O Mar tem sido tema de vários artigos e é, sem dúvida, fonte de inspiração para vários artistas como é o caso do artista plástico Nuno Confraria com quem já temos conversado. O Mar faz parte da história do povo português, molda os seus costumes e tem parte significativa na economia assim, nesta entrevista, falámos com o artista plástico Nuno Confraria para saber mais sobre as suas obras com inspiração no mar, sobre a sua forma de viver a arte e o seu ponto de vista da arte no contexto do país.
Ainda sobre o tema do Mar, visite no Museu da Marinha em Belém, Lisboa, a exposição coletiva, imperdível que pode apreciar até 19 de outubro 2021. No blog pode ler a nossa breve reportagem sobre esta exposição em: “Arte e Mar” uma exposição a não perder no Museu da Marinha
Vives perto do mar e em muitas das tuas obras vemos refletido o mar e a faina em torno desse elemento. Consideras que a proximidade do mar molda a personalidade coletiva e individual de um povo? Para ti, o que tem o mar de especial e que te inspira nas obras que crias?
Começo por transcrever um poema de uma grande amiga minha, Fátima Santos, no qual identifico na perfeição o sentimento que me liga ao mar:
“Despedida
Prendo-te na retina, mar
Levo no ouvido o teu sussurrar
Sabendo que sempre irei regressar
Porque nem a morte me vai afastar
Em ti permanecerá a minh’alma
Em mim a tua maresia que me acalma.”
Não posso falar por um todo, mas no meu caso em particular, o mar transmite-me uma paz e tranquilidade fundamentais para enfrentar a exigência da concepção de uma obra de Arte.
Noutras obras, vemos refletida a história e a cultura portuguesa. Como artista tens orgulho de ser português? Para ti, qual a obra que melhor reflete a tua visão da história portuguesa?
Posso dizer que sou um nacionalista puro, acredito em nós enquanto povo e aprecio muito os nossos hábitos e tradições. Pessoalmente acho que, de uma forma geral, não se valoriza devidamente o nosso património. Quando exploro temas da nossa cultura, pretendo recordar, enaltecer e perpetuar a nossa riqueza.
A história Portuguesa é uma temática que ainda não abordei por um conjunto de obras. Retratei este tema pontualmente, por acontecimentos muito concretos. Destaco “Fernão de Magalhães” por ocasião da celebração dos 500 anos da primeira Circum-Navegação, da sua importância para o conhecimento do globo terrestre, para além da total redefinição dos caminhos marítimos à época, “Rumos” numa perspectiva mais geral da época dos Descobrimentos e mais recentemente “25 de Abril”.
Tens um estilo muito próprio de representar a realidade que vês e sentes, seguindo uma corrente o cubismo. Na tua opinião faz sentido “classificar” a arte nas suas várias manifestações, em termos de arte contemporânea, em tendências, em correntes ou vanguardas?
A evolução e conhecimento da sociedade levou a que se sinta a necessidade de demarcar e catalogar todo e qualquer objecto de estudo, não é de estranhar que a Arte siga este princípio. Muito francamente, não considero despropositado o facto dos vários estilos de pintura se encontrarem devidamente classificados, as fronteiras que separam estes mesmos estilos é que considero, muitas vezes, ambíguas.
Consideras que a cultura e em especial a arte plástica, tem um papel fundamental na criação de uma sociedade mais aberta?
Sem dúvida, mais aberta e introspectiva. A Arte tem a capacidade de estabelecer uma ligação com o seu público, criar um canal único de comunicação que vai muito para além da simples admiração da obra em si. A Arte desperta sentimentos e memórias de cada indivíduo nas relações com a sociedade, mas principalmente com a sua própria identidade.
Na tua opinião, em Portugal existem suficientes espaços, museus e outros locais, para divulgação pública de arte nas suas várias manifestações?
Em algumas zonas do país é notório o défice destes espaços, mas no conjunto, julgo que estamos relativamente bem servidos de locais, particulares ou institucionais, para a realização de exposições de Arte. Pelo contacto que vou tendo com os decisores locais, verifico que continua a aposta em dotar, ou reclassificar, alguns espaços de requisitos praticáveis de mostras de Arte.
A Arte que se realiza no espaço geográfico do poder local é devidamente reconhecido e público. Na minha opinião este conhecimento deveria ser inventariado e reunido numa plataforma nacional, com gestão central pelo próprio Ministério da Cultura.
E os incentivos aos artistas são os adequados?
Não, o grande peso continua do lado dos artistas, subsiste um investimento pessoal bastante considerável nesta vertente cultural.
A Arte que se realiza no espaço geográfico do poder local é devidamente reconhecido e público. Na minha opinião este conhecimento deveria ser inventariado e reunido numa plataforma nacional, com gestão central pelo próprio Ministério da Cultura.
Temos artistas fabulosos em Portugal, cujas potencialidades deveriam ser estudadas, bem enquadradas e promovidas de uma forma integrada e coerente, tanto a nível nacional como internacional.
Que outros interesses ou ocupações para além do trabalho artístico tens?
As minhas obras são realizadas a Pastel Seco, sendo uma técnica bastante exigente dado que é executada com os dedos, e atendendo ao nível de detalhe evidenciado pelos meus trabalhos, a Arte ocupa o meu tempo na íntegra, sendo a minha única ocupação do ponto de vista profissional.
De resto considero-me uma pessoa perfeitamente comum, com interesses pessoais que considero vulgares. No entanto revelo uma apetência muito particular por bricolage, fruto da minha necessidade constante de criar algo de novo.
A arte tem influenciado ou fez-te alterar os teus valores estéticos?
Não, a essência dos meus sentidos continua a mesma, diria antes que a Arte tem apurado os meus valores estéticos.
Da tua carreira como artista qual foi o momento mais marcante?
São tantos os bons momentos que marcam presença na minha memória. O sentimento de realização pessoal, a satisfação de partilhar o meu trabalho por tantos locais, o privilégio de privar com tantos e bons artistas e respectivas obras, as novas e algumas sinceras amizades que perduram no tempo. São tais os momentos marcantes na minha carreira, que sou incapaz de escolher um.
Tens por hábito querer saber quem é o comprador, ou qual o destino final da obra? Ou existe um desapego natural do autor face à sua obra?
Uma obra não é mais do que uma continuidade de cada artista, o materializar da sua própria pessoa, da sua personalidade, do seu sentimento, da sua visão do ambiente que o rodeia. É impossível um artista verdadeiro, olhar para o resultado do seu trabalho com a frieza de uma mera mercadoria.
Num mundo cada vez mais tecnológico, como vês a influencia da tecnologia na criação de arte e na sua divulgação ao público?
Actualmente a tecnologia é imprescindível não só para a Arte, mas para todas as áreas de uma forma geral. No meu caso em particular, cada tema envolve uma profunda pesquisa para me inteirar o melhor possível de todos os motivos que pretendo trabalhar.
No caso da divulgação da Arte, as redes sociais são fundamentais, não só pelo tratamento e disponibilização da informação em tempo real, como também pelo alcance a nível planetário.
Com que galerias ou artistas trabalhas? Quais as exposições futuras em que vais participar?
Actualmente trabalho com várias galerias, tais como a NIMBA ART GALLERY, WELCOME TO ART, ARCA GALLERY PORTUGAL, em Lisboa e com a plataforma online SINGULART sediada em Paris.
Para além destas galerias participo em diferentes exposições, individuais e colectivas, em espaços de índole estatal. Tenho programadas exposições até ao final do ano, que serão divulgadas em tempo oportuno.
De momento participo em duas exposições colectivas. “A Astrologia” foi a obra que escolhi para integrar a “Art’Oeste 2021”, exposição esta que actualmente se encontra patente no Posto de Turismo de Fátima, até dia 7 de Novembro. “Ciências do Mar” representa-me na exposição “Arte e Mar” em exibição no Museu da Marinha, em Lisboa, até dia 19 de Outubro.
Caso seja possível ao grande público, não deixem de visitar estas duas exposições.
Quanto à Hucilluc, agradeço o importante apoio, divulgação e promoção da nossa Arte, um grande bem-haja por esta entrevista e desejo todas as felicidades na continuação do vosso trabalho.
A equipa do blog Hucilluc agradece a Nuno Confraria a disponibilidade para mais esta entrevista desejando a continuidade dos maiores sucessos e que a sua arte continue a encantar-nos.
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