“Cisma” – Um texto de Vítor Encarnação que nos fala dos fantasmas que trazemos dentro de nós e não nos deixam viver em pleno. Leia este texto e reflicta sobre a necessidade de se libertar dos seus fantasmas.
“Eu sou dono de fantasmas, tenho muitos, tantos que lhes perdi a conta, estão dentro dos espelhos, estão dentro do tempo, estão dentro da pele, fazem-me cair o coração aos pés, estão dentro do vazio da boca, atam-me a língua ao silêncio, furam-me os olhos, não me deixam ver … “
Cisma
O meu maior obstáculo sou eu mesmo, dizia o homem com as mãos na cabeça, faço criação de fantasmas, engordo-os dentro de mim, crescem, crescem, e quando os quero matar, quando preciso de os matar, quando para viver preciso de os matar, eles não deixam, os fantasmas não se deixam matar assim tão facilmente, os fantasmas vivem da morte lenta do seu dono, os fantasmas mordem na mão do dono. Eu sou dono de fantasmas, tenho muitos, tantos que lhes perdi a conta, estão dentro dos espelhos, estão dentro do tempo, estão dentro da pele, fazem-me cair o coração aos pés, estão dentro do vazio da boca, atam-me a língua ao silêncio, furam-me os olhos, não me deixam ver, os fantasmas emudecem os seus donos, os fantasmas cegam os seus donos, não há dono de fantasmas que não seja mudo e cego. Desarrumam-me a vida, dizem-me para ter medo e eu tenho, brincam comigo à beira de abismos. Sei que está tudo dentro da cabeça, mas é lá que existem os maiores abismos, é dentro da cabeça que a minha vontade esmorece e as minhas pernas fraquejam.
Os fantasmas comem-me por dentro, durmo com eles todas as noites, enrolamo-nos no frio da cama e pouco durmo e se por acaso durmo, se por acaso descanso, sonho com fantasmas. Os fantasmas são uma alcateia de lobos criados por uma ovelha. Eu sou uma ovelha tomando conta de lobos.
Também pode ler:
O Livro do Tempo, Vítor Encarnação
Contentamento, Vítor Encarnação
Entrevista de Vítor Encarnação
2 comentários em ““Cisma” por Vítor Encarnação”