção-a-Terra.
As cores, os comboios alinhados (fotografia de Bruno César) e o poema “No comboio descente” (Fernando Pessoa)
No comboio descendente
No comboio descendente
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada —
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada…
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela —
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela…
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não —
No comboio descendente
De Palmela a Portimão…
Saiba mais sobre Bruno César em: À conversa com Bruno César Fotógrafo
Reportagens fotográficas de Bruno César:
Pormenores – Reportagem Fotográfica de Bruno César
Reportagem fotográfica de Bruno César – A Estátua
Castanheiros – Reportagem fotográfica de Bruno César
Jardim das Tílias na Cidade do Fundão
Sítios de Bruno César:
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