Labirinto, de Vítor Encarnação

 

Labirinto, de Vítor Encarnação – escritor, presidente da Assembleia Geral da Associação de Escritores do Alentejo – ASSESTA, professor no Agrupamento de Escolas de Ourique é cronista permanente nos jornais Diário do Alentejo e Correio Alentejo, é acima de tudo, um homem que entende a complexidade da alma humana, as emoções e os sentimentos e nos encanta com as suas palavras. Amavelmente, disponibilizou-nos as suas crónicas para partilha com os nossos leitores. Siga-nos e não perca os belíssimos textos de Vítor Encarnação que iremos publicar.

 

Fechados a sete chaves, há sítios onde ninguém consegue chegar.

Por mais que se tente e por mais que nós deixemos, solícitos e solidários, há um labirinto ali na verdadeira entrada de nós que faz perder os outros.

 

 

Labirinto

Quando olhamos para o outro não vemos quase nada. Ou melhor, vemos a superfície, vemos o rosto, os olhos, o andar, as expressões, as atitudes.
E presumimos que sabemos tudo sobre ele e o que vai dentro dele, o que pensa, o que chora, o que ri, o que deseja.
Mas não. Não é assim. Há sempre mais do que aquilo que parece. Há mais para lá da capa, quanto muito entramos no preâmbulo, com um pouco de sorte na introdução, com um golpe de génio temos acesso ao primeiro capítulo.
O conhecimento das entranhas do outro requer um mestrado em multiplicidade e uma tese de doutoramento em labirintos. Coisa para duas vidas consagradas a Freud. Só nós nos conhecemos a nós próprios. Ou melhor, apesar da incompetência em assuntos existenciais ainda somos aqueles que melhor se conseguem aproximar de nós. Por vezes, num assomo de clarividência e de coragem, conseguimos alcançar a génese daquilo que somos e do material de que somos feitos.
E umas vezes voltamos felizes e outras vezes não. A descoberta nem sempre é boa e motivadora de orgulho. Fechados a sete chaves, há sítios onde ninguém consegue chegar. Por mais que se tente e por mais que nós deixemos, solícitos e solidários, há um labirinto ali na verdadeira entrada de nós que faz perder os outros. São palcos de mil peças em simultâneo, personagens bizarras lambendo feridas, pássaros com raízes nos dorsos em vez de asas, caminhos cruzados, decisões abraçadas aos seus contrários, vazios que andam à roda, à roda, à roda.

 

O pior labirinto é aquele que é construído por nós. Fazemos dele um ninho de perdição. Palha a palha, pena a pena. Os dédalos exigem uma enorme capacidade de raciocínio para se sair deles. Quando tentamos, a emoção atravessa-se no caminho, despista-nos, ilude-nos e condena-nos a lá ficar para sempre.

O que nos conforta é que até os labirintos têm sítios onde nós gostamos de estar. Sozinhos, é claro.

 

 

 

 

 

Leia aqui a entrevista a Victor Encarnação

Nota Biográfica -Vítor encarnação

 

 

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